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Quando o dinheiro não supera a integridade moral de um homem

Genival Torres Dantas
Genival Torres Dantas*

            Incrível como somos sacudidos por algumas observações ou colocações que nos chegam até mesmo por um inocente e-mail, foi o que ocorreu comigo nessa manhã de outono, ainda no lusco-fusco do dia. Um amigo a quem deposito uma profunda admiração e respeito pela sua integridade moral, um dos, ainda existem, homens que preferiu o recolhimento do seu lar a ter que continuar convivendo com a degradação política que sacode nosso país. Ele se retirou por não suportar a convivência maléfica com tantos deturpadores da ordem pública, como vermes insatisfeitos permanecem 24 horas a sugar toda e
qualquer energia, em forma de recursos do erário público.
            Comentava, o meu amigo, de uma pessoa de bem que ainda, como alguns que resistem, aquartelados na dignidade, sendo um parlamentar, sabendo das suas reais possibilidades financeiras, já antecipa sua derrota à recondução ao cargo, no próximo pleito, pois, não tem como concorrer com os abutres compradores de votos que já estão se movimentando e levantando dados e valores para o investimento necessário ao descaminho que é tido como normal nos últimos tempos, para alcançar o objetivo almejado na busca do sucesso para manter ou ingressar na vida pública, numa posição política bastante desejada, entretanto, dessa forma, muito desonrada.
          Confesso que fiquei pasmo, com aquela colocação até angustiante do meu amigo, pois, sentia nas suas palavras o desgosto e a tristeza que envolve a atmosfera poluída dos novos tempos. Fiquei imaginando o que não está sofrendo aquele homem político porém honesto, não tendo condições de concorrer em condições de igualdade com os demais concorrentes, vai ter que se lançar na campanha sabendo do seu insucesso; mesmo que ele tivesse uma situação abastada, certamente, não praticaria tal patifaria, apenas para ganhar uma eleição e ficar definitivamente envergonhado junto aos seu amigos, parentes e sua própria consciência, pois, o candidato que passa a praticar tal procedimento, apenas para ser prócer pertencente a um legislativo, sem ter o que representar, ou quem representar; deve ser um exercício de cargo bastante vazio, pois sabem os nefastos corruptores que não é meritório, em nenhuma situação, chegar ao sucesso, imaginado por esses, de forma escabrosa, não sendo nada voluptuoso a quem consegue esse objetivo por esse descaminho.
            Fiquei a matutar com meus botões sobre tantos políticos, do meu tempo, muitos dos quais só acompanhei pela imprensa sua história de retidão e comportamento ético na sociedade. A paraíba dos anos 1950 até 1970, foi rica nos valores políticos, mesmo anteriores, muitos deixaram na sua biografia registro de lealdade para com o seu povo, dentre eles que eu lembre de citar: Rui e Janduhy Carneiro, dois irmãos que além de deixarem uma folha de prestação de serviço ao meu Estado, nunca ouvi falar nada que viesse a macular seus nomes com desvio de recursos ou mesmo de comportamentos, O Rui Carneiro foi governador, 1940/1945, e senador  por várias legislaturas, vindo a falecer como senador em 1977. Janduhy Carneiro não foi governador, mas, como deputado federal muito lutou pelo povo mais pobre da Paraíba, principalmente na área da saúde, sua área preferida, talvez pelo fato de ser médico. Não menos cioso das suas responsabilidades, tivemos José Américo de Almeida, interventor daquele Estado em 1930, governador, 1951/1956, ministro dos transportes, 1930/1934 e 1953/1954. Grande escritor paraibano, com destaque para sua obra prima, A Bagaceira, de 1928. Além de escritor, foi romancista, poeta, cronista, ensaísta, folclorista, sociólogo, advogado e professor universitário. Além desses, arrolamos na mesma linha de conduta mais três nomes, verdadeiros ícones na política paraibana, de reputação ilibada; o Argemiro de Figueiredo, foi o governador, 1935/1940, voltado para a agricultura, mecanizando e fazendo parcerias com pequenos agricultores; sendo deputado e senador da república, se constituindo num dos maiores oradores que o Congresso já teve. Pedro Gondim foi governador da Paraíba por duas vezes, 1958/1960, e 1961/1966. Falecido em 2005. Finalmente, João Agripino de Vasconcelos Maia Filho, ministro de minas e energia do Brasil, 1961, governador, 1966/1971. Da Paraíba citei apenas aqueles que eu vi governar enquanto lá estive, e ouvi narrativa dos meus familiares, enquanto criança, daqueles de décadas anteriores a 1950.
             Na política nacional tivemos muito homens que honraram seus Estados e o nosso país com muita dignidade, trabalhando sem falcatruas ou malandragens, com a compostura dos grandes líderes. Não podemos esquecer do nosso maior presidente,1956/1961, de todos os tempos, Juscelino Kubitschek de Oliveira, o mineiro que avançou o Brasil no mundo industrial, sem rusgas ou queixumes dos seus adversários, eleito em 2001, o brasileiro do século, vindo a falecer em 1976, enquanto levava uma vida simples, como simples foi por toda sua existência. O mato-grossense, Jânio da Silva Quadros, fez sua vida política em São Paulo, um homem pobre que foi de vereador à presidência da república pela sua inteligência e eloquência, renunciou ao carpo de presidente em 1961, retornando à vida pública como prefeito de São Paulo, ficando no cargo de 1986/1989, falecendo em 1992, quando tinha um padrão modesto para os cargos que ocupou.
            Os presidentes da época da ditadura, independente da nossa ideologia, todos eles, entraram, saíram da presidência e vieram a falecer levando uma vida de muita normalidade, sem a extravagancia que podiam ter adquirido no exercício dos seu mandatos, vivendo do soldo militar que lhe era devido; teve o caso do General João Batista Figueredo , 1979/1985, último dos cinco presidentes militares, que vendeu sua chácara, antes de falecer (1999), onde cuidava da criação dos seus cavalos, seu esporte favorito, por não ter condições de mantê-la financeiramente.
            O Itamar Augusto Cautiero Franco, o baiano, soteropolitano mais mineiro que tive oportunidade de conhece-lo, passando por a maioria dos cargos que a política pode lhe oferecer, em contrapartida ofereceu ao povo Brasileiro uma postura de governante honesto, sendo reconhecido como o introdutor do Plano Real, em 1994, quando Fernando Henrique Cardoso era seu ministro da fazenda.
            Fernando Henrique Cardoso, presidente de 1995 até 2003, representou o modelo do homem público, exercendo o cargo com a postura dos grandes estadistas, carregando no seu currículo a posição de sociólogo, filósofo, escritor, cientista político e professor emérito da USP (Universidade de São Paulo), muito honrou o povo brasileiro pela sua grandeza de espírito e honestidade, enquanto esteve no comando da nossa Pátria.
            Tivemos ainda grandes políticos, em termos de honestidade, é impossível elencarmos todos, mas não posso esquecer o grande Ulysses Silveira Guimarães, o senhor das diretas; Luíza Erondina de Sousa, a paraibana que saiu da Paraíba para se destacar em São Paulo como prefeita daquela cidade (1989/1993),  administrou com punhos de aço, sem permitir que a corrupção fosse implantada, e tem se destacado perseguindo corruptos na Câmara Federal; Como esquecer da administração, ainda em São Paulo, do prefeito, 1975/1979, Olavo Egídio
de Sousa Aranha Setúbal (1923/2008), com sua seriedade e controles; os governadores André Franco Montoro (1916/1999), com uma gestão irretocável (1983/1987), recuperando as finanças do Estado de São Paulo; e Mario Covas Junior (1930/2001), fez uma administração exemplar no governo do mesmo Estado (1995/2001).
            Mesmo não tendo exercido cargo no executivo, o senador Eduardo Matarazzo Suplicy (SP), é uma figura emblemática no Congresso Nacional, mesmo pertencendo ao partido do governo, tem se destacado pelo seu comportamento lúcido, sempre em defesa das causas justas, voltadas ao bem comum, desde 1991, portanto, por três mandatos consecutivos, sem ter se enlameado com a tragédia que envolve aquela casa, e por conta da base aliada, partidos de apoio ao atual governo. Por isso e por outras razões, é de bom alvitre relacionar esse político dos tempos atuais, por ter se destacado, assim como outros poucos que ali estão, pela consciência política, no emprego da honestidade em suas atribuições.
*Escritor e Poeta

Quando o dinheiro não supera a integridade moral de um homem Quando o dinheiro não supera a integridade moral de um homem Reviewed by Clemildo Brunet on 5/06/2014 10:28:00 AM Rating: 5

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