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POMBAL: A MOBRALTECA E O SESQUICENTENÁRIO DA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL

Por Jerdivan Nóbrega de Araújo*
A Viação Gaivota sempre chega às doze horas da noite. É o bacurau que trás e leva estudantes e comerciantes para Campina Grande e João Pessoa. Naquela noite a Viação entrou pela curva do Posto Esso, passou por dentro da Rua do Rói Couro e estacionou no Bar e Restaurante Manaira, de Dona Cecinha e Cabina, onde já se encontrava o Carteiro Ribinha, que de imediato pegou o malote dos Correios, colocou sobre o guidão da sua bicicleta e saiu em disparada pelas ruas desertas da cidade, em busca da Agência dos Correios.
No dia seguinte, aberto o malote e feita a devida separação das correspondências, o impetuoso mensageiro fez o seu amarrado de cartas e mais uma vez saiu em disparada, realizando as mais radicais manobras na velha bicicleta cinza, enquanto distribuía quase que roboticamente, as suas correspondências, chegando finalmente à Prefeitura, onde entregou um envelope grande no qual se podia ver em ler subscrito a identificação “ MEC/MOBRAL”.
Mais que rápido Maroquinha, a secretária do Prefeito, abriu o envelope e tomou conhecimento de que o Senador Ruy Carneiro havia conseguido com o MEC que a cidade de Pombal fosse colocada no roteiro cultura do caminhão da MOBRALTECA. –– Que diabos é Mobralteca? Resmungou a secretária.
A grande Carreta da MOBRALTECA chegou a Pombal no dia dezoito de agosto de 1972. A cidade preparava-se para comemorar a Semana da Pátria, no mês seguinte. Seria a maior festa cívica já realizada na terrinha. Afinal, comemoraríamos o Sesquicentenário da Independência do Brasil. A carreta seguia pelas ruas quentes da cidade, arrastando os fios mais baixos, fazendo uma poda forçada nos fícus benjamim e algarobas, que se encontravam abaixo da altura recomendada pela lei de trânsito, mas que até então não eram motivos de preocupação, pois, afora a Viação Gaivota, apenas o caminhão de Zé Birro e a Marinete de Doca de seu Mizim passavam por ali.
O Prefeito se ocupou de divulgar a boa nova, mesmo não entendendo muito do que se tratava. No grupo João da Mata, Colégio de dona Anita e Josué Bezerra também foi dada à notícia.
A cidade, através do Lord Amplificador, e as escolas, através das suas devidas direções, já sabiam do dia e hora da chegada da grande carreta da cultura, de forma que os alunos foram liberados no meio da tarde para recepcionar os visitantes ilustres. O Colégio Estadual cancelou o ensaio geral do desfile, para que todos fossem dar as boas vindas aos integrantes do grande caminhão biblioteca. Logo na entrada da cidade os integrantes da comitiva receberam das mãos do Prefeito Atencio Bezerra, a chave da cidade.
Do caminhão jogavam-se balas e panfletos anunciando a sua chegada, enquanto exaltavam o Presidente Médici “que tanto tem feito pela educação nesse país que vai pra frente.. No início foi chamado de grande caminhão da cultura. Depois que dele saíram cinco figuras exóticas barbudas, calças folgadas e coloridas, professores de Educação Artística, especialistas em trabalhos em couro e tonantes, a molecada alcunhou de “o caminhão dos viados”.
O grande caminhão da cultura, ou dos viados, estacionou em frente ao Grupo Escolar João da Mata, de forma que a sua cabina ficou em baixo da grande castanhola, única sombra da cidade, que nas tardes mais quentes era disputada pelos alunos e pelos jumentos de Pedro Jáques, entre estes a jumenta que, como seu dono, era zambeta.
O caminhão da MOBRALTECA ficou em Pombal por mais de um mês. Durante este período, foram exibidos filmes de propaganda da Ditadura Militar, distribuídos livretos onde se via claramente a intenção de propagar o Governo Militar. Realizavam-se gincanas com maçãs no balde d’água, corrida de sacos; emprestavam-se livros e ensinavam-se artesanatos principalmente em couros e teatro, aos mais habilidosos. Pois sim: enquanto no vale do Araguaia a resistência à ditadura era dizimada, em Pombal nós corríamos dentro de sacos, líamos Peter Pan, Dumas Filho e aplaudíamos os paradas militares em um grande telão.
O desfile de 1972 foi o maior evento cívico já realizado na cidade de Pombal! Cento e cinqüenta anos de independência do país. O Colégio Estadual fez bonito! Mais de mil e quinhentos alunos calçados de Conga queimavam os pés às 15:30h, em um sol infernal, sobre as pedras quentes que enchiam os nossos pés de bolhas, que foi gravado e reprisado à noite no telão da Mobralteca. O desfile saiu do Colégio Estadual e seguiu por um percurso de mais de três quilômetros, até chegar à Praça Getúlio Vargas e fazer a volta por trás do Bar do Centenário. Em frente ao Edifício Maringá foi cantada a música do mesmo nome. O suor escorria nos nossos rostos e nossos pés estouravam em bolhas.
Estampávamos no rosto um sorriso de alegria e satisfação, pois o Brasil “... é um país que vai Pra frente” segundo Dom e Ravel, além de que desfilávamos sob o olhar atento do Diretor do Colégio e os flashs das máquinas fotográfica de Pedrinho e Leó, que faziam as fotos encomendadas pelos nossos não menos orgulhosos pais.
*Escritor Pombalense.
POMBAL: A MOBRALTECA E O SESQUICENTENÁRIO DA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL POMBAL: A MOBRALTECA E O SESQUICENTENÁRIO DA INDEPENDÊNCIA DO BRASIL Reviewed by Clemildo Brunet on 5/17/2009 05:42:00 PM Rating: 5

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