ENCOSTO
Severino Coelho Viana |
Por
Severino Coelho Viana*
A nossa linguística tem o seu
vocabulário próprio que o homem deu significado na vida corriqueira, no
entanto, numa análise minuciosa, encontra-se apoiado dentro de uma filosofia
universal.
A cultura nordestina é uma das mais
variantes do país, quando falamos sobre literatura, música, teatro, dança,
artesanato, comidas típicas, estórias de assombração, misticismo, etc.
Etimologicamente, a palavra ENCOSTO,
segundo os dicionaristas, é o lugar ou objeto a que alguém ou algo se encosta;
arrimo; apoio, proteção, no entanto, no sentido religioso, o termo é
compreendido como ESPÍRITO que fica ao lado de alguém para protegê-lo ou
prejudicá-lo. É a chamada POSSESSÃO ESPIRITUAL que, dependendo do grau de
apoderamento carnal para expurgá-lo é necessário uma sessão de exorcismo.
A presença de doenças que os médicos não
sabem explicar e não encontram a raiz do problema também podem ser causadas
pelo processo de vampirização da energia de um encosto.
No meio usual da linguagem popular, o
ENCOSTO recebe termo de sentido pejorativo: “o diabo nos couros”, “satanás nas
costas”, “o demo”, “o filho do capeta”.
Sabiamente, o sertanejo chama de ENCOSTO
quando um espírito mundano se aproxima de uma pessoa para sugar as suas
energias. Um encosto pode se aproximar de alguém a mando de outra pessoa, que
realizou um trabalho espiritual ou porque ele viu nas ações desse alguém uma
brecha para se aproximar e tomar conta da vida dela, comprometendo-se com
espírito maligno através de oferendas, sacrifícios ou através da própria
servidão, colocando-se à disposição dos espíritos perdidos.
De acordo com os estudiosos no assunto,
o encosto ou apoderamento carnal pelo espírito maligno apresenta alguns
sintomas que são visíveis: o paciente vive em desânimo para com a vida, sente
melancolia sem causa, insônia permanente, enxerga somente o lado negativo dos
fatos, começa a cultivar ideia de suicídio, apresenta perda de memória, vive se
culpando e com remorso sem causa. É acometido pela doença do pânico, entrega-se
ao vício, descuida-se da higiene pessoal, está sempre com sensação de vazio,
aparece rápido emagrecimento ou ganho de peso, problemas insolúveis de saúde
sem causa diagnosticada. O encostado ouve sons e ruídos, formigamento na cabeça,
sensação de está sendo obervado e seguido o tempo inteiro por espírito, ouve
passos, barulho dentro de casa, tem visão de fantasma e vulto, capta chiados,
barulho dentro de casa, escuta chamar o nome quando está em lugar sereno, etc..
O interessante é que vários segmentos
religiosos ou espirituais seguem os seus ritos específicos para o
desabrigamento do encosto perdido dominando o corpo alheio. É importante
salientar que, apesar da crença vir do espiritismo, várias religiões oferecem
suporte para um tratamento espiritual. A católica, além do exorcismo, trata
pela imposição das mãos, a espírita com passes e água fluída, a umbanda pelo o
descarrego dos espíritos inferiores. Os evangélicos tiram espíritos malignos em
pleno programa ao vivo de televisão.
A comprovação da existência dos encostos
na vida humana está presente nas escrituras sagradas de muitas religiões, como
também nos relatos de pessoas que tiveram experiências sobre naturais. Na
Bíblia, encontramos relatos de espíritos maus que assumiram o controle de
humanos. Em alguns casos, as pessoas endemoniadas ficavam cegas ou mudas, ou
até machucavam a si mesmas. —(Mateus 12:22; Marcos 5:2-5). No Corão fala do
SHAITAN, entidade que o islamismo considera o espírito maligno. O hinduísmo da forma que o conhecemos mostra
que existem os curavas e estes atormentam a vida e desvia seguir o caminho de
retidão, ou seja, atuam na mossa mente desviando do caminho do bem. No campo da
ciência espírita compreendemos que o espírito maligno nasce do espírito humano
de má índole, conforme explica o livro intitulado de “O Evangelho Segundo o
Espiritismo: “O Espiritismo demonstra que esses demônios não são mais do que as
almas dos homens perversos, que ainda se não despojaram dos instintos
materiais...” (O Evangelho Segundo o Espiritismo, Kardec, cap. XII, item 6).
“Se houvesse demônios, seriam obra de Deus. Deus, que é soberanamente justo e
bom, não pode ter criado seres predispostos ao mal por sua natureza e
condenados por toda a eternidade” (Livro dos Espíritos, Kardec, quesito 131).
Para o Espiritismo, Satanás, anjos maus, demônios são maus espíritos
desencarnados, em fase de evolução”.
Pela nossa experiência de vida,
constatamos dois tipos de encosto: o encosto espiritual e o encosto humano. O
diferencial entre os dois tipos, concebemos que o encosto humano é muito mais
perigoso que o encosto espiritual, pois não é tão fácil o desentranhamento do
nosso viver, e, por cima, não conhecemos um tipo de exorcismo humano. O encosto
humano se manifesta através da mente invejosa, do coração de maldade, da mania
de perseguição, de um ato de pura ruindade por não querer ou não aceitar o
bem-estar de outrem. Atua de maneira maquiavélica levando ao crime, induzindo
ao vício, direcionando ao tráfico e aclamando as suas astúcias em busca do
desajuste familiar e a decadência social. O olhar diabólico alcança o rasgo do
bem vestir à destruição da fraternidade entre uma amizade de fidelidade e
reciprocidade. O pior desastre do encosto humano é que sua meta maltrata o bem
viver e chega a eliminar a vida humana. Do seu tridente maléfico ninguém escapa
cuja representação nós encontramos personificado na figura do amigo falso.
Mas nem sempre atitudes agressivas,
depressão ou cansaço constante são sinais claros da presença de um encosto, muitas
vezes, é apenas um desvio de caráter ocorrido decorrente de más escolhas e
ações negativas da pessoa que vive envolvida num mundo de desordens social, por
exemplo, o vício e tráfico de drogas, ou, ainda, pessoa que tem um pensamento
totalmente voltado para fazer o mal junto aos seus familiares e aos vizinhos.
O melhor escudo de combate ao encosto
espiritual ou humano é se agarrar ao fervor de uma oração.
João
Pessoa PB, 02 de novembro de 2017.
*Escritor
pombalense e promotor de Justiça em João Pessoa- PB
scoelho@globo.com
ENCOSTO
Reviewed by Clemildo Brunet
on
11/02/2017 09:55:00 AM
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