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O SONHO DE ARTISTA - HOMENAGEM A JOÃO FON-HON-HON.

Por Maciel Gonzaga*
Dom Quixote de La Mancha, na visão do escritor espanhol Miguel de Cervantes e Saavedra (1547-1616) perseguia um objetivo, que acredita sejam historicamente verdadeiros, perde o juízo, e decide tornar-se um cavaleiro andante. Vestido com uma armadura velha que havia pertencido a seu bisavô, Dom Quixote, um pequeno fidalgo castelhano, parte montado em um pangaré, Rocinante, na companhia de Sancho Pança, um ingênuo e materialista lavrador, seu fiel amigo escudeiro, escanchado em um burrico, que aceita seguir o fidalgo pela promessa de uma ilha governar. A dupla se investe dos ideais cavalheirescos de amor, de paz e de justiça, sai pelo mundo, em luta por tais valores, pensando em salvar os fracos e oprimidos, donzelas em perigo e tantos outros injustiçados.
É claro que Cervantes satiriza os preceitos que regiam as histórias fantasiosas dos heróis da época, ao mostrar a eterna luta do homem vivendo entre o sonho e a realidade. Sua obra transformou-se num verdadeiro sentido universal da vida. O Quixotismo incorporou-se no vocabulário de todas as línguas para designar o comportamento daquele que sobrepõe a fantasia à realidade, o idealismo ao realismo o desprendimento à conveniência. Há em Dom Quixote uma identidade com as pessoas reais, já que o homem está sempre aquém da imagem que faz de si mesmo e dos ideais que aspira.
O ser humano sempre está na busca de conseguir satisfazer aos seus desejos mais intensos. Somos um sonho divino que não se condensou, por completo, dentro dos nossos limites materiais. Existe, em nós, um limbo interior; um vago sentimental e original que nos dá a faculdade mitológica de idealizar todas as coisas. A vida é uma luta entre os seus aspectos revelados e o limbo em que eles se perdem e ampliam até a suprema distância imaginável; uma luta entre a realidade e o sonho. Muitos o deixam logo, outros o levam consigo durante bom tempo e alguns raros o realizam.
É fato que quase todos nós passamos por uma época em que temos o sonho de ser um artista. O sonho de ser famoso ganha um novo capítulo a cada dia. Todo mundo gostaria. Em Pombal, nós temos uma figura quixotesca – João Bezerra, ou João Fon-Hon-Hon – de quem fui amigo de infância morando todos nós na Rua do Cachimbo Eterno. João nasceu com o sonho de ser cantor. Desde menino sempre fascinado pelo palco, as luzes e o sucesso. Sua voz fanha e a dicção não atrapalham em nada a sua proposta. Canta com o nariz, com a garganta.
Fã de Miguel Aceves Mejia, Bienvenido Granda, Lucho Gatica, o nosso ídolo pombalense canta e se veste como os seus ídolos, elegendo a música mexicana como sua bandeira de vida. Entre os cantores brasileiros, a sua preferência maior é por Waldick Soriano. Aprendeu a viver a música com paixão e nunca hesitou um só instante em se negar a imitar seus ídolos.
Assim é João Fon-Hon-Hon, imitando os seus cantores preferidos, animando bares e rodas de bate-papo na cidade de Pombal, seu palco ilusório, onde é aclamado como herói e todos o entendem perfeitamente. Segue sua vida, depois dos 60 anos, tendo em Dom Quixote o seu maior exemplo, lutando, sonhando contra os ventos, os moinhos e os dragões da vida, com o objetivo de criar e evidenciar o belo, pois,
“...Quando se sonha sozinho é apenas um sonho. Quando se sonha juntos é o começo da realidade”. Aliás, sobre o sonho, entendo que há três tipos de sonhadores: aqueles que sonham com uma vida melhor para os outros e para todo mundo; os que acreditam no sonho e resolvem se esforçar para que ele aconteça e, por último, aqueles que estão dispostos a arriscar a sua própria vida em benefício dos outros. É difícil encontrar pessoas sonhadoras dispostas a fazer sacrifícios pelo bem da humanidade, mas elas existem, em quantidade bem pequena, é verdade. Afinal de contas, neste nosso mundo é completamente louco quem ousa sonhar. Mas o que seria de nós sem o sonho? Por isso, aqui vai o meu incentivo a João Fon-Hon-Hon: continue sonhando, velho amigo!
*Jornalista, Advogado e Professor. Natal RN.
O SONHO DE ARTISTA - HOMENAGEM A JOÃO FON-HON-HON. O SONHO DE ARTISTA - HOMENAGEM A JOÃO FON-HON-HON. Reviewed by Clemildo Brunet on 4/02/2010 06:19:00 PM Rating: 5

Um comentário

JERDIVAN NOBREGA DE ARAUJO disse...

Eu já havia lembrado João Fon-Hon-Hon em um dos meus livros, e agora vejo a sua história a com mais detalhes em um tanto de “coração” no texto de Maciel. Quando eu era criança, acho que com nove ou dez anos, ia com meus pais a Camboa, aos domingos, e me acostumei a conviver com João Fon-Hon-Hon na casa de seu Antônio Calixto, que mais tarde veio a ser seu sogro. Nos sábados nas “queimas” de estoque das Lojas Paulistas João era a atração que juntava multidões de matutos na porta desta loja e de outras(a disputa era grande e ele tinha uma agenda de apresentação). A atração era aprestada como o cantor mexicano João Fon-Hon-Hon.
Não sei se ele chegou a se aprestar no Lord Amplificador, mas com certeza foi atração nos palcos de circos como Continental, Grâ Bartolo( na época era apenas Bartolo) e Moruarama, nas matines de domingos.
Parabéns ao Maciel parabéns Maciel. jerdivan nobrega d earaujo

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