INESQUECÍVEIS ANOS DOURADOS I
– Que tempo bom.
Prof. F. Vieira |
Prof. Francisco Vieira*
Hoje, num simples relance, agucei o pensamento e retroagi no tempo. Vasculhando a memória já desgastada trouxe à tona lembranças juventude. É um período senão eterno, porém marcante. Seus acontecimentos são por demais relevantes para serem facilmente esquecidos. Nem mesmo o destino inexorável consegue subtrair da nossa memória os fatos que nos fizeram felizes.
Por convicção estamos ligados ao passado que construímos. É que o homem faz sua história e dela não se desvencilha. Ninguém consegue se divorciar daquilo que ama – as origens. São raízes para as quais volvemos nossos pensamentos com ares de saudades. Embora pareçam distantes os fatos permanecem vivos e bem lembrados. Parece até que o passado foi ontem. Se numa época remota ou recente, não importa, o que interessa é a felicidade vivida.
A propósito, ante a impossibilidade de reviver o passado na prática, o faço na recordação. Num arrebatamento espontâneo do espírito contemplo os fatos que caminham passo a passo comigo. Não me largam um só instante. Nesse retrocesso as lembranças se voltam para os ANOS DOURADOS nas décadas de 50 e 60 ou até mesmo 70, para ser mais exato. Meu intuito não é outro senão resgatar os fatos com fim exclusivamente histórico, para relembrar aos antigos e revelar aos moços.
OS ANOS DOURADOS constituem uma época com características bem definidas. Foi um período ímpar, marcado por grandes acontecimentos nas diversas áreas de atividades. Quer no campo científico, tecnológico, político ou cultural, tudo afetou o comportamento humano, principalmente os mais jovens. No Brasil o movimento teve grande influência tornando-se inclusive tema de minissérie protagonizada em 1968, pela Rede Globo e abertura sonora – somente instrumental – de Tom Jobim e Chico Buarque.
Os acontecimentos foram inúmeros, cada um com sua importância e conseqüência. Enumerá-los é impossível...
Os meios de comunicação eram escassos. Era difícil – quase impossível – estar em dia com as notícias que chegavam pela Rádio Tupi do Rio, Sociedade da Bahia e Clube de Pernambuco – as mais potentes – ou pelas revistas O Cruzeiro, Manchete e Fatos e Fotos. Sem saber Veríssimo Lacerda e o mudo de João Martins deram uma grande contribuição a Pombal nesse sentido.
Jornal era outra raridade. Ao nosso alcance apenas A União, O Norte, Correio da Paraíba e Diário da Borborema que chegavam – às vezes atrasados – pela Viação Gaivota ou Andorinha. Qualquer acontecimento extra – exceto para os assinantes – era motivo de aglomeração disputando um exemplar no hotel de Chico Caetano. Contudo, era o suficiente para saber o que ocorria pelo mundo.
Sem um esboço cronológico dos acontecimentos, soubemos que a União Soviética lançara o SPUTINIK II, colocando em órbita a cadela Laika, primeiro ser vivo a percorrer o espaço sideral. Que Elizabeth II, se tornara Rainha da Inglaterra e a Argentina vivia a queda de Juan Perón.
No campo da política internacional, os países capitalistas e socialistas intensificavam os conflitos estabelecendo a Guerra Fria na luta pelo poder. Vieram as guerras da Coréia, Vietnã e Revolução Cubana, enquanto o povo brasileiro amargava a perda da Copa de 50, em sua própria casa - recompensada com as conquistas de 58 e 62 - e o trauma pelo suposto suicídio de Getúlio Vargas, fato ainda não esclarecido. Como alento ocorreu depois à eleição de Juscelino Kubistchek, Presidente mais popular do país até então. Veio em seguida a Bienal da Arte, criação da Petrobrás, da televisão, entre outros fatos importantes.
Que em fins de 50 surgiram Os Beatles e ao lado de Elvis Presley revolucionaram o mundo, enquanto no Brasil nascia a BOSSA NOVA com Jobim, João Gilberto e Vinícius, seguido pelo Tropicalismo. Que o rock inspirou a Jovem Guarda, movimento composto de música, comportamento e moda. Rapazes usavam cabelos longos e vestiam blusões de couro e calças jeans ajustadas, em motocicletas ou lambretas. As moças tinham cabelos bem armados com laquê. A maquiagem que era essencial, além dos cílios postiços enfocando os olhos o batom dava um toque especial. O traje se completava com saias rodadas tipo minissaia exibindo pernas torneadas. Era um misto de rebeldia e ingenuidade; ou ainda a manifestação de independência em oposição à sociedade conservadora da época, expressada pela descoberta da sexualidade. Costumes que segundo os antigos contrariavam os princípios da moralidade. A música, o cinema e o teatro se tornaram instrumentos poderosos, utilizados como meios de protestos aos regimes políticos repressores e ditatoriais.
Pombal, também viveu esse período, se não tão intenso, foi o suficiente para mudar a vida da população. As músicas embalando as noites de festas nos clubes eram recheadas de romantismo, inspiradas no amor e sem palavras indecentes. Algumas são ainda lembradas, outras caíram no mar do esquecimento ou cederam lugar as atuais, fruto do colóquio da mídia insana que macula a nossa cultura musical.
Namorar era atrair alguém para si. Um sentimento ingênuo onde os beijos ás vezes eram dados sem saber beijar. Os “amassos” eram trocas de carícias de mãos ousadas à procura de algo proibido. Se errarmos, foi pelo vigor da idade e nossos deslizes jamais serão comparados aos vícios atuais dominantes. Éramos felizes.
Relembro que a dança era mais que um movimento sincronizado de corpos, ritmos, romantismo e arte. Nos clubes da cidade ao som dos Águias se dançava variados ritmos: samba, bolero, rock, twist, etc. Sempre agarradinhos e rostos colados, no mínimo de espaço possível se dançava e jurava amor sincero. Correspondido ou não, era emocionante dizer baixinho, sussurrar: eu te amo.
Como que mudando o significado das coisas, deu-se o nome de “assustado” as festas dançantes em casa de amigos, ao som de radiolas portáteis Philips, movidas a pilhas e adquiridas mediante rateio dos interessados. Como todo político que se preza, Expedito Lacerda “Dito” e Pretinho Gomes, líderes estudantis, angariavam votos na luta pelo Grêmio Literário e UESI – União dos Estudantis Secundários do Interior do extinto Ginásio Diocesano de Pombal.
A moda chagava da capital através dos estudantes, trazidas por Solidon, Redmar, José Luis – O Pequeno Burguês – e Hermínio Neto que desfilava em seu Karmann Ghia, causa da atenção de todos e inveja de alguns. O ponto da moda era A Camisaria Ideal ou Gouveia e A Calçadeira. Era a moda atualizada e a certeza dos últimos lançamentos.
Mesmo sem haver loja de disco a cidade mantinha uma boa discoteca, destacando-se as do Cine Lux, Lord Amplificador e D. Azuila, cujos discos tipo vinil eram adquiridos por encomenda. Enquanto isso surgiram os meios de comunicação: “A Voz da Cidade” e “Lord Amplificador”, nos quais o jovem Clemildo Brunet já despontara manifestando talento e vocação, mostrando que: “o espinho de pequeno traz a ponta” . Na onda, ambas apresentavam programas para todos os gostos, desde os românticos até a Jovem Guarda, sempre patrocinados pelas Lojas Paulista, Café Dácio, Império das Novidades, Macarrão Martoci, Padaria Vitória, A Triunfante, etc.
Inúmeros são os fatos que fizeram dos Anos Dourados um período inesquecível. As referências citadas são partes de um passado memorável, vivido por uma geração ingênua e irreverente, conservadora, porém independente, criativa, alegre, romântica e amável.
Consciente de que cada geração tem uma mentalidade, respeito a todas, não desmereço nenhuma. Contudo, ouso dizer: nada melhor que OS INESQUECÍVEIS ANOS DOURADOS.
Pombal, 23 de julho de 2011.
*Pombalense, Educador, ex-diretor da Escola Estadual “João da Mata” e Ex-secretário de Administração do Município de Pombal.
INESQUECÍVEIS ANOS DOURADOS I
Reviewed by Clemildo Brunet
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7/24/2011 07:11:00 PM
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