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JURANDI URTIGA: O GOGÓ DE OURO

Ignácio Tavares
Ignácio Tavares*

Faz muito tempo, faz muito tempo mesmo, que o veiculo de comunicação e lazer mais importante da cidade era a velha difusora. Superava até mesmo o rádio. Era através do serviço de alto-falante que se escutava e aprendia os sucessos musicais mais tocados em todo país.

O povo se ligava o dia todo na sua programação para ouvir músicas, receber recados enviados por alguém residente na cidade ou no sitio, ainda, convite missa, enterros, anuncio do filme da noite, e outras coisas mais. Sem dúvida era uma entidade prestadora de serviço público coletivo.

A chamada propaganda comercial ainda era incipiente, assim sendo, não tomava muito tempo do expediente normal da emissora. Agora, o anuncio dos filmes da noite, das matinês, este sim estava presente na agenda diária, porque o cinema era o mais importante momento de entretenimento e lazer visual até então disponível na cidade.

A história do serviço de alto-falante vem de longe. Não sei precisar o ano e o mês em que foi instalada na cidade a primeira difusora. Quando criança fiquei pasmo ao ver Manoel Bandeira a conduzir no ombro um aparelho de alto-falante pra ser instalado na Rua do Comercio.

Foi um momento glorioso, porque se a gente quisesse ouvir a boa musica daquela época tinha que ir pra calçada da Igreja do Rosário onde havia um aparelho instalado a altura da torre.

Tudo isso foi muito antes da rádio difusora Tupã, de propriedade de Rosil Cavalcante, marco inicial da grande mudança que houve no exercício da radio difusão em nossa terra. Antes havia outro serviço onde senhor José Vieira, locutor festejado e admirado pela população local, nos idos dos anos quarenta, era a maior audiência em todos os horários.

Não pretendo fazer história, até porque não disponho de informações para tal. Quando surgiu a radiofonia moderna, organizada não me encontrava mais em Pombal. As lembranças que guardo das atividades radiofônicas, dizem respeito à primeira metade dos anos sessenta e nada mais. Desse modo, guarda a lembrança de locutores como Lucrécia, Zé Geraldo, João Rapadura, Jurandi Urtiga, entre outros.

A propósito, fala-se muito na história da radiofonia da terrinha, mas, esquecem de falar da importância dos locutores que atuam, ontem e hoje, como elo de ligação da emissora e o povo. No meu modo e pensar, sem querer desmerecer os demais, pra mim o melhor locutor de todos os tempos, aqui na terrinha, foi Jurandi Urtiga.
Jurandi Urtiga (foto)
Era um craque. Comunicava-se com os ouvintes sem necessidades de estardalhaços ou outras formas de apelações. O seu modo de transmitir as mensagens da emissora cativava a população ouvinte. O ponto alto da sua locução era a hora do Ângelo. Ninguém jantava sem antes ouvir a Ave Maria recitada por Jurandi.

Como musica de fundo rodava a Ave Maria de Schubert. Com seu vozeirão, numa linguagem clara e compreensível, bem cadenciada, justo às dezoito horas em ponto, iniciava a leitura da mais antiga prece rezada pelo povo Cristão. Lá em casa era comum ouvir-se: “Drizo hoje está demais”. Daqui a pouco ele vai celebrar missa, quem sabe? Pra quem não sabe Jurandi, de forma carinhosa, era chamado Drizo pelas pessoas mais próximas da família.

É verdade que Jurandi nasceu com o dom da boa locução. É pena que não seguiu em frente, pois podia ter sido o nosso Cid Moreira, com muito orgulho. Também é verdade que outros locutores brilharam assim como Jurandi. Hoje mesmo, temos bons locutores merecedores de reconhecimento como tais.
Jurandi Urtiga na Festa do XIX Enc. Filhos de Pombal
Se fosse criada uma comenda de reconhecimento pelos bons serviços prestados pelos operários da locução, do tipo “Gogó de Ouro”, pra mim Jurandi seria o primeiro a ser agraciado, porque na sua época, foi único, imbatível, no exercício da sua atividade. Fica aqui a sugestão.

João Pessoa, 12 de Setembro de 2011

*Economista e Escritor Pombalense
JURANDI URTIGA: O GOGÓ DE OURO JURANDI URTIGA: O GOGÓ DE OURO Reviewed by Clemildo Brunet on 9/12/2011 06:42:00 PM Rating: 5

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