O SERTÃO I
Onaldo Queiroga |
ONALDO QUEIROGA*
Falar dos Sertões quase sempre nos remete àquele cenário desolador da seca, onde a escassez de água e alimentos transforma o ser humano num flagelo indescritível. São muitos os livros que encontramos em nossa Literatura retratando esse quadro de sofrimento resultante dos longos e frequentes períodos de estiagem no Sertão nordestino.
Mas não me recordo de já haver lido alguma obra ou ter assistido a algum filme dimensionando a alegria do sertanejo no período de inverno, com registros de cheias intensas. É certo que nesse momento também alguns sofrimentos ocorrem, principalmente pelo fato de a cheia causar destruição de plantações, arrombamentos de açudes, acarretando grande número de desabrigados. Mesmo assim, esses sofrimentos são sempre superados pela alegria que a abundância da água transmite ao sertanejo.
Recentemente, em viagem ao Sertão, constatei isto pessoalmente. Lá do alto da serra de Teixeira, do restaurante localizado na Pedra do Tendol (ou Tendó), tive a oportunidade singular de vislumbrar uma boa parte do Sertão, desta vez todo verde, com uma imensa quantidade de água ao alcance dos meus olhos. Vi a cidade de Patos; visualizei o Açude do Jatobá, quase se unindo com a barragem da Farinha. Em seguida, desci lentamente a serra; parei numa subida onde se estaciona o veículo e, deixando-o apenas em ponto-morto, ele, ao invés descer, inexplicavelmente começa a subir. Não é conto, nem lenda; é pura verdade. Pena que os turistas e até grande parte dos paraibanos não saibam disto.
Continuei a viagem. Entrando em Patos e passando pelo Jatobá, constatei enorme estrutura de barracas montadas para dar apoio ao grande número de pessoas que tomavam banho na sangria do açude. Era uma festa só.
Seguindo meu itinerário, desembarquei na cidade de Piancó. Presenciei o grande volume do rio Piancó descendo em direção ao açude de Coremas. Por uma estrada de barro, me dirigi à cidade de Coremas. Após rodar uns vinte e dois quilômetros, cheguei a uma ponte enorme e ali não me contive. Desci do carro e passei a contemplar, de um lado, Coremas, e, do outro lado, Mãe-d’Água. Nem meus olhos, nem a lente da câmera fotográfica, mesmo com o uso inteiro do zoom, não conseguiram alcançar o fim daquela imensidão de água.
O canto dos pássaros; o som alegre das lâminas das enxadas cortando a terra molhada no preparo da roça; o gado de barriga cheia, deitado pelo campo; um arco-íris brotando das águas e indo deitar-se nos verdes pastos das margens belas do Coremas; no horizonte, um relâmpago, um raio rasgando os céus e o ronco de um trovão confundindo-se com barulho da água enfurecida que desce pela sangria, indo, pelo leito do rio Piancó, em direção a Pombal, São Bento e Açu — tudo isto me mostrou, novamente, quanto é majestoso o Sertão.
O Sertão que é também festa, alegria das lágrimas que caem dos céus transformando a seca em campos molhados, verde esperança de um povo forte e de muita fé.
*Pombalense, Juiz de Direito da 5° Vara Cível da Capital.
O SERTÃO I
Reviewed by Clemildo Brunet
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5/24/2011 11:39:00 PM
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