Carnaval sofrência
Onaldo Queiroga |
Onaldo
Queiroga*
No
Brasil, dizem que o ano só começa após o carnaval. Bom, janeiro já se foi,
fevereiro chegou, e, com ele, o carnaval passou por nossas vidas trazendo
festejos, cachaça, samba, axé, frevo, maracatu, rock, brega e até uma a tal de
"sofrência".
Aliás,
"sofrência" vai ser o que vem por aí. Depois da quarta-feira de
cinzas, com muita ressaca, o povo vai ter que enfrentar os extremos de uma
avenida chamada realidade. De um lado, a estiagem, e,
com
ela, a falta d'água. De outro, um enorme carnaval de subida de preços, que
obrigará o cidadão/folião a ter muita resistência para subir as ladeiras
repletas de aumento de energia, de combustível, de mensalidades escolares, de
alimentos, enfim, de tudo, menos do seu salário.
Nessa
avenida, aumento é que não faltará. Esse carnaval vai ser longo e pesado. A
elevação da inflação e da corrupção vem espalhando sujeira pra todo lado. A
banalização desse agir com a força corruptiva parece que vem anestesiando a
população brasileira. É como se tivessem quebrado na avenida um imenso frasco
de lança-perfume, e, aí, o povo movido por esse cheiro anestesiante de
sofrência, que rima com demência, então, brinca com uma charge aqui, outra ali,
faz humor com os desvios, desviadores e com sua própria sorte. E assim, a vida
vai passando, e, pelo trajeto, não há e nem haverá trios elétricos, orquestras
de frevo e escolas de samba. Haverá, sim, o bloco da corrupção, que, diante da
impunidade, mostra-se perene, deixa e deixará sempre mais lixo, o qual,
acumulado, já vem trazendo e trará ainda mais degradação e um grande apodrecimento
do nosso existir.
Eita!
Um amigo nos lembrou de que depois do carnaval começa a Quaresma e a Semana
Santa vem por aí. Acontece, que esse mesmo amigo também logo nos falou que
agora é hora dos coelhinhos da páscoa e dos deliciosos chocolates. Está certo
que isso aquece um determinado setor comercial do Brasil, o qual espera um ano
inteiro para vender seus ovos recheados de chocolates. Mas, cá pra nós, se no
Natal o papai Noel já é tão lembrado quanto o nascimento de Jesus, na Semana
Santa, o Calvário e Crucificação do Menino Deus já vem sendo menos vivido e
sendo trocado por ovos de páscoa. É triste, mas é a realidade.
No
país do carnaval, passada a Semana Santa, o folião tem que prestar contas ao
Leão, que, na avenida abril, cobra de todos os mortais o imposto de renda. Com
tarifa elevada, o Leão não terá pena de ninguém. Vamos deixar o negativismo de
lado. Mesmo com todo esse carnaval, que não é o da alegria do frevo, do samba e
do axé, é preciso orar e rezar muito, acreditar que ainda é possível varrer
essa avenida, jogar no esgoto corrupção e corruptos, para reacender a luz da
dignidade e da esperança num futuro melhor.
*Escritor pombalense Juiz
de Direito da 5ª Vara Cível em João Pessoa – PB.
Carnaval sofrência
Reviewed by Clemildo Brunet
on
2/20/2015 08:37:00 PM
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