Um mês de todas as Justiças
Genival Torres Dantas |
Genival Torres Dantas*
Novembro mês que antecede aos
festejos natalinos e a virada do ano, quando a emoção toma conta do mundo
cristão e a fraternidade universal é festejada na sua plenitude. Mas, é em
novembro que começamos a comemoram nossos santos (01), uma tradição desde 608
ou 609 DC, e mantida até hoje. Dia 02 vem a nossa gratidão e respeito pelos
nossos antepassados, amigos e tantas outras pessoas que desencarnaram e as
mantemos vivas em nossas memórias, um dia guardado cujo inicio registra-se o
ano de 998 DC.
No Brasil, temos comemorado
outros fatos históricos no mês de novembro, importantes para a nossa cultura.
Dia 15 festejamos a Proclamação da República, uma data de muita relevância histórica e
para a unidade federativa que a mantemos à custa de muita luta e sangue, no
passado. Sendo, o Brasil, um país laico, fazemos festas aos
nossos deusas e ídolos religiosos, inclusive na crendice popular, e é nessa
linha de respeito aos credos e crenças religiosas que comemoramos também no dia
(15), o Dia Nacional da Umbanda, instituído pela Lei 12.644/12, religião
praticada desde a Lei Áurea, 13 de maio de 1888, extinção da escravidão no
Brasil, época em que os cultos de origens africanas eram tratados com violência
pela policia que reprimia essas manifestações. É bom ressaltar que a Umbanda
superou as dificuldades e intempéries dos tempos perversos à sua prática,
absorvendo valores do catolicismo e do próprio espiritismo, crescendo com a diversificação e pluralidade da alma, principalmente pelo fundamento do respeito ao próximo.
Dia 19 comemoramos um dos
nossos mais respeitados e respeitáveis símbolos oficiais da República
Federativa do Brasil, a Bandeira Nacional, acompanhada dos outros, como as
Armas Nacionais, o Hino Nacional e o Selo Nacional. A nossa atual bandeira
nacional é a segunda republicana e a terceira desde sua independência, hoje com
27 estrelas brancas, representando os 26 Estados da Federação e o Distrito
Federal, em vigor desde 11 de
maio de 1992, com a inclusão de mais quatro estrelas (antes eram 23)
representando os novos estados do Amapá, Tocantins, Roraima e Rondônia.
Com o lema nacional Ordem e
Progresso, que é a forma abreviada do lema político Positivista, autoria do
francês Auguste Conte, que é a tradução: L’amour pour principe et l’ordre pour
base; le progrès pour but, ou seja, O Amor por princípio e a Ordem por
base; Progresso por fim. Euclides da Cunha, nosso escritor maior, disse:
"O lema da nossa bandeira é uma síntese admirável do que há de mais
elevado em política".
Quem de nós, da nossa geração, não lembramos com saudades
do Hino à Bandeira, cantada quando do hasteamento do Pavilhão Nacional, ao
entrarmos nos nossos colégios, onde o respeito aos mestres imperava sobre todas
as coisas. A música de Antônio Francisco Braga com a letra do poeta Olava Brás Martins dos Guimarães
Bilac. A obra de ternura e poesia, além do efeito cívico traduzia aos nossos
corações toda emoção vivida pelo povo que somos na nossa miscigenação.
A Assembleia de Deus em 19 de novembro de 1910 chegou ao Brasil via
Belém do Pará, através dos missionários suecos
Gunnar
Vingren e Daniel Berg, que vindos dos Estados
Unidos. inicialmente, frequentaram a Igreja
Batista, até constituirem a Venerável Assembléia de Deus. Se
constituindo hoje, no ramo pentecostal, a maior do Brasil e uma das maiores do
mundo.
Foi também em 19 de novembro, mas de 1969, que o nosso
artista maior da bola, Edson Arantes do Nascimento, mineiro de Três Corações,
portanto, tricordiano, mundialmente conhecido como Pelé, o rei do futebol, num
jogo em que o seu time, o Santos Futebol Clube, vence o Vasco da Gama por dois
gools a um, pelo Torneio Roberto Gomes Pedrosa, campeonato brasileiro da época,
momento em que ele fez seu milésimo gol como jogador profissional, marcando
para sempre aquela noite memorável para o estádio do maracanã, e a carreira do
goleiro vascaíno o lendário argentino, Edgardo Norberto Andrada, por ter
tomado o milésimo gol do Pelé.
Dia 20 o Brasil se volta às
suas raízes e em respeito ao grande líder Zumbi dos Palmares (AL), estabelece
esse dia como o Dia da Consciência Negra, comemorado em todo o Brasil, sendo
feriado em quase 800 cidades, dentre elas Rio de Janeiro e São Paulo, cidades
com profundas raízes culturais da África mãe, que perpetua todo respeito a raça
negra, que ajudou a fazer um país pujante, apesar de toda segregação e
preconceito aqui existente, velada pela absoluta falta de caráter dos que se
acham acima da história de todos nós.
Dia 22, próximo passado, o
Brasil passa a escrever uma nova história cultural e política, começamos a sair
das homenagens e editar um novo histórico no nosso currículo Assume, naquela
data, a presidência do Supremo Tribunal Federal (STF), (substituto da Casa da
Suplicação, período do império, por força da primeira Constituição Brasileira,
de 1824), o ministro Joaquim Benedito Barbosa Gomes. Mineiro de Paracatu, 59
anos, advogado, professor, jurista e magistrado. Sendo o primeiro
ministro reconhecidamente negro do STF. Anteriormente já compuseram a Corte, Pedro
Augusto Carneiro Lessa, mulato claro, sendo o primeiro afro-descendente a ser
ministro do STF, 1907-1921, depois, o mulato escuro, mineiro
de Januária, Hermenegildo de Barros, período de 1919-1937.
O Brasil não está comemorando
apenas a posse de um novo presidente da suprema corte, e por ele ser negro,
mas, o comportamento do ministro no exercício do ofício de juiz, pela sua
retidão, seriedade e serenidade, predicados que vieram a público com a
relatoria do Joaquim Barbosa, na Ação Penal (AP) 470, popularmente conhecida
como mensalão, e por outras ações dentro do judiciário que fizeram do ministro
conhecido pela sua determinação e coragem no enfrentamento com o poder público
e econômico, compostos pelos mandatários do destino da nação.
Com a ascensão do ministro
Joaquim Barbosa, ao cargo máximo do STF, por um período de dois anos, toda expectativa gerada e os resultados
positivos na opinião pública, em torno do mensalão, o Poder Judiciário passa
ser a porta da esperança para uma nova realidade brasileira. Temos a certeza
plena que o mundo do crime terá um tratamento igualitário nos próximos anos, não
havendo diferença de classes sociais, nem credo, cor, corrente política ou
religiosa. O ser humana deverá ser tratado igualmente, como efetivamente deve
ser. A certeza nessa nova realidade é que o ministro Joaquim Barbosa não está
sozinho na nova caminhada. Infelizmente para a suprema corte, o ministro Carlos
Augusto Ayres de Freitas Brito, sergipano de propriá, e o ministro Antonio Cezar
Peluso, paulista de Bragança Paulista, tiveram suas aposentadorias compulsórias
decretadas. Perdas lamentáveis para o judiciário, pelo que os ministros
representavam para a justiça, com competências e profundos conhecimentos
técnicos e princípios humanitários, que pontilharam as carreiras dos meritíssimos juízes.
Dos remanescentes e pares, do ministro Joaquim Barbosa, no
STF, e com a nomeação de mais dois, em substituição aos aposentados, perfazendo
o total de onze componentes, certamente haverá um comprometimento e
comportamento equilibrado, dando ao poder judiciário toda confiança e
credibilidade nas suas futuras ações. Realidade que esperamos com muita
ansiedade e que só o tempo e as sentenças dos membros da Suprema Corte nos
mostrarão os seus reais efeitos positivos, principalmente para o pensamento
político e popular que se avizinha.
*Escritor
e Poeta
Um mês de todas as Justiças
Reviewed by Clemildo Brunet
on
11/26/2012 07:32:00 AM
Rating:
Nenhum comentário
Postar um comentário