Colombina, eu te amei!
Apaixonado
pelo carnaval suspirava e ansiava por sua época. A liberdade reinava e os
costumes desrespeitados e aceitos, até pelos mais conservadores. Uma expressão
era usual nos relacionamentos amorosos, restritos ao período momesco: amor de
carnaval. Quem não curtiu esse sentimento tão passageiro, mas, inesquecível? Estaria
em outra dimensão, do tempo, da realidade? Encontrava-se, sobretudo, nos bailes.
Ali, acontecia o inesperado. Uma atração que arrebatava, fazia tremer corações
e mentes. Experimentei, com mais intensidade, essa sensação em um carnaval
situado no final dos anos setenta.
Envolvimentos
antigos dominavam o ambiente, em minha cidade natal. Seria mais um carnaval,
como tantos outros, de brincadeiras, amizades que se renovavam, exposição de
personalidades, naqueles momentos mágicos. Naquele clima, brotavam surpresas,
emoções intensas.
Costumeiramente,
a segunda feira, era considerada um dia pouco animada. Parecia que os foliões,
cansados dos dois dias anteriores, se davam uma trégua, preparando-se para a
“batalha” final do último dia. Meu corpo e minha alma acompanhavam esse
comportamento geral. Não seria diferente no Pombal Ideal Clube. Transcorria uma
festa morna, sem entusiasmo. Mas, a dinâmica vital me reservava uma armadilha de
sentimentos. Os grupos de foliões rodopiavam, no salão, em ondas, ao som dos
frevos e marchas que dominavam o momento. Enxergo uma colombina fulgurante,
nesse cenário. Na primeira rodada, uma troca de olhares. Na segunda, outra,
ambas como relâmpagos. Depois, carregado de coragem e entusiasmo, me incorporo àquela
turma e, timidamente, pego sua delicada mão. Não recusa essa aproximação.
Continuamos,
seguindo os passos das músicas carnavalescas. De repente, o odiado intervalo.
Acompanhei-a a mesa de seus familiares. Residia em João Pessoa, mas, havia
vindo para o, outrora, atraente carnaval de Pombal. Trocamos pouquíssimas
palavras. Sua timidez superava a minha. Ficar ao lado dela bastava. Alguns
amigos me convenceram a ir à Sede Operária, onde, também, aconteciam bailes de
carnaval. O ambiente de animação nos prendeu e nos demoramos. No retorno, a
colombina não mais se encontrava. Contudo, restava a terça feira, o último dia.
Repetiu-se a frustração: havia retornado, antecipamento, à sua cidade, onde
morava. O “amor de carnaval” se esvaiu de forma impiedosa.
Apesar
das informações que obtive, posteriormente, daquela colombina, nunca mais a
vida nos reaproximou. Moraes Moreira, cantor de sucesso naquele carnaval, me
açoitava o coração, com versos de uma antiga canção que, insistentemente,
dizia: “Colombina, eu te amei, mas, você não quis; eu fui para você um pierrot
feliz’; os confetes dourados que alguém lhe atirou, não fui eu quem jogou, não
fui eu, não fui eu!”.
*Cronista
pombalense radicado em Maceió - Alagoas
Colombina, eu te amei!
Reviewed by Clemildo Brunet
on
3/31/2019 07:02:00 AM
Rating:
Nenhum comentário
Postar um comentário