Exéquias do PT pós impeachment
Rinaldo Barros |
Rinaldo
Barros*
Trincou. O cristal está trincado, e a
maioria da população brasileira pode até não saber ainda o que deseja, mas tem
cada vez mais claro em seus corações e mentes o que definitivamente não quer
para o Brasil.
Refrescando a memória, lembro que, ao
chegar ao Governo Federal - além de renunciar aos princípios do seu partido no
documento “Carta ao povo brasileiro” (22.06.2002) - o governo Lula preencheu
considerável parcela das mais de 20 mil funções administrativas com a nomeação
de militantes do PT e aliados, líderes de movimentos sociais e sindicais;
fenômeno conhecido como “aparelhamento do Estado”.
O mérito e
Afastados de suas bases, essas
lideranças estão hoje perfeitamente adaptadas às benesses do poder, sem o menor
interesse em retomar o “trabalho de base”. Instados a se manifestar, são a voz
do governo junto às bases, e não o contrário. Ou seja, contrariando os
princípios do PT original, o PT governo optou por uma governabilidade baseada
numa política clara de beneficiar o capital financeiro e as grandes empresas,
(com crédito fácil, juros altos e isenção de impostos) e; na outra ponta,
políticas compensatórias para os excluídos, dominados e subalternos, com
milhões de famílias endividadas, iludidas pelo crédito fácil e juros altos; sem
perspectiva de alforria.
Os lucros astronômicos dos bancos,
empreiteiras e grandes montadoras de veículos assim o comprovam.
Lula ou Dilma poderiam ter assegurado
sua sustentabilidade política em duas pernas: 1) o Congresso Nacional e; 2) os
movimentos sociais. Poderiam, mas não o fizeram. Julgando-se espertos,
tornaram-se reféns (voluntários) de forças políticas tradicionais,
oligárquicas, reacionárias, conservadoras; que ora integram o grande arco de
alianças de apoio ao PT governo; a exemplo do Sarney, Collor, Maluf, Renan e
Cunha.
Paralelamente, o PT adotou uma política
para os excluídos, sem a mediação dos movimentos sociais, como é o caso do
programa “Bolsa Família”, que ocupou o lugar do fracassado “Fome Zero”, o qual
se apoiava em comitês gestores integrados por lideranças da sociedade civil,
que controlavam e fiscalizavam a iniciativa.
É óbvio também que tal prática
enfraqueceu e imobilizou os movimentos sociais e, ao mesmo tempo, pôs o núcleo
governante voltado unicamente ao seu próprio projeto de perpetuação no poder.
Este projeto de poder, em seu desvario,
gerou monstros como o mensalão e petrolão; tenebrosas transações que colocaram
em risco o próprio Regime Democrático de Direito.
Ou seja, o fenômeno do lulopetismo se
descolou do petismo histórico. A direção nacional do PT, por sua vez, aceitou
restringir-se ao jogo do poder. Em outras palavras, o lulopetismo mantém um
falso discurso neopopulista de esquerda ou, pior ainda, fazendo-se de vítima
das “zelites”.
O Brasil é hoje um Estado obeso,
depredador do meio ambiente, com crescimento zero, com alta carga tributária,
juros altos, infraestrutura precária, obras estruturantes paralisadas ou
atrasadas, sem planejamento, sem capacidade de poupança, nem de inovação, nem
de competitividade. E continua a ser o campeão da concentração de renda e da
desigualdade social; com ignorância, analfabetismo, miséria urbana e violência
crescente.
Registre-se que questões maiores da
pauta histórica da esquerda, como as Reformas agrária, fiscal, urbana, política
e universitária foram relegadas a um futuro incerto. Um retrocesso histórico
lamentável.
Em nome da governabilidade (com menos
habilidade e menos astúcia que o Lula), Dilma está refém de forças políticas e
econômicas descompromissadas com o desenvolvimento sustentável de nossa sociedade.
Resumindo, o PT está no governo, mas não
exerce o poder de fato; apenas o serve como preposto.
Daí a obsessão com o controle da
imprensa, uma ideia fixa do PT que, envergonhado, diminuído, esmagado, na
contramão da história; imagina ser possível disfarçar suas contradições.
Termino citando Frei Betto, em seu
artigo “A pasteurização da esquerda”, publicado no Le Monde Diplomatique, dez.
2008: “o Projeto civilizatório da Nação brasileira foi descartado em benefício
apenas de um projeto de poder de um grupo dominante.
O resultado aí está: mesmo sem ter ainda
desaparecido, o PT é uma sombra do que foi no passado. Trata-se de um enigma
saber que estrutura política substituirá o governo Dilma, no pós-impeachment
(que virá!). A conclusão é privilégio do caro leitor.
*Rinaldo Barros
é professor - rb@opiniaopolitica.com
Exéquias do PT pós impeachment
Reviewed by Clemildo Brunet
on
12/12/2015 07:02:00 AM
Rating:
Nenhum comentário
Postar um comentário