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Eloá, seu coração ainda vive

Juiz Onaldo Queiroga
Onaldo Queiroga*

O paraibano Lindemberg, movido pelo inaceitável sentimento passional, fez todo o Brasil assistir, de forma perplexa, no ano de 2008, ao assassinato da jovem Eloá. Foram mais de quatro dias de um sequestro que redundou no fim trágico, horripilante e que levou a vida da jovem, mas nunca o seu coração.

Eloá, mesmo na simplicidade de sua vida, mostrava-se uma adolescente alegre, feliz e de bem com o mundo. Seu algoz se aproximou, inicialmente mostrando-se amável, mas, na verdade, por baixo da pele daquele romântico havia um psicopata de alta periculosidade. Quem ama não mata. O amor transcende atos carinhosos, compreensivos e solidários. O amor tem como requisito maior a espontaneidade e a ausência da exigência de reciprocidade. É ato de doação, sem se esperar retorno.

Lindemberg, ao enamorar Eloá, entendeu, com seu raciocínio doentio, que a menina passara a ser sua propriedade e que, portanto, lhe pertencia. Por isso, não aceitou o rompimento do relacionamento. É inacreditável como, em pleno Século XXI, o homem ainda tenha em mente essa concepção machista tão deplorável. Mas, inacreditavelmente, mesmo depois de tamanha barbárie, continuamos assistir a novos Lindembergs assassinarem outras Eloás.

Dois tiros à queima roupa, disparados por Lindemberg, ceivaram a vida da pequena Eloá. Restou-nos a lembrança da sua imagem moldada naquela pequena janela de apartamento. Mesmo com o revólver junto ao ouvido, Eloá ainda trazia no seu semblante o traço da esperança de sair dali com vida. Lindemberg não merecia o coração de Eloá, de onde afloravam vida e amor, coisas incompreensivas para um assassino sem coração.

Eloá se foi, mas o seu coração não. Sua mãe, no momento de maior aflição, perpetrou um gesto grandioso, ao doar vários órgãos da jovem, inclusive seu coração, salvando assim diversas vidas que há tempo aguardavam por uma ação tão nobre. Hoje, o coração de Eloá habita o peito de outra jovem, tão bela como a própria Eloá. Maria Augusta foi salva pelo amor à vida. O coração de Eloá ainda bate, ainda pulsa, distribui esperança, paz e amor. Que no seu novo habitat, no peito de Maria Augusta, ele possa encontrar um amor verdadeiro, que lhe traga flores e não o fogo da morte.

Basta de tanta violência. É preciso valorizar a família, compreendendo que promiscuidade não é amor.

*Pombalense é Juiz de Direito da 5ª Vara Cível de João Pessoa - PB.
Eloá, seu coração ainda vive Eloá, seu coração ainda vive Reviewed by Clemildo Brunet on 3/04/2012 05:37:00 AM Rating: 5

Um comentário

JERDIVAN NOBREGA DE ARAUJO disse...

Parabéns ao Paulo.
Eu já havia lido algo a respeito de Ciço de Erice, escrito por meu tio Ignácio Tavares, que veio a se somar aos traços de Paulo.
Fico feliz cada vez que chega em minhas mãos historias do nosso povo, principalmente os mais humildes, folclóricos e foram esquecidos.Falar deles e revive-los em nas ruas da nossa cidade
Parabéns e obrigado Paulo Abrantes

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