LINHA FÉRREA – COMPLETO ABANDONO
Genival Severo |
GENIVAL SEVERO*
Desde o ano passado que os
moradores da Cruz da Menina, Guindaste e Bairro dos Pereiros, nunca mais
ouviram o apito do trem nem os velhos trilhos estremecerem perto de suas casas.
É que os trens de passageiros e cargueiros há muito tempo que não se vê passando
por ali. Por conta disso, é que a linha férrea como é do nosso conhecimento,
está em completo abandono. Até mesmo a turma da conservação da estrada de
ferro, melhor dizendo, os ferroviários, ou cassacos como antigamente eram
chamados, sumiram. Não existe mais nada.
Os trilhos estão cobertos de matos. Uma vegetação espinhosa conhecida no
sertão como “jurema”, está fechando o caminho de quem anda a pé por ali, ou faz
caminhada no sentido do sítio “Lajedo” /Arruda Câmara. O cenário de abandono é
muito visível como se vê nas fotografias.
Na metade da década de 90,
os trens de cargas ou cargueiros, entraram em decadência, dando lugar aos
caminhões e carretas que trafegam diariamente pela BR-230 cortando os Estados
de Pernambuco, Ceará e Rio Grande do Norte, arrecadando assim mais impostos do
que os trens. Talvez seja este o motivo
de tanto desprezo e abandono. Os trens de cargas que passavam duas vezes por
semana transportavam cargas de diversas naturezas, como gado, pedras de
minério, ferro, sisal, gasolina, açúcar, farinha, óleo de oiticica, e algodão,
quando este produto tornou-se importante cultura de exportação. O algodão era
levado para o porto de Cabedelo, em seguida para São Paulo e Estados Unidos.
Tudo era transportado de Trem. O transporte era mais barato e mais seguro.
A linha e Estação do Trem em
Pombal foram inauguradas todas no mesmo dia: 24 de outubro de 1932 pela R.V.C.
(Rede de Viação Cearense), que foi de 1932 a 1958. Depois veio a R.F.N (Rede
Ferroviária do Nordeste) – 1958 a 1975; daí em diante a RFFSA, ( Rede
Ferroviária Federal S.A.), que controlava os trechos Sousa/Pombal/Patos/Campina
Grande.
Em Pombal ainda existem e
bem conservadas a Estação do Trem e casa do Chefe da Estação (agente) marco que divide em toda a sua
extensão o Bairro dos Pereiros do centro da cidade.
Até o final de 1958 o trem
de passageiros tinha a seguinte composição: uma LOCOMOTIVA “Maria Fumaça”,
ligado a esta, um depósito de lenha a céu aberto para abastecer a caldeira; um
VAGÃO para transportar bagagens; dois vagões de primeira classe com poltronas
estofadas, bem confortáveis, onde só viajavam pessoas de boas condições
financeiras, por isso as passagens eram mais caras. Colado a estes dois, um
carro RESTAURANTE, onde servia café da manhã, almoço e janta. Em seguida mais
dois vagões de segunda classe, destinados as pessoas pobres, e, um último
VAGÃO, o de terceira classe, em vez de poltronas estofadas, eram feitas de
madeira comum, sem nenhum conforto, viajavam cegos, aleijados, pedintes,
pessoas paupérrima mesmo. Lembro-me bem, que quando este último vagão passava
pela estação, já em velocidade, os moleques davam vaias, atiravam pedras e
jogavam terra. Como vingança, aquela pobre gente fazia gestos obscenos para os
moleques que gritavam ainda mais alto. O último trem de passageiros foi o Asa
Branca (mais moderno e mais rápido). Saía de Recife com destino a Fortaleza
Ceará e vice-versa.
Os trens deixaram muitas
saudades. Doces lembranças. A dona de casa Maria Alacoc, de 70 anos que mora há
menos de 50 metros da Estação, recorda emocionada do tempo em que vendia água
durante a passagem do trem, num recipiente de barro chamado “quartinha”. Ela
sempre estava atenta à chegada do trem.
"Era um copo de
alumínio prá todo mundo, não existia copo descartável, ninguém reclamava,
ninguém dizia nada, queria era ser atendido primeiro", disse ela.
"Às vezes o trem já
tinha dado o apito de partida e eu estava lá atendendo apressadamente um
freguês que me pedia água. O pior de tudo, era que naquela correria o trem dava
partida e aparecia um freguês mau caráter além de não pagar a água, ainda
carregava o meu copo de alumínio. Mesmo assim eu era feliz, muito feliz",
conta com os olhos marejados. "Hoje, eu Lamento e entristeço ao ver a
ferrovia abandonada, coberta de mato e de lixo. Nunca mais ouvi o apito do
trem", desabafa dona Alacoc.
ERA UMA FESTA a passagem do
trem em Pombal. A estação ferroviária estava sempre cheia de gente nos dias de
segundas, quartas e sextas-feiras à noite, onde o movimento era maior. Dalí
saía a paquera e o namoro. Era como se fosse uma pracinha em frente à igreja.
Antes de o trem chegar, as mocinhas ficavam dando voltas ao redor da Estação,
enquanto a Difusora de Afonso Mouta, que ficava bem próxima dalí tocava
incessantemente o último sucesso de Cauby Peixoto "Nono Mandamento".
Um sino de bronze chamado "sineta" anunciava que o trem estava pra
chegar.
Quando se ouvia o apito do
trem antes da curva da Brasil Oiticica, era o sinal de que o mesmo já estava
muito perto. A emoção tomava conta daquela juventude, mesmo sabendo que o trem
demorava pouco na estação. Tudo era rápido. Mesmo assim compensava esperá-lo.
Hoje só resta a lembrança do
que foi bom! Agora nada mais existe.
Como já disse em outro artigo: SÓ NA LEMBRANÇA É QUE SE PODE VOLTAR.
Pombal, 09 de abril de 2014.
*Radialista
LINHA FÉRREA – COMPLETO ABANDONO
Reviewed by Clemildo Brunet
on
4/12/2014 07:56:00 PM
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Um comentário
Parabenizo o Genival Severo pelo belíssimo texto.
Eu que vive essa época fiquei deveras emocionando.
O Brasil caminhou na contramão do progresso ao trocar a estrada de ferro pelas rodovias.
Jerdivan
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