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Colombina, eu te amei!


   
Ricardo Ramalho
Ricardo Ramalho*
                                                                         
Apaixonado pelo carnaval suspirava e ansiava por sua época. A liberdade reinava e os costumes desrespeitados e aceitos, até pelos mais conservadores. Uma expressão era usual nos relacionamentos amorosos, restritos ao período momesco: amor de carnaval. Quem não curtiu esse sentimento tão passageiro, mas, inesquecível? Estaria em outra dimensão, do tempo, da realidade? Encontrava-se, sobretudo, nos bailes. Ali, acontecia o inesperado. Uma atração que arrebatava, fazia tremer corações e mentes. Experimentei, com mais intensidade, essa sensação em um carnaval situado no final dos anos setenta.

Envolvimentos antigos dominavam o ambiente, em minha cidade natal. Seria mais um carnaval, como tantos outros, de brincadeiras, amizades que se renovavam, exposição de personalidades, naqueles momentos mágicos. Naquele clima, brotavam surpresas, emoções intensas.

Costumeiramente, a segunda feira, era considerada um dia pouco animada. Parecia que os foliões, cansados dos dois dias anteriores, se davam uma trégua, preparando-se para a “batalha” final do último dia. Meu corpo e minha alma acompanhavam esse comportamento geral. Não seria diferente no Pombal Ideal Clube. Transcorria uma festa morna, sem entusiasmo. Mas, a dinâmica vital me reservava uma armadilha de sentimentos. Os grupos de foliões rodopiavam, no salão, em ondas, ao som dos frevos e marchas que dominavam o momento. Enxergo uma colombina fulgurante, nesse cenário. Na primeira rodada, uma troca de olhares. Na segunda, outra, ambas como relâmpagos. Depois, carregado de coragem e entusiasmo, me incorporo àquela turma e, timidamente, pego sua delicada mão. Não recusa essa aproximação.

Continuamos, seguindo os passos das músicas carnavalescas. De repente, o odiado intervalo. Acompanhei-a a mesa de seus familiares. Residia em João Pessoa, mas, havia vindo para o, outrora, atraente carnaval de Pombal. Trocamos pouquíssimas palavras. Sua timidez superava a minha. Ficar ao lado dela bastava. Alguns amigos me convenceram a ir à Sede Operária, onde, também, aconteciam bailes de carnaval. O ambiente de animação nos prendeu e nos demoramos. No retorno, a colombina não mais se encontrava. Contudo, restava a terça feira, o último dia. Repetiu-se a frustração: havia retornado, antecipamento, à sua cidade, onde morava. O “amor de carnaval” se esvaiu de forma impiedosa.

Apesar das informações que obtive, posteriormente, daquela colombina, nunca mais a vida nos reaproximou. Moraes Moreira, cantor de sucesso naquele carnaval, me açoitava o coração, com versos de uma antiga canção que, insistentemente, dizia: “Colombina, eu te amei, mas, você não quis; eu fui para você um pierrot feliz’; os confetes dourados que alguém lhe atirou, não fui eu quem jogou, não fui eu, não fui eu!”.

*Cronista pombalense radicado em Maceió - Alagoas
Colombina, eu te amei! Colombina, eu te amei! Reviewed by Clemildo Brunet on 3/31/2019 07:02:00 AM Rating: 5

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