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O Endereço da Cultura

Oliveira de Panelas e Onaldo Queiroga
Onaldo Queiroga*

O Brasil é rico culturalmente, sendo o Nordeste é seu o maior celeiro cultural. Aqui tem o frevo de Capiba, de Claudionor Germano, de Nelson Ferreira, de Felinto, Pedro Salgado, Guilherme Fenelon e seus blocos famosos; tem o maracatu de dona Santa, a sanfona de Luiz Gonzaga com o seu baião; a de Sivuca e a de Pinto do Acordeom; tem a ciranda de Lia de Itamaracá; tem a poesia de Augusto dos Anjos, de Castro Alves; tem Ariano Suassuna, José Lins do Rego, José de Alencar, Graciliano Ramos, Jorge Amado, João de Cabral M. Neto; tem o cordel de Marco di Aurélio, o repente de Ivanildo Vila Nova, de Lourival, Dimas e Otacílio Batista, de Pinto de Monteiro, Patativa do Assaré, de Leandro Gomes, Daudete Bandeira e do insígne Oliveira de Panelas.

Oliveira, aquele que deixou Panelas no Estado irmão de Pernambuco e migrou para a Paraíba, trazendo consigo a magia de sua inspiração, uma simbiose divina passando pelo coração, mente e alma, para enriquecer o mundo com mensagens poéticas eternas, guarda na lembrança a sua inesquecível varanda prateada, de tantas recordações. Lembranças da felicidade ao contemplar, com um coração criança, o seu pé de flamboaiã. Lembranças da revoada dos pássaros, num galanteador balé para a natureza. Lembranças das laranjeiras sombreando o seu pomar. Do colo materno, de conselhos e recomendações. Ali o menino de Panelas encostava sua cabeça e ouvindo o ninar de sua guardiã entregava-se ao sono e nas noites encantadas mergulhava nos seus sonhos.

Da varanda, a criança de Panelas mirava o nascente, seu céu de estrelas e de lua clara. Seu olhar, viagem de sonhos, desenhava amores cósmicos, caboclos livres, primaveras do mar, uma barrôca mulher e com sua dignidade construía a conformação e a sua resistência para enfrentar a problemática da vida.

Oliveira, teu azeite é como as oleáceas mediterrâneas, fruto d´alma pura, razão pela qual tua verve alimenta a esperança do nosso viver. Suas décimas consubstanciam uma odisséia de poemas, cachoeiras de galopes e de martelos, repentes divinos.

E é por isso, que a cultura tem endereço certo. A cadeira 29, da ALANE - Academia de Letras e Artes do Nordeste, cujo patrono é o poeta Eulajose Dias de Araújo, é hoje ocupada por Oliveira Francisco de Melo – o nosso Oliveira de Panelas, que há trinta anos reside neste torrão e que já perfaz 45 anos de cordel e repente. Esse artista do povo participou de 298 festivais, tendo conquistado a 1ª colocação 185 vezes e já tendo lançado 15 livros, 22 CDs e 11 LPs. Seu repente já foi ouvido por Fidel Castro, Roberto Carlos e o inesquecível Papa João Paulo II.

Como disseste no improviso de posse: “Não há três tempos no mundo, mas um só – o presente: pois o passado já se foi, o futuro não chegou e, quando chegar se tornará presente”. Seu falar não enjoa, encanta a todos. Obrigado, Panelas.

*Pombalense, Juiz de Direito. João Pessoa - PB.
O Endereço da Cultura O Endereço da Cultura Reviewed by Clemildo Brunet on 8/08/2011 01:31:00 PM Rating: 5

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