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ANALFABETO FUNCIONAL.

Severino C. Viana (Foto)
Por Severino Coelho Viana*
Analfabetismo é, em sentido geral, o desconhecimento das técnicas de leitura e da forma de escrita, o que caracteriza nos nossos dias atuais, nível de cultura inadequado ou baixo ante nossa realidade social. É verdade que o analfabetismo existe desde o momento que se criou a linguagem escrita. Os séculos se passaram, e a cada passo, fizeram aumentar o problema de ordem social, quando o viver era simples na sua estrutura, limitado nos contatos entre grupos humanos, lento nas suas mudanças e de pouca perspectiva no aspecto tecnológico.
Se na época do surgimento da escrita o analfabetismo, em si, aparecia como um problema, o desenvolvimento da própria escrita, forçado pelo assustador crescimento dos meios de comunicação social, encarna a figura do analfabeto funcional, que se torna um desafio virulento para superação no século XXI.
Cada geração de estudante tem como ponto de partida e argumento de discussão que os melhores professores foram aqueles de sua época escolar. Isto é um fato, e depois acabam citando renomados professores. É razoável que os ensinamentos transmitidos serviram de base e nos acompanham todo o percurso de nossa existência. Esta é a melhor forma de gratidão aos mestres. Não negamos que tivemos grandes mestres, que guardamos à lembrança na parte mais reservada de nossa admiração. Mas, é verdade também, que tivemos um reduzido número de pequenos professores, que estava professor, não era professor. É a ordem natural dos fatos, cada categoria profissional é mista de membros assíduos e relapsos. Não analisamos do ponto de vista do melhor ou menos qualificado professor. Da melhor ou da mais qualificada escola; se pública ou privada. A questão reside no fato de ser aplicado ou não aplicado aluno. Daí depende o início do sucesso pessoal.
Vemos também a questão da época e a forma de transmissão do ensino, com respeito ao mestre e até medo! O medo e o respeito dentro e fora da sala de aula. Por exemplo, à nossa época, estudávamos o abecedário – Cartilha de ABC, a Cartilha Sarita, a Cartilha do Povo, a Cartilha Nordeste, para chegar ao Primeiro Ano Nordeste, olhe bem que para o passo seguinte já sabíamos ler e escrever, este foi o nosso percurso. O curso ginasial, hoje, ensino fundamental, antes de ingressar nele, passávamos pelo crivo do Exame de Admissão, que era um verdadeiro vestibular. Houve colegas que cortaram o cabelo e deixaram toda a cabeça raspada no salão de Noivino. É isso aí companheiro! Veja a diferença!
Várias são as definições do analfabeto funcional. O conceito de analfabetismo funcional foi criado na década de 30, nos Estados Unidos, e posteriormente, passou a ser utilizado pela UNESCO, referindo-se às pessoas que, apesar de saberem ler e escrever formalmente, por exemplo, não conseguem compor e redigir corretamente uma pequena carta solicitando um emprego. Segundo a Declaração Mundial sobre Educação para Todos, mais de 960 milhões de adultos são analfabetos, sendo que mais de um terço dos adultos do mundo não têm acesso ao conhecimento impresso, às novas habilidades e tecnologias, que poderiam melhorar a qualidade de vida e ajudá-los a perceber e a adaptar-se às mudanças sociais e culturais. Na declaração, o analfabetismo funcional é considerado um problema significativo em todos os países industrializados ou em desenvolvimento.
O termo analfabeto funcional se refere ao tipo de instrução em que a pessoa sabe ler e escrever, porém é incapaz de interpretar o que ler e de usar a leitura e a escrita em atividades cotidianas. Ou seja, o analfabeto funcional não consegue extrair sentido das palavras nem colocar ideias no papel por meio do sistema de escrita, como acontece com quem realmente foi alfabetizado. No Brasil, o índice de analfabetismo funcional é medido entre as pessoas com mais de 20 anos que não completaram os quatro anos de estudo formal. O conceito, porém, varia de acordo com o país. Na Polônia e no Canadá adotam, por exemplo, que é considerado analfabeto funcional a pessoa que possui menos de oito anos de escolaridade.
No nosso país, especificamente, hoje, não se trata apenas de anos de escolaridade, mas, infelizmente, é uma realidade cruel, pessoas com diplomas de nível superior, por incrível que pareça, são analfabetas funcionais, pois não compreenderem o que leem nem sabem escrever o que falam, e quando tentam entender, interpretam diametralmente oposto o que está escrito! Ou divagam completamente para o obscurantismo das ideias nefastas.
No campo quantitativo correspondente à educação o Brasil avançou muito: começamos o século 20 com 65% de analfabetos, tendo baixado para 51% em 1950, e apresentado reduções mais drásticas só a partir de 1975, para chegarmos ao ano 2000 com 13% de analfabetos. Hoje são 8%. Infelizmente, hoje vemos que o Brasil optou pela quantidade a qualquer custo. Só quantidade não vale para o sucesso pessoal. E o resultado disso é a enorme quantidade de analfabetos funcionais com diploma. O nosso país deveria se esforçar em alfabetizar com qualidade. Não é aumentando para nove anos o Ensino Fundamental que a qualidade do ensino irá melhorar.
Mas no item de qualidade a coisa vai mal. Como ressalva o professor da FEA-USP, Daniel Augusto Moreira, “o problema do analfabetismo – entendido como a incapacidade absoluta de ler e escrever – costuma esconder um outro, tão ou mais perigoso, exatamente por passar despercebido a muitos: trata-se do analfabetismo funcional”. Vamos ver então o outro lado do analfabetismo.
As pesquisas mais confiáveis no Brasil são realizadas pelo Instituto Paulo Montenegro, em parceria com a ONG ação educativa, que divulgam anualmente o Indicador Nacional de Analfabetismo Funcional (INAF). Existem dados oficiais, do IBGE, que considera analfabetos funcionais os que têm menos de quatro anos de estudo. Isso torna o dado pouco confiável, pois o número de anos de estudo considerados como mínimo para se atingir um nível de alfabetização suficiente é relativo.
De acordo com os últimos dados do INAF, 75% dos brasileiros são considerados analfabetos funcionais. Isso mesmo: três em cada quatro brasileiros. Destes, 8% são analfabetos absolutos, 30% leem, mas compreendem muito pouco e 37% entendem alguma coisa mas são incapazes de interpretar e relacionar informações. O estudo indicou que apenas 25% dos brasileiros com mais de 15 anos têm pleno domínio das habilidades de leitura e de escrita. Na Alemanha, a taxa de analfabetos funcionais é de 14%. Nos EUA, 21%. Na Inglaterra, 22% (para melhorar esta taxa, o governo britânico introduziu a "Hora da Leitura" no ensino fundamental). Na Suécia, a taxa é de 7%. Estudantes da classe média brasileira leem pior do que operários alemães.
Não é por acaso que o contingente de leitores de livros no Brasil seja tão pequeno em relação à população. Apenas 17 milhões de pessoas compraram ao menos um livro no último ano, 10% da população. Uma piada corrente nas rodas de editores, livreiros e escritores pode dar o tom preciso da história da literatura no Brasil. Na véspera do aniversário de um amigo, um rapaz, amante das letras, conta entusiasmado ao colega que vai presenteá-lo com um livro. O aniversariante, constrangido, diz: "Obrigado, mas eu já tenho um".
A média anual de leitura entre os que leem é de 12 obras e a compra per capita de livro não-didático por adulto alfabetizado é de 0,66. Se comparado a países desenvolvidos, a média de leitura por habitante é lamentável. No Brasil, esse índice é de 1,8, contra 7 da França, 5,1 dos Estados Unidos, 5 da Itália e 4,9 da Inglaterra. Em todas as nações desenvolvidas, metade da população é razoavelmente letrada, o que tem favorecido o progresso. Como mudar esse árido cenário? Estudos internacionais indicam que é necessário perceber que a familiaridade com a leitura não é adquirida de forma espontânea. A experiência mostra, segundo o Ministério da Cultura, que as nações avançadas produzem seus leitores em larga escala. Em todas elas, os fatores infraestruturais envolvidos na geração de leitores revelaram-se os mesmos: estímulo à leitura na família e na escola.
E, óbvia e urgentemente, investir na qualidade da educação para extirpar o analfabetismo funcional. Para a professora Cileda Coutinho, da PUC-SP, “não adianta mudarmos currículos, fazermos projetos, se não trabalharmos tudo ao mesmo tempo. Projetos isolados não vão produzir resultados se não estiverem no bojo de um trabalho maior e contínuo”. Conhecemos pessoas que não têm diploma de curso superior, todavia, à sua época, o ensino era bem mais qualificado, que em termos de conhecimento e de raciocínio lógico na leitura, não fica diminuído perante nenhum graduado.
O diploma fica apenas como um título e mais um papel guardado na pasta de arquivos onde vários outros títulos estão grampeados ao curriculum vitae. Mentalmente, a graduação está longe de chegar ao seu verdadeiro alcance e tomada de responsabilidade. O título não passou de uma satisfação social ou temor de ser tachado de analfabeto, se bem que continua...
João Pessoa, 25 de novembro de 2009.
*Promotor Público - João Pessoa PB. scoelho@globo.com
ANALFABETO FUNCIONAL. ANALFABETO FUNCIONAL. Reviewed by Clemildo Brunet on 11/26/2009 03:52:00 AM Rating: 5

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