A FESTA DO ROSÁRIO
Verneck Abrantes |
ORIGEM
José Tavares |
A Festa do Rosário tem origem histórica que remonta ao século XVI, através da vitória dos cristãos portugueses sobre os muçulmanos, na Batalha de Lepanto - atribuída não apenas à estratégia militar, mas também à proteção da Virgem do Rosário - o culto se perpetuou no Brasil tanto pela extrema fé dos cristãos portugueses como pela crença dos escravos, que a têm como padroeira.
A chegada da Festa do Rosário no Brasil deu-se no período colonial, por intermédio dos frades dominicanos, que já haviam utilizado elementos da cultura negra no processo de catequese nas colônias africanas, como forma de impor o cristianismo junto ao povo sob a dominação portuguesa.
A Festa do Rosário no Brasil ganhou contribuição de elementos peculiares da cultura negra, a exemplo da coroação de reis, lutas e bailados guerreiros, numa rememoração das práticas das terras africanas.
Nas celebrações das tradicionais Festas do Rosário, (chamadas de “oragas”, que significa padroeira), é inegável a presença de imagens e ritos profanos, destaque para a música, dança, comilança e consumo de bebidas alcoólicas. Na verdade, a festa era momento único para os negros sentirem o sabor da liberdade, transgredindo normas e preceitos difundidos pelo Estado e pela Igreja Católica.
As festas do Rosário no Brasil são consideradas riqueza do patrimônio imaterial brasileiro, incluídas entre os eventos mais importantes para a preservação da cultura negra.
A FESTA DO ROSÁRIO DE POMBAL
Não se sabe ao certo quando aconteceu a primeira Festa do Rosário de Pombal, mas pode-se afirmar com certeza que esta Festa foi reconhecida e oficializada pela igreja católica em 1895, graças a persistência do líder negro e primeiro Rei da Irmandade do Rosário de Pombal, Manoel Antônio de Maria Cachoeira (Manoel Cachoeira), que por três vezes viajou a pé à Arquidiocese de Olinda, ate conseguir o consentimento do Bispo para a o reconhecimento da confraria dos negros e a realização do evento.
A Festa do Rosário de Pombal tradicionalmente é iniciada onze dias antes do primeiro domingo de outubro, mas recentemente ficou convencionado que, em anos eleitorais, para evitar coincidência com as eleições, seu ponto culminante deverá ser no segundo domingo de outubro.
O primeiro ato da Festa do Rosário acontece na penúltima quinta-feira antes do primeiro domingo de outubro, oportunidade em que é oficializado o início da festa, através é realizado o do hasteamento do pavilhão do Rosário, em frente a Igreja do Rosário.
Na quinta-feira do Rosário, a população de Pombal é despertada por queima de fogos de artifícios e com o repicar dos sinos da Igreja secular. No início da noite, o Rosário é transladado, em procissão, da residência de um súdito (cidadão) para a Igreja do Rosário, onde ocorre o hasteamento da bandeira e a missa solene.
Após a missa de abertura da Festa, o Rosário é transladado para a Casa do Rosário, localizada a Rua Manoel Cachoeira, primeiro Rei da Irmandade do Rosário, onde fica em vigília até a manha do Domingo do Rosário, quando é novamente transladado até a Igreja do Rosário.
Em todas as ocasiões, o cortejo é acompanhado de muitos fogos de artifícios e de orações, seguido pela população e pelos grupos folclóricos Congos, Reisados e Pontões, sob o comando da Irmandade do Rosário. É a certeza de mais um ano de tradição, de mais um ano da Festa do Rosário de Pombal.
Além de ser a data máxima da expressão da religiosidade e da cultura pombalense, representada pelos grupos folclóricos, expoentes maiores das suas manifestações populares, a Festa do Rosário de Pombal também simboliza um evento de abraços e regozijos, notadamente diante dos reencontros dos moradores da cidade com familiares e amigos que moram fora do município e até em outros Países.
A IRMANDADE DO ROSARIO
A Irmandade de Nossa Senhora do Rosário surgiu na Europa em 1408, sendo que em 1493, através dos portugueses e dominicanos chega ao Congo, quando o catolicismo passa a ser a religião oficial daquele reino. Com a intensificação do tráfico de escravos para o Brasil, em 1552 a irmandade chega em Pernambuco. Em 1711, em Cachoeira do Campo (Distrito de Ouro Preto), é registrada a primeira presença da irmandade em Minas Gerais.
A partir da incursão de Chico Rei na Irmandade do Rosário (1747), a confraria ganha um cunho mais político do que religioso, tornando-se a primeira entidade abolicionista do Brasil, então colônia de Portugal. Em suas reuniões reservadas, a Irmandade tratava de assuntos proibidos pelos brancos, principalmente no que tange às suas reivindicações pela igualdade e justiça, traçando planos pela luta em busca da conquista da liberdade.
Em Pombal, Manoel Antônio de Maria Cachoeira (Manoel Cachoeira), foi declarado oficialmente o primeiro Rei da Irmandade do Rosário. Graças a sua perseverança que, apesar da resistência da comunidade católica local, a Igreja Católica, através do Bispo de Olinda, a qual a paróquia de Pombal era subordinada, foi reconhecido a Irmandade do Rosário, como também ficou
Ao longo da história do Brasil, as Irmandades do Rosário são reconhecidas como as primeira entidades de defesa do direito dos negros, como também estão entre as que têm contribuído para a formação de uma consciência negra no País.
A PROCISSÃO
No domingo da procissão, que se realiza às 8:00 horas da manhã, saída da casa que constitui patrimônio de Nossa Senhora do Rosário, para a igreja e acompanhada pelo padre da freguesia, a Irmandade abre o cortejo com uma grande cruz azul. Os irmãos vestem indumentárias em azul e branco e seguem em dois cordões. Ao centro o Rei e a Rainha conduzem o Rosário, bonito em prata e contas de cristal, seguido de perto pelo Oficiante. À frente da Irmandade, os Negros dos Pontões abrem caminho em meio à grande multidão. Ao final, os congos e a banda de música fecham o cortejo.
Depois da caminhada em procissão, ao som de zabumba e pífaro, incalculável multidão de fiéis se concentram para acompanhar a missa campal, em frente à antiga Igreja do Rosário. O povo, a maioria da zona rural, em obediência ao ato solene, permanece ao sol aberto e quente do alto sertão. Os destaques são das pessoas que vão pagar sua graças e promessas alcançadas: são coroas de espinhos e pedras na cabeça, vestimentas de São Francisco, pés descalços no calçamento quente e outros estranhos pagos de sacrifícios prometidos à Virgem Maria.
No ato final, o padre coloca o Rosário entre as mãos postas e dá a “Benção do Rosário”, os sinos badalam, a multidão de fiéis, ajoelhadas sobre o calçamento, curva, reza agradecida, alguns choram com a realização. Depois do ato litúrgico, os penitentes colocam as coroas de espinho de mandacaru, pedras e outros sacrifícios ao pé do Cruzeiro da Igreja. Em seguida, políticos e outras pessoas percorrem as barracas fazendo coleta de dinheiro para a festejada Nossa Senhora do Rosário.
OS CONGOS
No grande dia da Festa do Rosário, acompanham a procissão até a igreja, onde assistem à missa e outras cerimônias religiosas. Depois saem em visita às famílias da cidade, formada em duas alas, com maracás nas mãos, encabeçadas pelo secretário e pelo embaixador, ao centro o “reis”, de paletó e chapéu-de-sol aberto.
O chapéu-de-sol sempre fez parte do traje real. Durante o cortejo, os congos nem cantam nem dançam, raramente rufam os maracás. Chegando na residência escolhida para dançar, pedem licença e entram para o terraço ou sala de visita.
O dono da casa oferece uma cadeira ao “reis” e em sua observância inicia-se a dança que é bem característica. Depois da exibição, o dono da casa oferece bebidas ou oferendas em dinheiro. Os congos fazem poucas exibições, geralmente quatro, em residências diferentes, depois se retiram para suas casas ou vão aos bares da festa.
OS NEGROS DOS PONTÕES
Os Pontões exibem-se em dois cordões, o encarnado e o azul. O grupo mora na zona rural, sendo constituído quase todo da mesma família. Na cabeça usam chapéu de palha, enfeitados de fitas coloridas. Trazem lanças (Pontões) terminados em maracás, enfeitados em fitas multicoloridas.
Os Pontões usam lanças tanto para abrir caminho na multidão durante a procissão, quanto para fazer exibições na dança e, sobretudo para marcar, com o rufar dos maracás, o ritmo de suas músicas. O acompanhamento é feito por uma banda cabaçal, constituída de tambor, prato, fole e pífano, além dos maracás das lanças. Os Pontões não cantam.
No sábado que procede ao domingo da procissão, alguns membros da confraria do Rosário percorrem a feira de rua da cidade angariando donativos que serão destinados à conservação e manutenção da velha igreja. Esses membros da confraria geralmente estão acompanhados dos Negros dos Pontões, os quais dançam e bebem cachaça, e, com suas lanças enfeitadas de fitas coloridas, colocam as lanças, nos ombros ou na cabeça das pessoas, e seguem enchendo a feira com músicas do seu regional.
O REISADO
Dos três grupos folclóricos que se apresentam na Festa do Rosário, certamente, o que mais chama a atenção é o Reisado, devido à diversidade de suas músicas e danças.
Os ritmos das músicas e danças são marcados por um violão e pandeiro, um apito, sapateado e o canto ritmado com o conjunto. O Reisado apresenta-se com “reis”, o secretário, o general, o mateus, a burrinha, além dos folgazões. Além dos cantos soltos, também apresenta a parte dramática do festejo, com embaixada e guerra.
O entrecho dramático narra o que poderia ser uma revolta na corte do rei, comandada pelo secretário. O mateus é consultado sobre a duração da guerra e verifica as horas em um relógio sem ponteiro. A seqüência é encerrada com uma exaltação cívica à bandeira brasileira.
Textos de Jose Tavares de Araujo Neto e Verneck Abrantes de Sousa
A FESTA DO ROSÁRIO
Reviewed by Clemildo Brunet
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9/21/2011 06:32:00 PM
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