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CRÍTICA DESTRUTIVA

Severino Coelho Viana (Foto)
Por Severino Coelho Viana*
Expor o pensamento é um ato de coragem, o pior é viver no anonimato da covardia, por insegurança, medo, frustração, sentimento de culpa e por falta de inspiração, onde somente aqueles que nascem com o dom são capazes de desvendar os mistérios da noção criadora. O estilo literário é uma maneira toda especial de exprimir os nossos pensamentos, ideias e conceitos, quer na linguagem falada quer na escrita. Este estilo é de caráter privativo, genuíno e pertence a cada indivíduo particular. É muito mais do que maneira ou modo de expressar os pensamentos – é um dom e uma arte.
Como arte que o é, leva-nos a criar, a gerar ideias. Tira-se do nada algo novo; pondera-se sobre as relações de sentimento, explora-se o recôndito das ilusões, evidencia-se o fato de nossa cruel realidade, acolhem-se os pensamentos otimistas e afugenta-se a sombra temerosa do ideal pessimista.
É tanto que, o estilo nasce com a pessoa. É o reflexo de sua personalidade, é a esboço do caráter individual, a firmeza do grau de cultura e a polidez do nível de educação. Por meio do conhecimento adquirido através da educação este polimento poderá tornar-se lustroso e parte para a evolução do aprimoramento. Neste ponto, é justamente onde desvenda a sensibilidade da alma, a fineza do espírito e a soma de cultura conquistada pela pessoa que escreve ou fala.
A palavra falada ou escrita, no uso de exposição que cai no domínio público, deve ser dita e escrita com clareza, com aparência de um bom vocabulário, com um razoável conhecimento das regras gramaticais, com objetividade e segurança nos temas desenvolvidos. Há uma distinção entre a palavra falada e a escrita. A falada o vento leva, mas a escrita permanece para a posteridade.
No entanto, o escritor ou autor não é uma pessoa isolada no mundo. Ele está condicionado pelo sistema cultural de seu tempo, por sua visão de classe, pelo debate artístico, pelas ideologias conflitantes, pelos valores pessoais e sociais consagrados no período histórico em que vive e cria a sua obra literária de acordo com essa capacidade e essa gama de conhecimento que o circunda. A maior ponderação de uma visão crítica, se é que emana de uma crítica bem fundamentada, é evitar transformar o estilo de conformidade ao autor da crítica, ou seja, querer impor a própria visão no texto de outrem. Forjar um estilo peculiar a um outro diferente daquele do autor. Ora, se o estilo é inerente a cada pessoa como se pode impor uma vontade ao pensamento alheio. Exatamente, neste aspecto reside o defeito do crítico, que critica por criticar, sem tem feito a menor investigação do assunto, resmungando raiva pessoal, contorcendo inveja, baforando ódio e queimando o texto literário pelo sentimento de vingança.
Apelando para a etimologia vemos que a palavra crítica vem do grego. Significa processo de purificação. Dizem os doutos que a palavra crítica originou-se na prática de purificar o ouro: tratava-se de derreter (destruir) o minério bruto e natural, a fim de retirar suas impurezas, para aproveitar somente a parte purificada, o minério adquiriria um outro valor depois de lapidado. Lembrando que, ainda, de acordo com o que dizem alguns filólogos, o "acrisolamento" esse processo de derreter o ouro, é um processo destrutivo. O ouro bruto tem que ser derretido. A crítica é destrutiva quando detona com aquela intenção que vem recheada de maldade. Quando o erro é supervalorizado e apontado, para humilhar o "errante", na visão medíocre do criticante.
A pior de todas as críticas é sem dúvida a crítica destrutiva, disfarçada de crítica construtiva. A crítica construtiva deixa-nos sempre com uma sensação de euforia e vontade de limar aquelas arestas que ainda denunciam algumas imperfeições. Deixa-nos com vontade de tomar um licor com quem nos abriu os olhos e uma impressão de que se criou um laço afetivo para a eternidade, com aquele alguém que contribuiu para o nosso sucesso, de forma desprendida e desinteressada. Já a crítica destrutiva, deixa um sabor amargo, desperta todos os medos e anseios que há em cada um de nós e quase que nos leva a pedir desculpa por existirmos e até por tentarmos fazer qualquer coisa de útil. A crítica destrutiva paralisa, só não pode destruir a índole da criatividade, pois, esta é a carcterística inata de quem carrega o seu próprio dom.
No entanto, são dois os tipos de crítica perfeitamente identificáveis e que por serem tão evidentes, acabam por não oferecer grande margem de dúvida. Porém, surge uma terceira forma de apreciação que é devastadora, demolidora e altamente venenosa, por ser simpática, por ser proferida entre sorrisos, pela maioria das vezes vir da boca daqueles que mais valorizamos e por conseguinte, nem sequer pomos em causa as suas intenções… refirimo-nos, obviamente, à crítica destrutiva, disfarçada de crítica construtiva.
Podemos viver anos em negação, acreditando no inacreditável, no arquiinimigo disfaçado de amigo, insistindo na interiorização de cada “conselho” destes tios, primos, irmãos, amigos de infância e realmente acreditamos que quando nos dizem que só sabemos partir tudo pelo lado oposto, que não fomos desavisados, que não colhemos o material necessário, que era melhor não pormos em prática esta ou aquela ideia porque os nossos planos estão indo para o lado torto e que tudo isto é para nosso bem. Justamente, este conselho é uma tentativa de esmiuçar o sucesso, não devemos tomar como um conselho verdadeiro. O perigo está na labareda da língua ferina. Tudo o que fica é um vazio, a frustração de “ser inferior e incapaz”, mas como foi dito com tanto “amor” é porque só pode ser verdade! Este amor entre aspas é perda de tempo daquele que não se propõe a fazer algo de útil, destrói com a maior facilidade o castelo dos sonhos possíveis de concretização.
No fundo, o que faz o autor da crítica? Critica. Só faz críticas. Critica o irmão, a mãe, o parente próximo, o amigo íntimo; critica a religião; critica a forma de governo, critica o homem, a esposa, o filho; critica tudo, até o vento, é uma insatisfação generalizada. Só não faz a autocrítica. Não apresenta o seu trabalho adverso e bem feito, não escreve uma linha e não levanta um tijolo de soerguimento do prédio social. São críticas meramente devastadoras; que destroem tudo, criticas que têm uma visão de forma diferenciada que é a visão demolidora de tudo e de todos. Não sabe fazer nada de promissor e de alvissareiro.
Temos aprendido que a única maneira de não cair na armadilha da crítica, é começar por avaliar o crítico e só depois da apreciação que nos foi feita, veremos o conteúdo ou o esvaziamento. O que é que essa pessoa já construiu na vida? Tem amigos? Como são os seus relacionamentos? Como é o seu discurso normal? Concentra-se mais em assuntos úteis, ou passa a vida a falar dos outros, e, sobretudo, dos erros dos outros? Que ele encontrou no seu “acerto”. Pobreza de espírito.
O cara que se "especializa" em ser "do contra", simplesmente é aquela típica pessoa chata que nunca concorda com nada. Meio azeda que deseja manter e impor a todo custo apenas seu ponto de vista. É contra pelo único motivo de não ser a favor. Mas não tem argumento consistente para ser "contra". Ao serem questionadas, sobre seus motivos, essas pessoas não sabem enumerar seus argumentos, um total devaneio.
Discordar e ser chato, não é ser crítico. É ser chato, mesmo!
João Pessoa, 27 maio de 2009.
*Pombalense e Promotor Público em João Pessoa. scoelho@globo.com
CRÍTICA DESTRUTIVA CRÍTICA DESTRUTIVA Reviewed by Clemildo Brunet on 5/28/2009 08:23:00 AM Rating: 5

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