A CORAGEM DE BODE VELHO
Leozinho |
Por Leônidas Henriques Filho*
Quem ainda lembra de Bode Velho?
Personagem esquisitão.
Alto,
de passo rápido,
sempre com falta de banho
e com muito bafo de cachaça.
Cabelos escorridos e sebosos,
Em seu caminhar rápido também tinha o seu murmúrio de um comentar que ninguém entendia o que era, nem tampouco a razão daquela sempre pressa...
Noite quente,
Praça Getúlio Vargas,
No banco onde fica o busto de Getúlio sempre aconteciam as melhores das conversas, das crônicas de Pombal, do falar mal, do falar bem...
E lá estava uma das tribos em seus afazeres de conversar e comentar.
Por volta das 23:00h, do meio do nada, aparece Bode Velho incomodando por tudo que ele era.
Bode Velho (Foto) arquivo Verneck |
Passou a interromper a conversa, os comentários...
Para se livrar daquela presença, alguém da turma deu uma grana sugerindo que ele fosse lá em um lugar qualquer tomar uma meiota de cachaça.
Com a grana na mão, ele não pensou duas vezes e lá foi tomar a meiota sugerida.
E a conversa voltou. Por um tempo apenas razoável.
De novo reapareceu Bode Velho, de meiota tomada e de conversas sobrepostas na conversa de todos.
Numa tentativa de inibi-lo, foram puxadas as conversas de tudo que é assunto e a cada abordagem Bode Velho sempre vinha com uma conversa exageradamente mais interessante do que aquela que iniciava o assunto.
Quando então foi puxado o tema assombração e coragem.
Bode Velho, não deu outra, assuntava mais assombração e coragem do que qualquer das histórias contadas, e a tribo passou a ter medo das histórias que ele contava.
Foi então que alguém, questionando a coragem de Bode Velho, perguntou se ele, àquela hora (já passava das 23:00 h e não tinha mais nenhum vivente nas ruas de Pombal) tinha coragem de entrar no cemitério.
Sem titubear, ele respondeu que SIM.
Ali foi a ele proposto, já que tanta coragem era dita, entrar no cemitério e pegar a cruz no túmulo de um personagem importante de nossa cidade, que ficava exatamente no meio geográfico do cemitério.
Após a negociação do preço da coragem que era equivalente ao preço de umas duas garrafas de cachaça, lá foram todos em direção ao cemitério.
A tribo ficou no recuo, na altura da entrada do trem na Brasil Oiticica, e lá foi Bode Velho.
Como o cemitério estava com o portão trancado, Bode Velho escalou o velho portão, subiu no muro e pulou para dentro do cemitério.
Ato feito, toda a tribo iniciou uma corrida de volta para a praça, já que tinham se livrado de Bode Velho.
No meio desta corrida de volta, alguém propôs voltar para ver se Bode Velho realmente pegaria a cruz.
Entre medos e dúvidas, resolveram voltar.
Na espera ficaram escondidos.
Já passava de meia noite naquela noite estrelada de lua cheia.
O inesperado começou a acontecer.
Uma porta de uma casa próxima ao cemitério foi aberta e de lá saiu um cara.
Caminhou rente ao muro do cemitério.
Os olhares da tribo se dividiam entre o andar do cara e o muro do cemitério.
O cara parou o seu caminhar na entrada do cemitério, abriu a braguilha e começou a mijar.
Apenas começou porque, ato contínuo, foi surgindo um vulto – o de Bode Velho – escalando o muro com a cruz enganchada no ombro.
E o cara mijando,
E Bode Velho de pé no muro,
Brandindo o troféu (a cruz) gritou para o cara, confundindo-o com um da tribo:
- VOCÊ NÃO DISSE QUE EU NÃO TINHA CORAGEM!?!?!?! ME DÊ O MEU DINHEIRO.
Foi terminando de falar o seu gritar e pulou do muro aos pés do mijante aterrorizado.
O mijante aterrorizado com aquela alma que veio das profundas do cemitério. Deu a primeira passada de uma carreira mais do que rápida e nela, tamanho o vigor da arrancada, partiu a calça em duas. Correndo e gritando a plenos pulmões em direção aonde estavam todos, e gritava dizendo:
SARGENTO SEBASTIÃO, SARGENTO SEBASTIÃO, ME ACUDA!!! UMA ALMA QUER ME PEGAR.
E Bode Velho correndo atrás do cara, brandindo a cruz pro cara e a gritar e a cobrar, dizendo:
ME DÊ MEU DINHEIRO QUE EU GANHEI A APOSTA ME DÊ MEU DINHEIRO...
E todos corriam tanto:
o mijante em direção a qualquer salvação,
a tribo para a segurança dos seus lares.
Tanto corriam que os pés chegavam a bater na bunda, tamanho a intensidade da corrida.
A tribo corria com medo de tudo e até sem saber se era de fato Bode Velho ou alguma alma penada que havia entrado naquela história.
Para quem esqueceu, Sargento Sebastião que é o pai de Nego Jackson, tinha um bar perto da Brasil Oiticica, foi quem trouxe peixe do mar e carne de baleia, como tiragosto, para Pombal e era conhecido por sua valentia e perversidade quando era ativo da Polícia Militar.
A tribo que estava nesta confusão era mais ou menos a seguinte: Solidon, Piragibe, Hermínio Neto, Manuel Pedro, João Maurício, ... dentre outros que a memória não mais consegue retornar.
*Leozim de Leó, (filho de Leó fotografo e engenheiro e elétrico.
A CORAGEM DE BODE VELHO
Reviewed by Clemildo Brunet
on
3/05/2012 05:16:00 AM
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