Quem tem medo de Marina Silva
Genival Torres Dantas |
Genival Torres Dantas*
A corrida presidencial no Brasil foi
lançada precipitadamente e sem nenhum motivo que justificasse o gesto do
ex-presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, quando a candidata
oficiosa, da situação, com previsão de uma reeleição com grande apoio popular,
e uma larga margem de vantagem sobre todos os outros candidatos opositores,
juntos, e concorrentes ao mesmo cargo. Esse fato gerou uma busca de espaço,
pelos pretensos candidatos na mídia, junto aos partidos menores, que
normalmente negociam apoio à outros partidos com candidaturas robustas e com
alguma possibilidade de exito não só ao cargo maior, mas aos demais e no âmbito nacional, na tentativa de crescer no cenário político, pratica normal , não
fora a forma das negociações atuais e
dentro da conjuntura que vem se
arrastando já há algum tempo.
O desastroso e
inoportuno lançamento vem contribuindo para uma situação de desagradável desconforto
para todos aqueles que militam na área política. Nos últimos dias o casuísmo se
estabeleceu na câmara dos deputados, com o Projeto de Lei 4.470/12, sendo
colocado na pauta de discussão e aprovado em caráter de urgência, seguindo
imediatamente para o congresso, na tentativa de barrar a criação da Rede Sustentabilidade.
Partido que é articulado pela ex-militante do Partido dos Trabalhadores (PT),
ex-senadora pelo Acre, ex-ministra do meio ambiente no governo Lula,
ex-candidata à Presidência da República em 2010 pelo Partido Verde (PV),
ficando na 3ª colocação com 19.33% dos votos válidos, ambientalista, historiadora e pedagoga, Maria
Osmarina Marina Silva Vaz de Lima. A criação do seu partido, Rede
Sustentabilidade, dependo ainda da coleta de 500 mil assinaturas para sua
formalização e tem apenas apoio de 16 senadores dos 81.
No senado federal, o senador Jorge Afonso Argel, mais
conhecido como Gim Argel (PTB/DF), paulista, líder de seu partido, encaminhou,
ontem (24/04), requerimento de urgência, com as devidas assinaturas necessárias
para tentar votar o projeto, esse fato foi motivo de conflitos e confrontos de
parlamentares da oposição e situação, mesmo entre as correntes de interesses
partidárias, dividindo a base aliada e o PT. O que estava em jogo não era a
tentativa de impedir a criação de mais um partido político, mas, a tentativa de
impossibilitar as chances de registro da candidatura da Marina Silva, mesmo que
esse fato viesse a gerar agressão, como foi gerada, pelo governo ao sistema
democrático brasileiro, apoiado por membros da sua base aliada e o DEM,
representado pela senador José Agripino Maia (RN), presidente nacional do
partido.
Contrários à tese estava a oposição e boa parte da base
governista, simpatizantes da candidatura à Presidência da República, do
governador de Pernambuco, Eduardo Henrique
Accioly Campos (PSB/PE), e presidente nacional da legenda.
A Marina Silva já tinha se
unido ao PSDB, PSB e MD ( Mobilização Democrática - fusão do PPS e PMN) na
tentativa de barrar o pedido de urgência para votação do projeto em discussão,
que inibe a criação de novas legendas.
Essa tentativa foi válida, o
PSDB se uniu em torno do discurso do seu líder e também candidato à presidência
da república senador, Aécio Neves da Cunha (PSDB/MG) que fez uma longa defesa
pela inconstitucionalidade do projeto, fundamentado na decisão do Supremo
Tribunal Federal (STF) que concedera em data anterior a legalidade da criação do
Partido Social Democrático (PSD) do ex-prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab,
tendo, inclusive, o apoio do governo federal para enfraquecimento da bancada de
oposição, pois, alguns opositores, principalmente do Democratas (DEM) que foram
contemplados inclusive com cargos na administração pública e integrando-os à
sua base aliada.
Na tentativa de impedir a
formação de um novo partido, agora de oposição, ficou estabelecido a casuísmo,
tido pelos defensores da tese de formação da nova agremiação política, como o
maior de todos os casuísmos desde o pacote de abril de 1977, que foi o conjunto
de leis outorgado em 13 de abril de 1977, na gestão do Presidente Ernesto
Beckmann Geisel, tendo inclusive fechado, temporariamente, o congresso
nacional, cujas modificações na constituição ficaram conhecidas na história
como “a Constituinte da Alvorada”. Ressaltou o senador Aécio, a aplicação de
dois pesos e duas medidas para uma mesma realidade, mas com noções e escolas políticas divergentes. Esse
pensamento foi seguido por todos os oradores, seus correligionários que lhe
seguiram na tribuna.
O grande momento político
daquela sessão ficou por conta do senador Pedro Jorge Simon (PMDB/RS) o decano
do senado federal, com um currículo político que muito honra a história do
Brasil, tendo sensibilizado todos os congressistas presentes, fazendo uma
narrativa histórica do legislativo brasileiro, lamentando aquele momento como
um dos mais tristes da história do senado, quando via no gesto da intenção,
aprovação da urgência em questão, o começo do fim de uma agremiação como o
Partido dos Trabalhadores (PT) que tanto lutou pela redemocratização e tanta
esperança trouxe a todos nós, e se via mergulhado no sonho do objetivo
eleitoral permanente, usando todos os meios, inclusive, atacando os conceitos e
princípios mais primárias da democracia, com atos ditatoriais, querendo impor
pela truculência, apenas por ter a maioria dentro do senado, esquecendo que na
democracia vence a maioria, desde que respeitado o direito das minorias.
A aula dada pelo senador Simon
além de ter sido didática foi histórica, deveria estar em todas as páginas dos
jornais de hoje para que os brasileiros guardassem para leituras futuras, e
aqueles que não viveram a evolução da nossa nova democracia, que fará 25 anos
agora, fizesse uma reflexão sobre as instituições e os homens que lutaram pelo
sucesso da história democrática brasileira recente. Dois outros senadores
remanescentes da época do militarismo que também lutaram pela democracia
fizeram seus pronunciamentos pela mesma causa e fazem parte do mesmo partido do
senador Simon que são: senadores, Roberto Requião de Mello e Silva (PMDB/PR) e Jarbas
de Andrade Vasconcelos (PMDB/PE). Mereceram destaque também, os pronunciamentos
e a luta pela manutenção do registro de novos partidos, dos senadores, Cássio
Rodrigues da Cunha Lima (PSDB/PB), o carioca, Rodrigo Sobral Rollemberg
(PSB/DF), o pernambucano Randolph Frederich Rodrigues Alves (PSOL/AP), José
Pedro Gonçalves Taques (PDT/MT) e Ana Amélia Lemos (PP/RS). Citei apenas os que
mais se destacaram pela contundência e veemência dos seus pronunciamentos, mas,
os opositores ao governo atual fizeram seu papel, apoiados por parte de alguns
senadores da base governista, mas de atuação independente, nesse caso
específico, além de alguns senadores do PT que ficaram constrangidos e se
neutralizaram, não dando quorum para o prosseguimento da matéria, com a
abstenção dos partidos de oposição resultando em 23 votos de 81 possíveis.
Esse caso nos leva à uma
pergunta importante, quem tem medo da Marina Silva. Se realmente o governo tem
receio que ela venha ser uma candidata de peso, a preocupação tem que aumentar.
Com a manobra feita para que ela efetivamente tivesse dificuldade na formação
do seu partido ocorreu um efeito colateral com a união de todos os prováveis
candidatos para 2014, caso do governador Eduardo Campos, senador Aécio Neves, e
da própria Marina. E no final da tarde noite de ontem o STF suspendeu temporariamente
a continuidade da tramitação do Projeto de Lei 4.470/12, ficando
o assunto mais constrangedor para os defensores do casuísmo.
A impressão que fica é preocupante, com a volta da inflação, o descontrole
na administração do PAC, a situação de profunda crise na Petrobrás, as
desonerações sem as respostas positivas para o consumidor brasileiro, cria-se
uma ansiedade dentro do governo, a folga nos índices de popularidade da
Presidente Dilma pode paulatinamente ir caindo na proporção que os problemas se
avolumem, em decorrência desses fatos, e as possibilidades de reeleição fiquem
mais apertadas. Com esse quadro, o comportamento daqueles que querem a reeleição a qualquer custa fica inimaginável, é hora de bastante calma e serenidade.
Nesse momento lembro de um poema do maior de todos os poetas gaúchos, Mario
Quintana, feito depois de ser rejeitado pela terceira vez pela Academia
Brasileira de Letras: POEMINHA
DO CONTRA -
Todos estes que aí
estão
Atravancando o meu caminho,
Eles passarão.
Eu passarinho!
*Escritor
e Poeta Genival Torres Dantas
Quem tem medo de Marina Silva
Reviewed by Clemildo Brunet
on
4/26/2013 07:44:00 AM
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