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VELHOS TEMPOS BELOS DIAS...

Jerdivan N. de Araújo (Foto)
Jerdivan Nóbrega de Araujo*
Se um dia eu voltar a Pombal, digo minha alma, pois meu corpo volta sempre, algumas coisas, fatos e lugares teriam que está a minha espera.
Algo assim, como ouvir os dados rolarem em uma tábua de ludo nas muitas sombras das algarobas da Rua Nova a Rua de Baixo. Ouvir o sino da Matriz ou acompanhar enterros nos passos trôpegos de Padre Andrada. Sorrir de uma piada de seu Raulino ou rever pessoas de nomes esquisitos como: Nego Panela, Pedro Colorau, Luzia Carne Assada, Pedro Farofa e Zefa do Coentro, Chico Caniço, chica caneca, Rita Piranha, Estelita de Valério; Mané de Bomba, Zé Babão, Antônio Ajado, Zé Gago, João Velho, Mosquito, Arrupiado, Tumbaca, Butiginha, Mané Rouco, Catita e tantos outros.
O São Cristovam da minha volta teria Neto Antártica, Mosquito, Almivam, Admilson e Baú, Nego Tostão, Vandeca, Nego Breu, Sabonete, Nildo, Vicentão, Negão de Iaiá, Nego Gato, Fernando Pandeiro e Chico Figurinha. Já seria um São Cristóvam do tempo das fotografias coloridas, mas, também, ainda seria uma Pombal de se voltar do “Pereirão” pela poeirenta Rua da Rodagem, discutindo o “CANAL 100”, exibido na tela do Cine Lux. Canal 100 dos clássicos Flamengo e Fluminense ou Santos e Palmeiras, que muitas das vezes era bem melhor do que o filme exibido. Filme bom era o faroeste, mas, as matinês de domingos teriam que ser sempre Zorro ou Tarzan. E sorvete bom era na sorveteria de Bernardo.
Quando eu voltar ouviremos as vozes de Evilasio Junqueira e de Rosil de Nega de Nenén Ribeiro na difusora do Lord Amplificador, em uma tarde preguiçosa de domingo, onde se lamentava a chegada da segunda feira, mas, ainda se apreciava o cair do sol e a chegada dos primeiros casais a rodopiar em volta da Praça Getulio Vargas e do Centenário, depois de uma longa missa na Matriz, celebrada por Padre Sólon.
Voltarei no dia em que as mães da minha cidade não tenham que lamentar a ausência de Georges Hamiltons, Jansses, Gandis, Vigós, Sivucas, Dácios, Keneves, Lairtons, Tiões e tantos outros que mais cedo partiram, deixando em salas de estar amareladas fotografias.
Loja ainda seria de Pio Caetano, Antonio de Cota. Zé Gomes e Antonio Gomes. Padaria de seu Napoleão, Antonio Barbosa e Adauto. Camisaria de Tiquinho Bar de Cabina e dona Cessinha, seu Junqueira, Curinha e de Maria de Biró. Bodega de Toinho e dona Dulce, de Maria e Severino Pedro. Barraco era de Ninito, Zé de Lau e Escurinho e barbearia ainda teria que ser a de seu Gervasio, Antonio Guerra e Nouvino.
Uma cidade que caminhasse desacelerada e sem tanta pressa, pois pressa não leva os adultos a lugar algum.
Vez por outra alguém levando animais para matar a sede nas águas fresca do Piancó, vez por outra alguém discutindo nas calçadas de casa suas preferências políticas, vez por outra o silencio do brilho da lua, quebrado pela deseducada e gostosa risadas de Chiquinho de Bembem ao final de mais uma anedota contada por seu Meira . Seria algo assim como a tarde do chazinho com biscoito na casa de Antonio Rocha, o ensaio do desfile do sete de setembro e um carro de som anunciando a chegada de um Circo sem a menor graça na cidade.
Um louco de nome Mané doido ou a deselegância de “Carne Assada”, seguida por sua cadela Jandaira, pela ruas quente da minha terra. Doce bom, que se troca por garrafa e meia garrafa, era do “Galego do beiço lascado”: quebra queixo e doce de talo de mamão que ele vendia por doce de batata e a arte dos balaios e cestos de vime do “gazo”.
Condenados a fazer o que não queremos, a andar nas ruas que não são nossas, cumprimentar amigos que não são nossos, quero, na minha volta, dona Livinha me perguntando por Licurgo e Alexandro. Leleca, Olenca e Fátima de Pedrão folheando uma revista de “Artista da TV” ali na banca de revista de Escurinho. Os amigos de todas as classes sociais e de todos os bairros, chegando sem levar em consideração quais destes teriam, ou não a mesa posta ao voltar para casa: Candelo, Pacote, Espeto, Genário, Odilon, Dudé, Paubeto, Carrapicho, Marcio, Saburá, Legal, Galego, Rosiel, Pedrinho de Pedão, João Maria, Cláudio, Vernekc, Cleber Bandeira, Paulo Abrantes, Alcides, Ana Claro, Fátima de Raimundo de Castro e as serenatas de Chico de Maroquinha nas madrugadas de Pombal.
Nós, adolescente, vendo e vivendo as mesmas paisagens da nossa cidade e, por fim, um dia, tiveram que construir suas vidas nos mais diversos lugares, porém, tem hoje as mesmas historias dos mesmos lugares e, talvez, cruzem os seus passos em algum lugar deste pais e não mais se reconheçam.
Se um dia eu voltar a Pombal, será para parar os relógios da Coluna da Hora, estancar o tempo em cada minuto que distância alunos e mestres. Seriam para colorir a cidade como colorido em leque da cauda do pavão de Dr. Antonio Pedro que numa tarde de domingo virou tira gosto na panela de Crocodilo.
Às vezes acho que não era assim, outras vezes quero voltar a esse tempo, fazer algo que deixei fazer, algo o como salvar a cidade das garras do dragão, ou simplesmente, deitar na “pedra da estação”, numa noite fria de verão, traçar planos de adultos e contar estrelas ou simplesmente lê Peter Pan..
* Escritor Pombalense.
VELHOS TEMPOS BELOS DIAS... VELHOS TEMPOS BELOS DIAS... Reviewed by Clemildo Brunet on 5/02/2010 07:03:00 PM Rating: 5

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