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CADEIA É PRA LADRÃO

Severino Coelho Viana
Por Severino Coelho Viana*

Os brasileiros de sã consciência, por sua índole, são contrários à impunidade, ao tudo acaba em pizza e aos larápios do colarinho branco. Recordamo-nos de um episódio nacional transmitido por um canal de televisão pelo o então líder dos metalúrgicos – Luis Inácio Lula da Silva.  O curioso é que, em 1989, quando candidato a presidente da república, Lula deu uma declaração pra lá de bombástica durante entrevista concedida ao programa de Sílvio Santos, dentre as declarações mais esfuziantes, o então deputado dizia: “Lugar de ladrão e
de corrupto é na cadeia".
A nossa historinha começa assim: “Era uma vez”...
O feitor gerenciava uma extensa propriedade rural denominada de Brás Pascoal, localizada no Município de Platô. Noticiariam que a região estava infestada de trombadinhas e que a sua casa estava sendo frequentada por pessoas de todas as procedências, inclusive, avisava que tinha havido pequenos furtos. A casa da propriedade Brás Pascoal tinha um cofre empilhado de moedas nacional e estrangeira, ornamentadas de obras de arte e candelabros de ouro. No quarto secreto da família guardava um baú amontoado de esmeralda, ouro e prata.
Qual é a reação natural da pessoa que está sendo roubada? A atitude mais sensata é prender o ladrão! Temos conhecimentos que soluções irracionais, às vezes, são tomadas quando partem para o campo da vingança privada, matando o ladrão. Se assim ocorrer o ladrão e o roubado terminam sendo os perdedores. O primeiro perde a vida. O segundo, o sossego. O melhor caminho é levar ao conhecimento da justiça, e esta se encarrega de adotar as providências cabíveis dentro das formalidades legais.
Pois bem! O feitor se achava o dono da extensa propriedade rural Brás Pascoal, tinha uma fabulosa manada de gado, um imenso rebanho de ovelhas. O plantio e a cultura de subsistência eram tudo que se via ao redor do roçado: algodão, feijão, milho, arroz, mandioca, melancia, além de um grandioso pomar frutífero. O que mais se destacada era a formidável plantação de algodão que se mesclava entre o azul celeste e o branco dos galhos. Parte desta propriedade rural tinha escassez de água, logo começou a fazer uma irrigação para abrandar a área estiada quando percebeu que a ideia originária estava sendo atropelada e ele gastava mais do que havia planejado.
Na sequência cronológica dos fatos, vários feitores passaram pelo comando administrativo e seus atrozes capatazes, que já vinham nesse itinerário de trabalho adquirido pelos seus ancestrais. Uns eram honestos; outros honrados, além de passar pelas mãos dos vivos demais e outros aparentando inocência.
A casa grande, de longe, avistava-se o tamanho da suntuosidade e imponência. A varanda servia de apoio e repouso para os achegados, os visitantes e convidados. Sempre havia os comes e bebes que varavam a madrugada. O requinte encandeava o rosto dos comilões e beberrões. Começava pelos copos de cristais, pratos de porcelana e talheres de prata com um cardápio regado à lagosta.
No meio desta esnobação festiva percebia-se a amizade fraterna entre o Feitor e Nego Dé, que se faziam presentes em todas as solenidades e nas conversas amenas. O Nego Dé tinha um ouvido aguçado e uma memória privilegiada e gozava de total confiança do Feitor.
Certo dia, o Feitor e sua esposa fizeram uma viagem turística pelos campos férteis da Europa. Voltaram encantados e vinham com uma ideia fixa de imitação do costume e estilo europeus. No entanto, foram surpreendidos com outro amigo particular em pleno flagrante delito com o dinheiro na mão e se dirigia em busca do cofre!
O Feitor gritou:
__ Chame a polícia para prender este ladrão!
A mulher do Feitor refutou:
__ Não faça isso! Ele é nosso amigo do peito!
__ E o que é que eu faço, esfumaçou o Feitor.
A mulher o aconselhou:
__ Vamos dizer que houve um furto na nossa casa e não sabemos quem foi nem quanto levaram. Vamos dizer que chegamos da Europa e não sabemos de nada. A polícia é que deve investigar. Enquanto não encontrar o autor do roubo, nós culpamos nosso vizinho, que é o nosso inimigo e adversário político. Oriente aos serviçais dizerem e divulgarem que o fato aconteceu a mando do nosso inimigo pessoal.
O tempo passa, todos desconfiam dessa conversa e acham que é lorota. Não passa de uma estória da carochinha
A região contaminou-se de larápios, havia subtração de todas as espécies, alastrando-se de tal maneira que foi preciso a autoridade policial mudar de tática e aumentar consideravelmente o reforço policial. De furto de goiaba à joia mais cara de uso pessoal da esposa do Feitor. Ante a tamanha perda na propriedade Brás Pascoal e um crescimento vertiginoso no patrimônio do Feitor, a onda de boataria corria a boca solta na redondeza. O Feitor não dizia uma só palavra a respeito do assunto, virou boca de siri. Ou, quando falava, saía pela tangente.
Por força da natureza, um policial ia passando pela cidade de Platô e viu dentro de uma loja comercial o Nego Dé vendendo um anel de brilhante de altíssimo valor financeiro por uma bagatela. Logo desconfiou e foi averiguar. Nego De amarelou, as pernas tremiam, a voz titubeava quando avistou o policial cara a cara. Imediatamente o policial indagou:
__ De quem é este anel?
__ É meu! Estou vendendo, preciso de grana!
O policial experiente insinuou:
__ Este anel de brilhante não é seu! Te conheço de longa data, você não tem condição de possuir uma joia preciosa no valor deste anel. Você está preso em flagrante delito! Acompanhe-me até a delegacia para os esclarecimentos necessários.
A notícia da prisão de Nego Dé caiu como nitroglicerina pura na mesa de Seu Feitor. A casa caiu e o manto tirado do rosto!
O delgado era corajoso e perspicaz, sem rodeio, questionou:
__ Nego Dé! Você foi preso em flagrante delito. Não tem mais desculpas. Ultimamente, o seu padrão de vida não condiz com suas posses. Você se veste com as melhores grifes do país, bebe o melhor whisky do mercado e frequenta os melhores restaurantes das cidades circunvizinhas. Faço-lhe uma advertência: - a confissão do indiciado abranda a pena.
Nego Dé arregalou os olhos e respondeu:
__ Seu Delegado, todos nós estamos perdidos, não há mais a quem apelar, o mentor de todos os furtos na propriedade Brás Pascoal é Seu Feitor, é quem promove e organiza à cooperação para atuação de todos os meliantes do Município de Platô. Ele quer tomar a propriedade Brás Pascoal. E Nego Dé debulhou uma espiga de falcatruas.
O verdadeiro dono da propriedade Brás Pascoal chamava-se Polvilho da Silva. Chegou a Platô e tomou as rédeas da propriedade e logo demitiu Seu Feitor. Fez um juramento que jamais admitia um feitor por muito tempo porque criava um círculo vicioso. Foi à delegacia e queria ficar a par das investigações e de como ia ficar a devolução dos bens subtraídos.
O delegado o recebeu com a máxima cordialidade, detalhando os procedimentos adotados e indicando a quantidade sem fim de pessoas envolvidas na roubalheira da propriedade Brás Pascoal. O delegado alertou que a maior dor de cabeça era o envolvimento promíscuo de Seu Feitor. E dessa forma indagou ao Seu Polvilho da Silva:
__ O que é que eu faço com Seu Feitor?
Seu Polvilho da Silva respondeu sem pestanejar:
__ LADRÃO É PRA CADEIA!
João Pessoa, 1O de março de 2016.
*Escritor pombalense e Promotor de Justiça em João Pessoa - PB

scoelho@globo.com
CADEIA É PRA LADRÃO CADEIA É PRA LADRÃO Reviewed by Clemildo Brunet on 3/11/2016 03:53:00 PM Rating: 5

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