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SER POMBALENSE...

Prof° F. Vieira (foto)
Por Francisco Vieira*

Ser pombalense é antes de tudo nascer em Pombal, sob a égide da fé e a devoção a Nossa Senhora do Rosário, lugar que apresenta três datas importantes: fundação, emancipação política e elevação a cidade, por isso, mais presente na história

Ser filho de Pombal é contemplar a graciosidade do Centro Histórico formado de magistrais praças, casarões e igrejas seculares. Um cartão-postal constituído pelas praças Getúlio Vargas e Centenário, Cadeia Velha, Escola João da Mata, Pombal Ideal Clube e as Igrejas de Nossa Senhora do Bom Sucesso e Rosário, testemunhas da nossa crença. Todo esse acervo de monumentos hoje tombados pelo patrimônio histórico esboça importante potencial arquitetônico.

Ser de Pombal é ser batizado pelo Padre Valeriano, Vicente Freitas, Oriel, Andrade, Luiz Gualberto e Sólon. É nascer de parto normal sob os cuidados de parteiras como: Maloura, Liosa, Berenice, Maria José ou nos casos mais delicados com a assistência de Dr. Janduy, Isaias Silva, Avelino, Azuil e Atêncio.

Ser pombalense é ostentar o orgulho de ser da terra de Rui e Janduy Carneiro – senador por quatro mandatos consecutivos – portanto, fato inédito na política nacional. E ainda de Celso Furtado, Leandro Gomes de Barros, Belarmino de França, Cessa Lacerda (poetisa), Arruda Câmara, Seu Chico, Wilson Seixas, Cel. Arruda e até o cangaceiro Chico Pereira. É inserido nestas lembranças destacar os Desembargadores Antonio Elias de Queiroga, Plínio Leite Fontes e Rafael Carneiro Arnaud - filhos de Pombal - terem honrosamente ocupado a Presidência do Tribunal de Justiça da Paraíba, cargo mais importante da magistratura estadual. O fato além de inédito é mais que uma honraria, um privilégio para uma cidadezinha do interior.

Ser filho de Pombal é pertencer às famílias “pandeiro” e “maniçoba”, as maiores e mais tradicionais. Ou ser Queiroga, Pereira, Carneiro, Vieira, Arnaud, Olímpio, Arruda, Bezerra, Medeiros, Assis, Lacerda, Daniel, Benigno-Cardoso, Tavares e tantas outras de igual valia que fizeram e continuam fazendo a história da terrinha.

Ser de Pombal é ser moleque travesso. É menino pés no chão e descamisado correr, sem cansar, todos os dias e o dia todo, ruas e vielas da cidade. É no vigor da tenra idade jogar bola de meia, castanha, bola de gude e pinhão. Brincar de anel, cobra-cega e peinha-queimada ou puxar os carrinhos de madeira muito bem confeccionados por “Seu Zé Dias”. É escondido dos pais banhar-se nas águas doces do Rio Piancó, mesmo correndo o risco de uma coça.

O pombalense é aquele que temendo as conseqüências da seca implora a São José pelo inverno e depois reclama da enchente.

Ser filho de Pombal é lembrar o Lord Amplificador e A Voz da Cidade, serviços de alto-falantes que deram início a história da radiofonia na região sob a tutela de Clemildo Brunet, hoje uma referência na comunicação. De fato é impossível esquecer o programa Brotolândia e os últimos lançamentos musicais, seguido de notícias e patrocinados pelo Macarrão Martoci, Café Dácio, Lojas Paulista e o crediário tentação, Padaria Vitória, Movelaria São José e os colchões oreves e outros que faziam o comércio local.

Ser de Pombal é rir da irreverência de “Seu João Lindolfo”, com suas respostas de efeito e igualmente dar gargalhadas com as histórias de Saturnino Santana, Pedro Corisco e Zezinho Sapateiro. É divertir-se com as peripécias de Mané Doido e correr se esquivando das investidas de Barrão, Açoite, Expedito e outros igualmente desajuizados.

Ser filho de Pombal é torcer pelo São Cristovão ou Pombal Esporte Clube no Vicente de Paula Leite, campo de terra batida, sem grama, traves de madeira, cercado de arame e aveloz.

Ser pombalense é ver famílias reunidas nas calçadas, noite adentro. É colocar os assuntos em dia, que vão desde política, economia, negócios, agricultura, a seca, o inverno, mentiras de pescadores, aventuras de caçadores e bravuras de cangaceiros. Na verdade o tema preferido era a vida alheia. Fofocar era a melhor conversa. Assim, vez por outra, a confraria retornava ao assunto preferido trazendo mais uma vítima para o centro das conversações.

Ser de Pombal é esperar ansioso a Festa do Rosário, como se ela fosse a última. É reencontrar amigos ausentes. Relembrar o passado, atualizar os assuntos e divertir-se nas diversas opções oferecidas. É curtir música romântica no Parque Maia, anunciada na voz grave e melodiosa de Luis e ouvir declarações amorosas do tipo: “alguém oferece a outro alguém como prova de amor e carinho”. É, sobretudo, acompanhar a procissão do rosário, descalço, com pedra ou coroa de espinhos na cabeça. É seguir contrito numa expressão de fé e gratidão pela graça alcançada. É também deixar se levar pelo encantamento dos Congos, Reisados e Pontões destacando o octogenário Elias Daniel, tocando com maestria seu fole de oito baixos.

Ser filho de Pombal é sentir a magia contagiante de uma serenata madrugada a fio. De certo, uma manifestação romântica e espontânea de jovens envoltos pela paixão extravasando o incontido sentimento do amor. Oh! Quão bom e agradável era ouvir “Pedoca de Deca”, que se fazia acompanhar por sonoros violões dedilhados com por Bideca, Chico de Doura e outros da família. “Espalha”. Que bom despertar sob os acordes de violões plangentes. Era a família “in concert”.

Ser de Pombal é relembrar com saudade o Cine Lux, Ginásio Diocesano e Escola Normal (Colégio das Freiras), com sua disciplina rigorosa onde saia acima do joelho era nudez. É bate papo de jovens até alta madrugada, junto à estátua de Getúlio Vargas, que em silencio assistia a tudo e nada reclamava. É o passeio no Bar Centenário e Sorveteria Tabajara nas manhãs de sábados. É recordar a semana universitária, vaquejada e festas com Os Águias. É Pombal Ideal Clube, AABB e Jovem Clube e os carnavais na Sede Operária.

Ser pombalense é, com uma pitada de prazer a mais, está imortalizado na canção “Maringá”, obra magistral de Joubert de Carvalho, onde o poeta a pedido do Senador Rui Carneiro exprime em versos melodiosos o êxodo e o sentimento de amor do sertanejo, tornando-se um hino do coração dos seus moradores.

Sou pombalense e não nego meu natural, nem mesmo quando notícia desagradável vira manchete de jornal. Nem assim fujo das origens, pois o filho que nega a maternidade desconhece a si mesmo, portanto não tem história. E, se por acaso tentasse seria em vão. Seguramente não conseguiria apagar o amor que sinto pela terra que me acolheu como filho.

Pombal está para mim assim como o leme para o barco, sem o que estaria a deriva. Aqui nasci, cresci, casei e constitui família; despertei para a vida e para o mundo. Aqui fiz minha história. Vivi bons e maus momentos, tempestades e calmarias. Contudo, alimentei esperanças, superei obstáculos e venci. Em suma, mais alegrias que desgraças.

Por tudo isso Pombal, continuo de ti eterno enamorado. És minha noiva enciumada, por isso me constrange dividi-la com outros. Contudo, ciente de não ser filho único me fortalece saber que outros filhos também te amam lembrando saudosos a Pombal de outrora.

O tempo é dinâmico, não pára. Nesse dinamismo implacável passa deixando marcas que mais tarde serão saudades. Retroagir é impossível, salvo na imaginação. Aí sim, trazemos à tona reminiscências que são relíquias vivas em nossas memórias e por isso eternamente lembradas

Pombal é mais que isso. Descrevê-la é impossível, pois sua história é infinita. Contá-la somente em partes.
Por tudo isso e muito mais se justifica o orgulho de SER POMBALENSE.

Pombal, 29 de outubro de 2010
*Professor, Ex Diretor da Escola Estadual João da Mata, Ex Secretário de Administração Municipal.
SER POMBALENSE... SER POMBALENSE... Reviewed by Clemildo Brunet on 10/29/2010 06:41:00 PM Rating: 5

Um comentário

Blog do Djó disse...

Li com atenção e apreço o texto do Prof. Vieira sobre "ser pombalense" e ali vi a tradução fiel do amor de um filho para com sua terra!

Parabéns professor Vieira pela felicidade das palavras e pelo tom nostálgico do texto que nos faz relembrar tempos áureos que se eternizam nas suas palavras tão bem escritas.

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