Ainda somos uma República?
Rinaldo Barros |
Rinaldo
Barros*
Nestes últimos dias, têm-me vindo
freqüentemente à cabeça as palavras que Hegel, noutro contexto, escreveu no
início de um ensaio sobre a Constituição alemã: "A Alemanha não é mais um
Estado".
Observemos o patropi. Antes de tudo,
devemos colocar de lado esses documentos sem valor que são as Constituições
(nacional e estaduais) e as Leis Orgânicas municipais. São poucos os que as
leram, e quase ninguém as cumpre. O caro leitor sabe que a atual Constituição,
desde 1988, já foi emendada mais de 80 vezes?
Por outro lado, como diria o Frei Betto,
“o PT trocou o projeto de Nação por um projeto de Poder”; e
O PT jogou na lata do lixo o sonho de
toda uma geração. Veja o tamanho do estrago.
O afastamento da presidente Dilma, a
desaprovação das contas de 2014 e 2015, rejeitadas pelo TCU, ao lado das
denúncias de ter sido usado recursos públicos roubados (propinas) em sua última
campanha eleitoral; somadas às mentiras com que foram conquistados os votos;
tudo isso somado, criou um caldo de cultura favorável ao clima de “Fora Dilma”;
seja por via constitucional (impeachment) ou renúncia, seja com a superação do
atual modelo institucional, com a reinvenção do atual sistema político.
A política brasileira está sendo passada
a limpo, resultado das muitas investigações em andamento. É salutar para o país
que assim seja. Para que o interesse público prevaleça sobre negócios privados,
é fundamental que assim continue. O essencial disso tudo é que todas as
suspeitas devem ser rigorosamente investigadas, para que a verdade prevaleça.
Desconfio que se trate do marco inicial
de um período (ciclo) caracterizado pela quebra da dominação oligárquica. Em
outras palavras, as oligarquias estariam perdendo o controle do Estado, mas não
existe ainda uma definição clara sobre o novo conjunto de forças que assumirá o
poder.
Não existe ainda um novo projeto capaz
de se tornar hegemônico no patropi. Não há Projeto de Nação.
Ensinou o mestre Darcy Ribeiro que, “uma
sociedade que não tem um plano de si mesma, carente de sua utopia, de como quer
crescer, só por isto está debilitada a se torna incapaz de viver o seu
destino”.
Temos grandes desafios herdados de nossa
história injusta: 1) a proliferação do mercado informal, que já abrange mais da
metade das pessoas economicamente ativas; 2) o analfabetismo funcional (aquele
que lê, mas não entende), atingindo cerca de 70% (setenta por cento) da
população.
Está em jogo também um desafio ainda
maior.
Refiro-me à capacidade de manejar o
conhecimento, por ser este a alavanca central das inovações modernas. Não cabe
mais apenas absorver conhecimento, reproduzir, copiar, como se faz na escola,
tradicionalmente.
O trabalhador atualizado precisa saber
pensar, pesquisar, para poder sempre estar a par das inovações, avaliar os
processos produtivos e discutir sua qualidade, fomentar visão geral
globalizada.
É preciso aprender a aprender. A escola
deve estimular a pesquisa e a dúvida. Deve demonstrar que perguntar é mais
essencial à vida do que responder, ou escolher alternativas prontas.
Pergunto eu: estamos fazendo isso em
nossas escolas e universidades?
Lamentavelmente, somos uma sociedade sem
alternativas claras sobre o que queremos, e sem partidos construídos de baixo
para cima, como uma escola formadora de líderes. Não há renovação das
lideranças.
Cá do meu canto, fico assuntando: sem
cidadania consolidada, com escolas ultrapassadas em seu projeto pedagógico, com
partidos políticos sem nitidez ideológica, fragmentados e sem líderes
confiáveis, e sem um claro Projeto de Nação, ainda somos uma República?
Frente a esse “imbróglio” gigantesco,
pergunto: será que a solução desse nó se dará sem violação do Estado
Democrático de Direito? Ou não?
A dedução é privilégio do caro leitor.
*Rinaldo Barros é
professor – rb@opiniaopolitica.com
Ainda somos uma República?
Reviewed by Clemildo Brunet
on
6/20/2016 05:12:00 PM
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