Uma Decisão para Poucos
Genival Torres Dantas |
Genival Torres Dantas*
Depois
de 598 anos o mundo volta a discutir a renúncia de um Papa da Igreja Católica
Apostólica Romana. O último papa a renunciar ao cargo foi Gregório Xll em 1415,
tendo falecido em 1417 quando foi eleito o novo papa Martinho V, portanto, não
ocorrendo registro na história da substituição do papa no período, constando
apenas a vacância do cargo.
Nesses
quase dois milênios de Igreja Católica e
265 papas a ocupar a posição de maior
prestígio dentro de uma igreja, até hoje constituída e reconhecida mundialmente
pelo cristianismo, tivemos outros casos de abdicação. O papa Ponciano foi
obrigado a renunciar em 235. No ano 535 outro papa que tomou o mesmo destino,
por questões políticas, foi o Silvério. O João XVlll que ficou no cargo de
Lembrado a atuação dos papas nos
últimos 60 anos, o 260° papa, Pio Xll, 1939/1958, atuando no período da segunda
guerra mundial, foi alvo de dabates e polêmicas em decorrência de sua posição
imparcial ao conflito, posição correta para um lider religioso de tamanha
importância.
João XXlll, 1958/1963, o 261° papa,
foi um grande conciliador, com gestos simples e sinceros, foi aclamado no seu
tempo como o papa da bondade, mesmo assim a minoria de católicos
tradicionalistas acusava-o de ser um
maçom radical e esquerdista; e por ter pregado a liberdade religiosa e o
ecumenismo, além de convocar o Concílio Vaticano ll, foi rotulado de herege
modernista.
Com a morte do Papa João XXlll
assume Paulo Vl, 262° papa. Ele representou a harmonia dentro da igreja, na
conciliação entre os opostos, seu pontificado foi marcado pelas profundas
reformas políticas reformistas. Foi fervoroso devoto mariano, tendo participado
de várias reuniões Mariológicas, manteve o diálogo com o mundo de outras
religiões e irreligiosos. Lutou pelo fim do sofrimento dos pobres do Terceiro
Mundo, ocasionado pela fome e a miséria exigindo a participação dos ricos,
tanto das Amécias como a Europa. Muito embora, contrário ao controle da
natalidade pelos métodos artificiais, um dos temas conflitantes dentro da
igreja há muito tempo, ele teve seus pontos de vistas respeitados pela sua
convicção.
O Papa João Paulo l, o 263° papa,
teve uma passagem rápida, ficando apenas 33 dias no cargo, mas teve o respeito
dos religiosos de todo mundo pela sua humildade, com atitudes de despojamento e
a maneira de se comportar diante da suntuosidade do poder que lhe era revestido.
Sendo o primeiro papa depois de Clemente V a não aceitar a coroação formal e
não se permitia ser carregado na liteira, dava, dessa forma, uma mostra da sua
coerência.
O polonês Karol Józef Wojtyła, João Paulo ll, 264° papa, um dos mais
influentes líderes do século passado, teve uma extraordinária luta nas relações
da sua igreja junto as demais seitas e religiões melhorando o relacionamento
entre os religiosos de todo mundo, destacando a Igreja Ortodoxa, o Judaismo, e
as Religiões Orientais, apesar de ter sido contra a contracepção e a ordenação
de mulheres mereceu o apoio dos religiosos livres e de bons costumes. Foi um
grande viajor e peregrino da paz, fé e esperança, contra as desigualdades sociais.
Finalmente, com o falecimento do
João Paulo ll, assume o trono da Igreja Católica, Joseph Alois Ratzinger, Papa Bento XVl, o 265° religioso ao asumir tão
importante cargo e missão. Bento XVl é eleito no Conclave de 2005, em 19
de abril daquele ano aos 78 anos e 3 dias, vai ficar no cargo até 28 do
corrente, com horário marcado para renúncia as 20:00 horas. O mundo questiona a
atitude do líder regioso damais antiga e importante religião em todo mundo
cristão.
Buscando respaldar meu ponto de
vista nas atitudes dos homens que fizeram a história praticando o bem pelo bem
estar da humanidade, só posso passar a admirar muito mais a personalidade
firme, de espírito nobre, o comparado aos imortais: Jesus Cristo, esse dispensa
comentários, o maior de todos, representa o próprio Cristianismo; Mohandas Karamchand Gandhi, Mahatma Gandhi,
grande líder indiano, assim como Cristo, deu a vida pela sua causa, pelos
pobres; Martin Luther King, Jr., Ministro da Igraja Batista, Prêmio Nobel da
Paz, em 1964, assassinado em 04 de abril de 1968 defendendo os negros e pobres
que serviam uma guerra sem causa, a do Vietnã; junta-se a esses, Nelson
Rolihlahla Mandela, simplesmente Nelson Mandela, mundialmente conhecido por sua
luta pelos pobres do mundo, podia ter ficado sendo reeleito quantas vezes
quisesse ao cargo de presidente da África do Sul, mas, por uma questão de
princípios largou o poder para continuar lutando em benefícios dos irmãos
negros, de uma África marcada pela miséria e a fome.
Volto ao
tema original, para não ser enfadonho. Bento XVl. Num gesto de profunda
grandeza, em nome da igreja e seus seguidores, sabendo dos seus limites
físicos, larga o trono, renununcia ao cargo mais importante e mais desejado na
terra, simplesmente ele é o Papa, deixar o exercício de uma tarefa meritória e
de reconhecido poderes para ficar enclausurado, numa vida de orações.
As opiniões
vão divergir muito! Críticas vão vir, elogios certamente. Os ponderados e de
bom senso, vão ver no gesto do pontífice Bento XVl o grande amor que o homem pode
sentir pelo seu semelhante ao largar sua posição em benefício de toda uma
comunidade, ou de um povo. Para ser possuidor dessa desenvoltura é preciso ter
a verdadeira consciência do seu alcance e limites, sem prejudicar, sem dar
prejuizo à terceiros. Isso, terminantemente, chama-se amor e respeito ao
próximo, predicado de poucos homens.
Os avarentos,
sequiosos pelo poder, os sem compustura e desventurados, vão se achar no
direito de criticá-lo, tomando-o como covarde, um homem sem ambição, fraco e
incompetente. Essa será a leitura dos incompetentes e sugadores da humanidade.
Entretanto, eis o homem, fortalecido pelas suas atitudes corajosas e heróicas
destinadas apenas aos mais fortes e inteligentes seres humanos.
Independente
do meu ponto de vista conceitual em
relação à Igreja Católica, acredito que seja o momento certo para que essa
instituição faça uma análise da sua longa caminhada sobre a terra, avalie os
erros, que são tantos, e acertos, que são muitos. Procure no exemplo do seu
líder maior, um novo enredo, uma concepção voltada para o momento atual, se atualizando
e trabalhando junto aos novos conceitos e mentalidades: o tempo passou e novas
concepções apareceram, a atual geração tem outra cara e outra cabeça, é preciso
mudar. Não só a Igreja Católica, mas, todo aquele que direta e indiretamente
forma opinião, ajuda escrever a história
da humanidade, com atuações e pensamentos, deviam aproveitar a oportunidade,
fazer uma reflexão sobre do seu comportamento. Se espelharem na coragem e
consciência de sua Santidade Papa Bento XVl, e imitá-lo.
Quantos
que estão em determinadas posições, na gestão pública ou privada, até mesmo sem
a menor cosciência que o seu tempo já passou, já não há espaço para suas idéias
retrógradas e superadas, alienados e viciados nas possibilidades que a
corrupção possibilita, estão alí por pura teimosia, por vaidade, pela sede do
poder, pelo apego ao dinheiro, sem nenhuma importancia para a humanidade,
apenas tirando proveito próprio de uma situação. Não seja o ser humano
inconveniente aos dignos e honestos, aproveite o momento, deixe que os sensatos
transformem o mundo num espaço de valores morais, tais quais os imortais
citados, e tantos outros que fizeram e fazem das suas vidas, exemplos de
dignidade, apenas para tentar fazer um mundo melhor, assim como a fez Sua
Santidade Bento XVL, o mundo seria bem diferente! Bem diferente seria.
*Poeta e escritor
pombalense
Uma Decisão para Poucos
Reviewed by Clemildo Brunet
on
2/14/2013 11:00:00 AM
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