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GONZAGUINHA - O COMPOSITOR (II)

Onaldo Queiroga
Onaldo Queiroga*

No ano de 1973, Gonzaguinha lançou o LP intitulado “Comportamento Geral”, cujo carro-chefe era a música de igual título. Com o disco, ele planejou uma temporada de 30 dias de shows batizada de “Os últimos dias”, na casa denominada “Cruzada”, no Rio de Janeiro. Os últimos dias, na verdade, resumiram-se em cinco dias. Em plena efervescência da Ditadura Militar, a temporada não teve êxito, porque, como disse o artista: “Era um tempo difícil, pois quando eu chegava para fazer o show havia um aviso da censura federal, e, então, como eu não podia fazer o show, ia assistir ao de Chico Buarque com o MPB4...”

Suas letras eram sempre recheadas de ironia e possuíam um conteúdo político-social muito forte. Considerando a força da censura, à época, as música tinham, então, que apresentar uma linguagem que tivesse o lado crítico em relação à situação reinante no país, mas de forma que pudesse driblar a censura. Aliás, falando em censura, Gonzaguinha, no Programa ENSAIO, da TV Cultura, gravado em 1990, disse: “A relação com a censura. É uma coisa que a gente nunca vai entender os critérios que passam pela cabeça de uma pessoa que assume essa postura. Eu só me lembro de coisas engraçadas, como ir a censores discutir uma letra, e um deles, de repente, no meio da nossa discussão, olhar para o outro e dizer: “- ou fulano, essa palavra aqui não pode não, né? Eu, então, intervim: “- Não, não responde, não responde, eu pego o lápis e eu mesmo veto, deixa que eu mesmo veto, tá tudo tranquilo”.
Realmente, ele acreditava nas coisas, lutava por aquilo com que sonhava, tinha problemas com a censura, mas como sempre afirmava: “ - ...eles não queriam, mas a gente fazia, faria como se preciso fosse, meu amor, como eu continuo fazendo, pois na verdade a gente continua lutando no dia-a-dia, por uma qualidade melhor de vida, por um relacionamento melhor entre as pessoas, para acabar com esses desequilíbrios sociais...”

Compôs e cantou a vida, a sua e a do mundo, sangrando, no trem de 1969, no comportamento geral, no galope que sacode a poeira e embalança, embalança, embalança, embalança. Com a perna no mundo, deu seu grito de alerta. “É o que é, o que é, meu irmão?” Lançou o seu ponto de interrogação: “... Diga lá, coração, espere por mim, morena, espere que eu chego já, nesse lindo lago do amor e, então, explode coração e começaria tudo outra vez.”

*Pombalense, Juiz de Direito da 5ª Vara Cívil em João Pessoa - PB.
onaldoqueiroga@oi.com.br
GONZAGUINHA - O COMPOSITOR (II) GONZAGUINHA - O COMPOSITOR (II) Reviewed by Clemildo Brunet on 1/10/2012 06:24:00 AM Rating: 5

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