A minha crônica de natal
Teófilo Júnior |
Escrever uma crônica de
Natal é como compor um poema de amor, prazeroso e dificílimo. Prazeroso porque
o tema nos remonta ao nosso sentimento mais nato: o amor. Dificílimo porque em
matéria de amor a gente tem a inevitável certeza de que nada mais resta a dizer,
os poetas consumiram todo o vernáculo, o que infelizmente nos torna apenas um
cronista reincidente e repetitivo, nada mais.
Assim, uma crônica de Natal
sempre parecerá que não é inédita! Sempre trará a desconfiança de que já foi
escrita, reescrita, e que todas as suas variantes já foram escasseadas por
tantos outros cronistas.
Neste particular, a tarefa
se torna desafiadora. A minha intenção, creio eu, era iniciar me pautando por
uma reflexão mais voltada ao social com passagens obrigatórias nas simbologias
das coisas no contexto de um mundo ancorado em padrões estéticos e
econômicos pré-definidos,
onde a figura de Jesus menino aos poucos vai se perdendo no midiático colorido
consumista do Papai Noel. Mas, essa abordagem também
não me parece inédita, o que torna a minha crônica de Natal tão somente mais
uma crônica de natal. Reflexiva e previsível.
Entrementes, é preciso dizer alguma coisa no Natal. Escrever algumas linhas. Não nos convém não ter escrito a nossa crônica de Natal.
Resta-me tão somente as
minhas reminiscências, iguaizinhas a tantas outras de outros tantos natais já
escritos. Porém, nos natais da minha infância havia algo de ineditismo. Ele não
era igual aos dos outros. Lembro, por exemplo, que em nossa casa sempre tivemos
árvore de natal. Bolas coloridas de vidro enfeitavam-lhe os galhos e caixinhas
de fósforos fingiam ser presentes espalhados em seu tronco firmado em um balde
de areia para não cair. Era costume ajudar a minha mãe a montá-la
cuidadosamente dentro daquele recipiente. Era um trabalho delicado, não se
podia quebrar nenhuma bola de vidro. Não havia como repô-las.
A nossa ceia era sempre
muito simples mas muito verdadeira. A família se reunia em volta da mesa.
Jantávamos cedo da noite. Não havia peru, panetone nem bacalhau. Havia doces
sobre a mesa e alguns refrigerantes. Acho que neste particular o nosso Natal alcançava
algum ineditismo.
A minha mãe era muito
religiosa, mas o nosso Natal não me parecia muito religioso. Não rezávamos
antes da ceia. A única referência de fé que tínhamos naquela noite era a
certeza de assistirmos, sonolentos, a missa do galo na velha Igreja Matriz da
cidade de Pombal-PB.
Por outro lado, o Papai Noel
só nos visitava após a celebração, penso eu, pois só nos encontrava dormindo e
não tivemos a menor chance de encomendarmos previamente ao velhinho os nossos
próprios presentes, a minha tão sonhada bicicleta monareta Monark azul. O meu
sonho mais inalcançável.
Confesso que nesse aspecto o
Papai Noel nos ajudou bastante. Não me deu a bicicleta, mas alimentou em mim
uma imorredoura capacidade de continuar sonhando... Esperando os meus presentes
azuis.
Teófilo
Júnior
A minha crônica de natal
Reviewed by Clemildo Brunet
on
12/24/2013 07:38:00 PM
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