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Pombal novamente

Ignácio Tavares
Ignácio Tavares*

  Se alguém se predispuser estudar a história econômica de Pombal, num corte de tempo a partir dos anos trinta, com certeza reservará um capítulo pra Brasil Oiticica S/A. Esta empresa foi a única grande indústria de transformação que, por iniciativa do grupo dominante, digo sem a oferta de incentivos de qualquer ordem, resolveu instalar-se na nossa cidade.
 É Claro que a escolha deveu-se a diversos fatores, quais sejam, a existência de linha férrea que permitia exportar a produção através do porto de Fortaleza pra Europa e Estados Unidos, principalmente. Em certa medida a referida via podia ainda ser instrumento consolidação da indústria em razão da possibilidade de se formar um importante canal de comercialização, entre a fonte produtora e
os grandes mercados consumidores internacionais.
 Ademais, do ponto de vista estratégico, o município de Pombal era geograficamente bem localizado na área produtora de oiticica em toda região. Sem dúvida era o maior produtor do referido fruto o que assegurava a oferta de amêndoas em quantidade suficiente para formação dos estoques indispensáveis a manutenção da atividade produtiva da indústria de no mínimo oito meses, no decorrer do ano.
 Tudo foi devidamente calculado para que a industria não viesse sofrer qualquer revés ou estrangulamento nas atividade de produção e comercialização. Com efeito, outras industrias na área comercialização e beneficiamento de algodão, não tanto quanto Sousa e Patos, também escolheram o nosso município como sede das suas atividades comerciais e produtivas.
 Essas empresas não tinham a dimensão da Brasil Oiticica, no que diz respeito ao estoque de capital fixo, nem tampouco o tempo de permanência aqui no nosso meio. Mas de certa forma contribuíram para o desenvolvimento do município bem como para a geração de emprego e renda numa área de elevado índice de desemprego.
 Estou sempre a afirmar que este foi o melhor momento da economia da terrinha. Por outro lado vale ressaltar “boom industrial” na economia de Pombal naquela época foi um reflexo das mudanças econômicas ocorridas no pós guerra no Brasil e no exterior quando o mundo ocidental foi transformado no mais importante eixo da economia capitalista mundial.
 Foi um momento muito especial para a economia local, pois havia espaço de mercado para tudo o que se produzisse, principalmente para o óleo de oiticica e a fibra do algodão, entre outras matérias primas assemelhadas. Foi muito bom enquanto durou.
  Em textos passados quando falei dos ciclos econômicos da minha terra ficou bem claro que as crises ocorridas nos três momentos analisados estavam correlacionadas a fragilidade da nossa incipiente base industrial. Foi assim com o algodão, a oiticica, bem como com a indústria doceira. Passada essa auspiciosa fase, nada de novo aconteceu no sentido de restabelecer o setor industrial do município.
 É verdade que dos seis municípios mais desenvolvidos do sertão paraibano a base industrial de Pombal é a menor de todos. Não temos atividades produtivas urbanas de referência a exemplo dos municípios de São Bento, com a indústria de fiação e tecelagem, Catolé do Rocha, com a prospera indústria metalúrgica, Patos com a indústria de calçados, Sousa com a agroindústria, Cajazeiras com a nascente indústria de confecções, assim por diante. E nós?
 Alguém pode perguntar: o que é que esses municípios tem e nós não temos? Com certeza eles devem possuir políticas especificas direcionadas a consolidação e expansão dos seus respectivos parques industriais. Quero dizer, possuem instrumentos de atração de novas unidades produtivas, bem como de consolidação das empresas já instaladas
 Refiro-me a existência de políticas de incentivos fiscais, quais sejam, isenção de ISS, de IPTU, ITBI entre outras taxas, para qualquer empresa industrial que queira expandir suas atividades ou novas unidades industriais que pretendam se instalar nos municípios aqui considerados.
  Tem mais, a disponibilidade a custo zero de espaços físicas nos distritos industriais dotadas de energia, saneamento entre outros serviços que resultem em benefícios que permitam a consolidação e instalações de novas unidades de produção industriais.
 Aqui na nossa terra desconheço a existência de benefícios dessa natureza.  Quero dizer desconheço a existência de políticas de isenção fiscal associada a oferta de espaços físicos em distritos industriais dotados dos diversos serviços básicos, os quais estou a me referir, considerados de suma importância como instrumentos de atração de empreendimentos industriais.
 Há muito estou a me preocupar com o futuro econômico da minha terra. Presenciei algumas tentativas de se construir um Distrito Industrial, como ponto inicial para pôr em prática políticas públicas de desenvolvimento local. Em nenhum momento acreditei na seriedade de construção de um espaço industrial.
  Isso por várias razões. Primeiro, a localização e a dimensão do espaço mostra total desconhecimento da importância de um empreendimento dessa natureza. Houve proposta de um espaço de cinco hectares, outro de quinze hectares, pasmem, todos localizados em áreas ecologicamente proibitivas em razão da proximidade da bacia que alimenta o Piancó
 Considero inviável a construção de qualquer obra que vise atração de empresas industriais, comerciais, entre outras, em áreas ecologicamente não recomendável. Continuo a advogar a ideia de que o local ideal para construção do Distrito Industrial cá na terrinha é aquela região do sitio Mundo Novo situado às margens da BR 427. É nessa direção que a cidade tenderá a crescer nas próximas décadas.
 Não há outra localidade melhor do que essa, pois além de não possuir micros bacias cujos riachos desaguem no Rio. Por outro lado, além de dispensar investimentos na construção de acesso, o declive do terreno dispensa grandes obras de aplainamento dada as características planas do terreno. Quanto a área a ser construída defendo uma superfície de no mínimo 60 hectares necessários para atender a uma demanda de longo prazo.
 Pra entender melhor a importância de um distrito industrial acima de 50 hectares, num município da dimensão de Pombal, Campina Grande vai construir outro distrito industrial numa área de 800 hectares, pois tem protocolo de intenções assinada para receber 90 novas empresas dentre aquelas 190 que virá a se instalar no  Estado  nos próximos anos.
 É claro que, no longo prazo, uma área da dimensão de 60 hectares pode chamar atenção dos que acham que Pombal não precisa de indústrias para se desenvolver. Desse modo, ao prevalecer essa triste concepção, é possível que o distrito industrial que tanto anseia os agentes econômicos da terrinha possa um dia se transformar num populoso conjunto habitacional.
 Neste caso o popular sobrepõe-se ao econômico, mas, frustra toda expectativa de se atrair importantes unidades industrias que a economia do município há muito está a precisar, a fim de retomar o caminho do desenvolvimento. Deus queira que esta minha profecia esteja errada.
 Mesmo correndo este risco, vale a pena arriscar. É verdade que investimentos em projetos dessa natureza, num olhar de curto prazo, com certeza não renderá frutos, mas, no longo prazo coisas boas podem acontecer. Assim sendo, muitos empregos serão gerados, por conseguinte a renda industrial com certeza fortalecera a base econômica do município
 Por isso, deve-se pensar grande no mundo dos pequenos. Reafirmo: o nosso setor industrial é o mais fragilizado entre os seis municípios mais desenvolvidos do sertão. Assim sendo, fortalecê-lo é preciso. Que assim seja....
João Pessoa, 01 de Janeiro  de 2014 
*Economista e Escritor
Pombal novamente Pombal novamente Reviewed by Clemildo Brunet on 1/01/2014 10:19:00 PM Rating: 5

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