Males seculares
Onaldo Queiroga |
Onaldo
Queiroga*
Amanhece o dia e
vislumbramos que a estiagem faz morada em grande parte do território
nordestino. Com um calor insuportável, homens e animais sofrem diante da falta
d'água. São Riachos, açudes e barragens secos ou com pouca água, que,
certamente, diante do poder do Sol, também ficaram vazios, transformados em um
enorme solo rachado. Esperança e sonhos o nordestino sempre carregou e
carregará consigo, no entanto, é triste ver a fome e a sede, impiedosamente,
aniquilar nossos semelhantes.
Os olhares da seca são como
navalhas afiadas, que, no deserto do abandono, cortam pele e corações, fazem o
verde da esperança transmudar para um mundo cinzento, desolado, esquecido e
devorado pela miséria. É a vida de gado tão decantada do poeta Zé Ramalho, onde
seres humanos vagueiam como molambos diante da fúria a estiagem. Mas, com uma
fé inquebrantável, esse povo chamado Nordeste, ainda, caminha na travessia da
perseverança, fugindo dos males seculares que assombram a sua própria existência.
Como bem já afirmou Leandro Flores:“...somos retirantes em pleno Século XXI.
Fugindo dos mesmos problemas, convivendo com as mesmas situações, alimentando
os mesmos ideais e sempre, sem nunca resolver o que realmente precisa no
sertão: a fome educacional”.
O fato é que vivenciamos uma
das maiores secas dos últimos 50 anos. Segundo Naidson Batista, coordenador da
ASA (Articulação do Semiárido), do Estado de Pernambuco, o aspecto de extremo
sofrimento do povo nordestino não é fruto exclusivamente da estiagem, mas
também da ausência de planejamento de políticas públicas de convivência com o
clima do semiárido. Não basta, por exemplo, a construção de barragens,
cisternas e adutoras. Na nossa visão, é necessária a implantação de uma vasta
política de infraestruturas hídricas e produtivas, além de um controle efetivo
da liberação da água armazenada nas barragens e açudes que abastecem todas as
comunidades e também servem para irrigação de plantações, pois, só assim,
poderemos conviver de forma menos traumática com esses constantes períodos de
seca.
Falamos muito de eleições,
de políticas partidárias, que fulano será o candidato, que ele será eleito e
que beltrano perderá. Urge, contudo, voltar os olhares para uma discussão ampla
sobre os problemas da seca, no propósito de efetivar ações que possam mudar
esse quadro de sofrimento do nordestino. É preciso ter fé e acreditar que Deus
fará jorrar as chuvas da esperança. Porém, impõe-se mudança imediata em nosso
agir, senão o vento da estiagem continuará assoviando corrupção, sede e
miséria.
*Escritor pombalense
e Juiz de Direito da 5ª Vara Cível de João Pessoa PB
Males seculares
Reviewed by Clemildo Brunet
on
11/29/2013 06:39:00 AM
Rating:
Nenhum comentário
Postar um comentário