FOI UM RIO QUE FICOU NA MINHA VIDA
Ignácio Tavares |
Ignácio
Tavares*
Foi no ano de 1969
que as coisas começaram acontecer na vida de um economista recém-formado. O
Brasil estava a viver um momento político/institucional obscuro sem precedente
na sua história. A mercê de muito risco
de vida juventude dos anos sessenta, da qual fiz parte, foi quem primeiro tomou a iniciativa de
enfrentar nas ruas os poderosos generais
da ditadura.
Isso mesmo foi um
regime sanguinário, raivoso, cujos tentáculos estenderam-se a todos os setores
da vida pública e
privada. Foi justamente nesse clima de obscuridade
político/institucional que fui selecionado, pelo critério de merecimento, a fim
de viajar para o Rio de Janeiro com o objetivo de pós graduar-me em análise
econômica numa instituição vinculada ao Ministério do Planejamento.
Tomei o avião em
Recife, por volta de 20 horas e trinta minutos. Cheguei ao aeroporto do Galeão
justo às 22 horas e cinquenta minutos, num voo direto sem escala. Éramos quatro
economistas recém-formados sendo dois de João Pessoa e dois de Campina Grande.
Por indicação de amigos pernoitamos num
casarão de dois andares vizinho a Fundação Getúlio Vargas em Botafogo. Na
segunda feira fomos ao CENDEC, (Centro de Desenvolvimento Econômico), para
fazer nossas inscrições.
Enquanto as aulas não
começavam aproveitamos o tempo para conhecer o Rio de Janeiro. Nas minhas
caminhadas pelas ruas do Rio encontrei-me com o conterrâneo e amigo-irmão
Antonio Guedes da Nóbrega, na intimidade conhecido por Nozinho. Fomos contemporâneos
do Ginásio Diocesano, onde formamos uma amizade de começo sem fim. Da mesma
forma o seu irmão Jurandir Guedes da Nóbrega fez parte do nosso círculo
amizade, a envolver outros companheiros de turma, tais como Zé de Cândida, Zé
Severo, Otacílio Medeiros, João Índio, entre outros.
Depois desse encontro
Eu e Nóbrega ficamos a nos ver com certa frequência. Num desses dias fui
convidado a residir no seu apartamento juntamente com os conterrâneos Otacílio
Medeiros, seu irmão Evanildo bem como o primo João Bosco Marques Medeiros.
Formamos uma colônia pombalense em pleno coração de Copacabana. Com o passar do
temo o grupo dividiu-se, pois Eu e Nóbrega fomos para um apartamento de sua família na Beflfort Roxo, posto 1, em Copacabana. Essa divisão melhorou muito
o ambiente para estudar, pelo fato de existir menos gente pra conversar.
Copacabana |
A minha carga de
estudo fora da sala de aula, em media, era em torno de 12 horas/dia. Às vezes
em época de provas sobravam poucas horas para dormir. Essa sobrecarga durou a
até o meado do ano. A partir do mês de julho senti-me mais a vontade para gozar
das delicias das noites do Rio de Janeiro. Foi a partir daí que as minhas
incursões nas noites do Rio começaram.
É lógico em alguns
finais de semana saia da esfera de Copacabana e ia pra Madureira visitar o
amigo Nelito Silva, bem como seus familiares. Nestes dias, com certa
frequência, pernoitava em Madureira, na casa de dona Chica, genitora de Nelito.
Era muito divertido, pois, os finais de semana, aproveitávamos o momento para conversarmos
sobre as coisas da nossa terra e ainda jogarmos umas bem disputadas partidas de
biriba valendo uma ou mais cervejas ou qualquer outro liquido etílico. A dívida
dos perdedores era paga no bar de seu Manoel localizado na esquina da Rua
Tapajós com a Avenida Edgar Romero.
Acontecia que os
amigos de curso, residentes em Copacabana, há muito me cobrava uma saidinha a
fim de conhecer os barzinhos da zona sul da cidade. Os bares, assim como o
sereno das madrugadas, sempre me fascinaram. Em Pombal, na plenitude da minha
juventude, aprendi a gostar da vida social dos bares, bem como do sereno
romântico no silêncio das madrugadas de saudosa memória. Ah, meu Deus, quanta
felicidade!
Com efeito, em sendo
um jovem experimentado nas andanças noturnas mundo afora, com certeza, onde
quer que chegasse não encontraria dificuldade para adaptar-me ao novo ambiente
de vida boemia. Já era uma cobrinha criada, quando o assunto era noite, pronta
pra desfrutar das oportunidades que o ambiente podia me oferecer. As noites do
Rio ofereceu-me muito mais do que estava a desejar. Quantas e quantas noites
amanhecemos o dia nos barzinhos dos arcos da Lapa?. Moças e rapazes a
conversarem as coisas prazerosas da vida movidas a choppinhos de sabor inigualável.
Ali mesmos acertávamos
o próximo encontra no final da semana vindouro. Podia ser em Ipanema, Leblon ou
mesmo no posto 6 onde a juventude ideologicamente correta costuma encontrar-se.
Às vezes a gente marcava encontros diurnos em famosos bares do centro da
cidade. Nesses lugares com certa frequência faziam-se presentes figuras
proeminentes da musica popular brasileira. Era o caso do bar Pé Sujo,
localizado a Rua do Ouvidor. Neste bar frequentava a velha guarda das escolas de
samba da zona norte. Era gostoso frequentar esse ambiente carregado de gênios
da verdadeira musica popular brasileira.
É claro que formei
boas amizades distantes das mesas de bares. Nóbrega era corretor de seguros de
uma grande empresa nacional do ramo. Desse modo era bem relacionado com muita
gente importante da cidade. Assim sendo, foi através do amigo que conheci as
cantoras Doris Monteiro e Elizete Cardoso. A duas moravam bem próximo onde a
gente residia a Rua Belfort Roxo.
Nesta rua todas as
quintas feira havia um feira livre. Sempre gostei de feira, pois no decorrer da
infância a feira foi a minha melhor diversão. Acontecia que neste dia as minhas
aulas só começavam depois das dez da manhã o que me deixava livre por algumas
horas para circular rua acima, rua abaixa a escutar os pregoeiros a divulgar as
qualidades excepcionais das suas mercadorias. Por outro lado aproveitava o
momento para fazer compras de frutas entre outros produtos indispensáveis a
nossa dispensa.
A Divina Elizete
Cardoso era também frequentadora assídua da feira da Belfort Roxo. Junto escolhíamos as mercadorias de interesse
de cada um. Como o edifício que residia ficava em frente à feira, ao completar
as minhas compras subia levando as sacolas e depois descia para ajudar a Divina
na condução das bolsas repletas de frutas, entre outras mercadorias. Foi assim
durante todo tempo que residir na Belfor Roxo. Em razão dessa aproximação
formamos uma amizade que durou todo tempo que passei no Rio de Janeiro.
Foi isso mesmo, o Rio
de Janeiro era a última coisa que faltava na minha vida. Aperfeiçoei-me para o
exercício da profissão e vivi como sempre gostei de viver. Usufruir de tudo que
a bela cidade pode me oferecer. É verdade que aqui conto apenas uma parte dos
momentos vividos na cidade mais bela do nosso País, pois, gastaria muito papel para
contar os bons momentos vividos nas noites do Rio de Janeiro.
Há muita coisa pra
contar sobre as minhas caminhadas noturnas pelas ruas da cidade maravilhosa.
Muitas farras rolaram ao lado de mulheres bonitas. Garanto que nos próximos
textos o que for possível contar com certeza contarei, pois a esta altura da
minha vida o bendito tempo já prescreveu os meus saborosos pecados juvenis não
é?
João Pessoa, 30 de Abril
de 2013
*Economista e Escritor pombalense
FOI UM RIO QUE FICOU NA MINHA VIDA
Reviewed by Clemildo Brunet
on
4/30/2013 08:48:00 AM
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