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A GRANDE FÁBRICA FECHOU PARA SEMPRE




Jerdivan Nobrega de Araujo*
Outubro de 1977.

Jerdivan Nóbrega de Araújo
A sirene da Brasil Oiticica alarmou às 17:00 horas... Era o alarme de saída.

—Eu bem que avisei que não tocassem a sirene na saída.

Os catadores de oiticica, mamona e castanha se aglomeraram na porta da fábrica para entregar a suas colheitas, mas não mais havia ali quem ás comprasse.

— Eu bem que avisei que a Brasil Oiticica não tocaria às 7:00 horas da manhã, para o retorno dos operários.

Com o fechamento da fábrica sem que os políticos movessem uma palha, a cidade amanheceu mais pobre. Os seus operários arrumaram suas malas e foram morrer no sul do país. Centenas de “Maringás” deixaram para trás as viúvas e os órfãos do descaso e da miséria e foram tentar a sorte em São Paulo, numa triste e silenciosa partida ao som da sanfona branca de Luiz Gonzaga.

Eu nunca pensei que a velha chaminé, que tanto nos fez tossir ao expelir a sua fumaça preta, nos faria tanta falta.
Clemildo Brunet e Marco Coutinho (IPHAEP-PB)

—Como Zé de Bú e Zé da Viúva e tantos outros vão dar de comer aos seus filhos?

A Velha fábrica vai se transformando num imenso cemitério onde famílias inteiras sepultaram suas últimas esperanças. A chaminé de tijolos que sempre representou a industrialização, agora mais parece um dedo em riste para os políticos que a deixaram morrer, se transformando num imenso cemitério de sucatas.

A cidade Pombal, que já foi considerada a maior produtora de oiticica do Nordeste vê as sementes redentoras daquele fruto caírem ao chão e apodrecerem como se fossem pérolas jogadas aos porcos. Os silos, onde outrora era armazenado o óleo e a esperança do nosso povo, refletem prateada a luz do sol que ofusca a visão dos que não querem enxergar a falta que aquela fábrica nos faz.

A sirene que nos chamava para trabalhar não mais se rasga em estridentes e angustiantes gritos; o seu silencio é uma forma que ela encontrou para torturar aqueles que acordam às sete da manhã sem ter aonde ir trabalhar, de lembrar às onze da tarde que é hora do almoço na casa de trabalhadores desempregados e, ainda toca uma última vez ao entardecer, para que os angustiados desempregados que se embriagam nas muitas ingazeiras na beira do rio, não esqueçam de bater o ponto final das suas vidas, agora tão ociosas.

Professora Marinete entra na sala à espera dos filhos dos operários para ensiná-los a escrever a palavra esperança. Eles não puderam vir. Seus pais foram procurar trabalho noutras localidades e eles agora têm que cuidar das suas casas.

—Para onde foram os craques do “Bosa Futebol clube?”

Às vezes me deparo com “Seu” Inácio, o zelador, fazendo a ronda em volta da velha fábrica, lutando contra o implacável tempo que aos poucos devora aquilo que, como ele diz: “Foi parte da minha vida!”

Eu acho que no dia que a Brasil Oiticica voltar a apitar chamando seus trabalhadores para processar a amêndoa da Oiticica, o trem Asa Branca aparecerá na curva do rói trazendo um bocado de pombalenses que se encontram perdidos em terras alheias.
*Advogado, escritor, autor de vários livros e pesquisador da história de Pombal. 
A GRANDE FÁBRICA FECHOU PARA SEMPRE A GRANDE FÁBRICA FECHOU PARA SEMPRE Reviewed by Clemildo Brunet on 6/12/2012 11:13:00 PM Rating: 5

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