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Miséria Cultural

Onaldo Queiroga
Onaldo Queiroga*

 Os Titãs poeticamente afirmam: “miséria é miséria, em qualquer canto”. Já João Cabral de Mello Neto também mostrou ao mundo em “Morte e Vida Severina” que há miséria por onde você andar.
Nossos olhos estão acostumados a enxergar uma miséria decorrente da vida vivida por habitantes das favelas, das palafitas; dos sertões nordestinos em tempo de seca; dos bolsões de famintos da Nigéria e
da Angola. 
A Miséria é sinônima da fome e da sede de beber água. Se o nosso olhar correr o mundo encontrará a miséria estampada por todo canto. Em quantos recantos desse mundo a miséria não se apresenta sob manto do medo. São povos reféns de homens-bombas que espalham o terror, transformando a existência num campo de mortos e mutilados. Se nosso olhar visitar a Síria, Iraque, Palestina, Israel e Ucrânia, por exemplo, encontrará a miséria em carne viva, insculpida no rosto de um território devastado pela inconsciência de poderosos mundiais.
A miséria às vezes emerge por ações da natureza, muitas vezes reagindo aos atos insanos do homem. O Katrina rompeu todas as barreiras de proteção de Nova Orleans, nos Estados Unidos da América, os pobres, principalmente os negros, ficaram entregues à própria sorte. No rosto de cada um deles, surgiu o flagelo da miséria, na ocasião vestida do desespero, desamparo, medo, fome, sede, abandono e dor. Em tempos de guerra, a miséria abraça impiedosamente os refugiados, povos que, sem destino, passam por privações e submissões incomensuráveis.
Há tempo que ela existe. Mas, há um tipo de miséria recente que nos chama atenção. Trata-se da miséria cultural. Não é à toa que dificilmente encontramos músicas com uma boa melodia e rica em letra. A poesia parece que vem se empobrecendo de forma que algumas já vestem a roupa suja, rasgada e fedorenta da miséria. A mídia abre espaço cada vez mais para os miseráveis do imaginário e da cultura. A riqueza anteriormente encontrada em músicas compostas, por exemplo, por Adelino Moreira, Herivelto Martins, Capiba, Luiz Gonzaga, Pinto do Acordeom e Zé Ramalho, por exemplo, foi substituída por músicas que nada trazem de ensinamentos para a nossa vida; não falam de amor, mas, sim de prostituição; não enaltecem a beleza da mulher, mas, sim cantam pejorativamente seu corpo; não decantam a bela paisagem das praias, da lua e das estrelas, mas só as orgias mundanas.
Isso coloca em risco a nossa cultura. As gerações futuras poderão desconhecer a poesia e, assim, não saberão soletrar sequer as palavras paz e amor. Repensemos tudo isso, antes que seja tarde! Só assim daremos adeus a essa outra espécie de miséria.
*Escritor e Juiz de Direito da 5ª Vara Cível de João Pessoa PB

onaldoqueiroga@oi.com.br
Miséria Cultural Miséria Cultural Reviewed by Clemildo Brunet on 8/08/2014 05:32:00 PM Rating: 5

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