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O VELHO SOBRADO

Onaldo Queiroga
Onaldo Queiroga*

Pombal! Quando criança, por suas ruas descortinei casarões, sobrados e igrejas antigas, um conjunto arquitetônico que desenhava sua história.

Nele, havia um sobrado encravado na Rua Nova que me chamava atenção. Lembro-me bem de sua imponência, do seu primeiro andar, todo em madeira de lei. Imóvel que, inclusive, já fora residência oficial do meu bisavô André Avelino de Queiroga e que, na minha infância, serviu de moradia para o primo querido Joaquim Assis.

Recordo-me que o tempo passava, as edificações se modernizavam, mas o velho sobrado alí estava, histórico, resistente e imponente.

Histórico, porque fora erguido há mais de cento e cinquenta anos, ainda no Arraial de Piranhas. Ele contemplou toda a evolução da cidade. Os seus traços arquitetônicos registravam a beleza de um tempo chamado passado. Impunha-se por força e consciência de Joaquim Assis, que se negava a entregá-lo à sanha incontrolável de bancos que desejam comprá-lo, apenas para levá-lo ao chão, sem compromisso algum com a história, pois só pretendiam levantar agências com linhas arquitetônicas modernas que enterrariam parte da história de pedra e cal de Pombal.
Quando a noite caía, sentado nos bancos da Praça Getúlio Vargas, próximo à Coluna da Hora, eu ficava a olhar o sobrado. Parecia que ele estava vivo, acordado e que ficava ali a acalentar toda à cidade. Nas suas paredes a resistência e a ansiedade, Como se fossem um solilóquio, deixavam transparecer que indagava a si mesmo: Até quando terei forças para vencer a inconsciência do homem? Quando o sol despedia a madruga, o temor da demolição se renovava.

O tempo passou. Fazia alguns anos que eu não visitava a minha terra. O primo Joaquim não mais habitava o sobrado, nem este velho mundo. Era noite quando retornei à Pombal. Desci pela Rua Nova, da Praça do Centenário. Contemplei a Igreja do Rosário, o Cruzeiro, a Coluna da Hora e lá no fim da rua a Igreja de Nossa Senhora do Bom Sucesso. Voltei, então, o meu olhar para o velho sobrado. Sua parte frontal intacta, pintura nova e bem cuidada. Porém, para minha tristeza, ao olhar para a sua lateral, percebi algo diferente. De antigo, só lhe restava a parte frontal e nada mais. Internamente tudo havia sido demolido, no seu lugar um novo prédio.

Continuei a contemplar a rua Nova. Observei que outros edifícios antigos também não mais habitavam aquele cenário. Desfigurada, aquela rua me fez imaginar: Se os filhos de Ouro Preto começassem a demolir seus casarões e igrejas, para construírem modernos prédios, o que seria daquela cidade? O que seria de Salvador, sem o Pelourinho? Pombal! Cada prédio antigo demolido é um pedaço de sua história enterrada para sempre. É preciso criar a consciência de que um futuro digno só se escreve preservando-se a memória.

*Pombalense e Juiz de Direito da 5ª Vara Cível de João Pessoa - PB

COMENTÁRIO DE VERNECK ABRANTES:
 A arquitetura do casario das ruas de Pombal, até os anos de 1970, era a mais bela do sertão paraibano. O centro histórico urbanístico da nossa cidade, não existe mais, como diz Onaldo: “Pombal! Cada prédio antigo demolido é um pedaço de sua história enterrada para sempre”. Resta o consolo de rever o que o que foi Pombal, em velhas fotografias, amareladas pelo tempo. Parabéns a Onaldo por esse chamamento, consciência e olhar voltado para preservação da nossa memória, isto é, a possível que ainda resta.

Verneck Abrantes

COMENTÁRIO DE MACIEL GONZAGA:
O Patrimônio Histórico possui significado e importância artística, cultural, religiosa, documental para a nossa sociedade. O que foi construído ou produzido pelas sociedades passadas representa uma importante fonte de pesquisa e preservação cultural. Há uma preocupação mundial em preservar os patrimônios históricos da humanidade, através de leis de proteção e restaurações que possibilitam a manutenção das características originais. Cabe ao Poder Legislativo pombalense criar leis que garantam essa preservação.
Associo-me a Verneck Abrantes nos parabéns ao Dr. Onaldo “por esse chamamento, consciência e olhar voltado para preservação da nossa memória, isto é, a possível que ainda resta”.
Maciel Gonzaga de Luna
O VELHO SOBRADO O VELHO SOBRADO Reviewed by Clemildo Brunet on 4/14/2012 05:34:00 AM Rating: 5

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