Triste realidade dos nossos municípios
Genival |
O IBGE (Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística), no último levantamento, apresentou números da
realidade dos nossos municípios, em termos estatísticos, vindo a ratificar o
que já esperávamos da dependência das administrações municipais junto ao
governo federal, não na proporção de 92%, causando um verdadeiro espanto aos
estudiosos dos problemas dos municípios brasileiros.
Os dados são de 2011, mas
refletem uma situação bem próxima ao momento que estamos vivendo, de verdadeira
penúria na administração pública dos 4.875 cidades que dependem de recursos
vindos do governo central, as receitas geradas e
arrecadadas não suprem suas
necessidades. Temos apenas 417 municípios apresentando um saldo positivo entre
receitas e despesas, dos 5.292 que formam os nossos Estados do nosso país.
Um verdadeiro espanto quando
verificamos a luta de muitos políticos tentando criar outras administrações com
divisões de municípios independentes, dividindo cidades que não tem
autossuficiência e ainda teimam em criar mais custos regionais, pois, a criação
de um município gera custos diretos com a criação dos poderes executivo e
legislativo, além de ampliar na sede remanescente o poder judiciário para
atendimento inicial da população gerada na nova administração, enquanto se
justifique uma nova sede para esse poder.
O levantamento nada tem a ver
com o número populacional ou PIB (Produto Interno Bruto) do país, apenas
municípios como pessoa jurídica e legalmente constituída. Isso traz situações
que deve nos levar a uma reflexão mais profunda das nossas desigualdades. Apenas
para ilustrar o quadro, verificamos a grande concentração dos municípios sem
recursos suficientes para gerar sua administração no norte e nordeste
brasileiro, entretanto, o quadro é generalizado, passando pelas cinco regiões.
Na conjuntura nacional, casos
curiosos como o superávit da cidade de São Paulo gerando 62 bi, praticamente é
anulado pela arrecadação negativa de Brasília de 59 bi, no mesmo período; no
Norte do Brasil temos três Capitais: Macapá (AP), Rio Branco (AC) e Boa Vista
(RR), apresentando um gasto cinco vezes maior que a arrecadação, reflexo direto
da falta de prioridade governamental na área de investimentos e interiorização
do desenvolvimento diversificado, na busca de segurar o homem à terra, fazendo
delas regiões produtoras, desde que estimuladas nas suas culturas e recursos
naturais, até mesmo importando de outras regiões culturas adaptáveis, como foi
o caso específico da soja, desenvolvido pelos migrantes gaúchos, paranaenses e
catarinenses; com espíritos pioneiros estão desenvolvendo o Norte brasileiro,
serrados do centro oeste, e regiões do Piauí, com grande sucesso no cultivo da
soja. Exemplos desse tipo devem ser estimulados na iniciativa privada, quando
usam poucos recursos do governo e trazem um benefício enorme para a sociedade
como um todo.
Não devemos ficar restritos
apenas às commodities, temos o exemplo de Manaus com seu parque industrial
pujante, sobretudo no segmento eletro eletrônico, mesmo com a zona franca, com
isenção do ICMS (Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços), tem
contribuído enormemente para a Amazônia desenvolvimentista; outros polos deviam
ser estudados e criados para fortalecimento das nossas exportações, onde
pudéssemos explorar o transporte fluvial e marítimo, em auxílio ao transporte
rodoviário, contribuindo até para o barateamento do custo Brasil, no nosso
setor industrial, com o uso de uma política industrial assertiva.
Temos vários municípios que
não tem nenhuma vocação industrial, muitas vezes manteve por algum momento da
sua existência um período voltado para o segmento industrial, por conta da
exploração de produto, ou produtos, que o tempo se encarregou de eliminar do
mercado por conta de alternativas concorrentes com mais qualificação técnica e
até mesmo mais barato, em decorrência da economia de escala ou outros aspectos,
considerados com a evolução dos mercados.
Quando a fase favorável passa
resta uma cidade decadente, sem perspectiva de reação, com um novo insumo ou
setor que venha ocupar o espaço da exploração anterior; ficando uma cidade
inteira a mercê de poucos abnegados, investidores anônimos da iniciativa
privada, que, gostando da terra onde nasceu luta corajosamente para não ver seu
chão virá um cemitério de ilusões.
O Brasil dos anos 1950/1960
era um país que lutava pelo beneficiamento no uso ininterrupto da energia
elétrica, buscando a troca dos motores estacionários, que geravam energia,
pelas hidroelétricas surgidas para eliminar a escuridão das nossas vidas,
quando verdadeiramente o escuro sempre veio das nossas mentes curtas em função
da falta de entendimento e cultura no homem; hoje lutamos por um Brasil
constituído de mais plataformas digitais, de maior volume na assistência
médica, não apenas mais médicos, mas, mais hospitais, capacitados e
profissionais qualificados; melhores escolas e estímulos aos educadores, não
existe escola sem um educador capaz de estimular seus alunos; uma segurança
absolutamente real, uma família formada pela paz e desenvolvimento humano; uma
sociedade respeitada e respeitável, dando exemplo de dignidade para as próximas
gerações; um país que tenha um governo que respeite o mais simples dos seus
munícipes, o município mais humilde da federação e o Estado mais pobre entre os
seus federados, com o mesmo senso igualitário, levando benefícios com o mesmo
critério de avaliação, sem discriminação.
Quando tivermos esse país, com um sistema de governo
voltado para todos, sem o instinto da manutenção do poder em função do apego
aos cargos e as benesses que eles trazem, o que não é uma utopia, muitos dos
que estão na ativa e são situacionistas, já levantaram essa bandeira, aí sim,
teremos um país com 92% de municípios sustentáveis e 8% dependentes, com a
virada de mesa, seremos um país sem enganação ou hipocrisia, de um povo
consciente, sabendo do seu potencial, dos seus deveres e obrigações,
politicamente independente, qualquer que seja sua classe social.
Quando isso acontecer não terá mais os retirantes
iguais aos Fabianos seguidos pelas baleias a sonharem com os preás gordos, como
quem se humanizando, enquanto suas barrigas roncam de fome a perambularem pelas
estradas, sem destino, como quem procura, talvez, uma cidade fantasma, nas
vidas secas de Graciliano Ramos, cujas paisagens são de 1937/1938, mas que nos
inspira nos dias de hoje, como se hoje fossem.
*Escritor e Poeta
Triste realidade dos nossos municípios
Reviewed by Clemildo Brunet
on
1/11/2014 09:33:00 AM
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