Gira o tempo e eu aqui
Onaldo Queiroga |
Onaldo
Queiroga*
No mês de outubro
de 2012 viajei para minha terra natal, Pombal, a fim de participar da
tradicional Festa de Nossa Senhora do Rosário. Foi um momento singular, pois
tive a satisfação de reencontrar amigos, como também conter as lágrimas ante a
ausência daqueles que já fizeram a derradeira viagem. Mesmo assim, andei pelas
ruas onde dei os meus primeiros passos, olhei o céu azul e o Sol das alvoradas
do meu sertão, senti a temperatura que faz tremular calçamento e o calor que
aquece a terra e as relações humanas.
Ouvi de alguns
pombalenses que a festa não era mais a mesma. Realmente, não é mais aquela do
nosso tempo da infância e
da nossa adolescência. Hoje, os "parques” parece
que diminuíram, de fato. Na sexta e no sábado, as festas de clube não mais
acontecem no Pombal Ideal Clube, mas sim na AABB, distante do centro e da
festa. Além do mais, muitos amigos de outrora, não mais residentes na terrinha,
não tiveram, por situações particulares, condições de comparecerem ao
reencontro anual. Mas, a
despeito disso, continua sendo a festa tradicional, onde o Grupo folclórico “Os
Pontões”, ainda hoje, sai pelas ruas com sua indumentária e seus sons afros
seculares, amanhecendo e acordando todos os filhos de Pombal na alvorada do
domingo do Rosário.
Ao chegar na
minha rua, logo encontrei Dedé Calixto e Aldenora, vizinhos e amigos antigos
meus, dos meus pais e dos meus avós maternos. Após longa conversa, entrei na
minha casa, a de nº 123 e andei por todos os ambientes. Era como buscasse
reencontrar alguém. Senti uma paz enorme, e logo foram chegando alguns amigos
de infância, passando a conversa a caminhar por um tom nostálgico, ocasião em
que rememoramos as coisas boas já vividas, e que a poeira do tempo só nos
permite alcançar apenas através de pensamento. Mais tarde, fui almoçar na casa
da tia Ozaide e do tio Zeridan, momento único, pois pude desfrutar dos seus
quitutes novamente, relembrar das traquinagens do menino “Naldinho” e das
tardes dos anos 1980, quando ouvíamos Fagner cantar de Mercedes Sosa a canção
Años.
Com a chegada da
noite, a emoção aumentou. Lá estávamos eu, Márcia e meus pais, na Rua Nova indo
para a Praça do Bar Centenário. Ali, contemplando a grande roda gigante e os
cavalinhos, vi a maturidade e a infância num só momento. Viajei no tempo,
então, eu disse: - Gira a roda gigante, giram os cavalinhos, gira o tempo e eu
aqui.
A vida é para ser
vivida intensamente. A Festa do Rosário tem o poder de impulsionar os
reencontros e fustigar as lembranças, como também a saudade, mas, acima de
tudo, entrega-nos a certeza de que somos felizes porque ainda estamos aqui
revivendo e vivendo novos momentos.
*Escritor
pombalense e Juiz de Direito da 5ª Vara Cível em João Pessoa PB. onaldoqueiroga@oi.com.br
Gira o tempo e eu aqui
Reviewed by Clemildo Brunet
on
11/30/2012 01:34:00 PM
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