NENA QUEIROGA OU “MADRINHA NENA” (FRANCISCA MARIA DE QUEIROGA)
Gente
das ruas de Pombal!
Jerdivan Nóbrega de Araújo |
Jerdivan
Nóbrega de Araújo*
Sempre que assisto a série "Downton
Abbey" e vejo a Condessa Viúva Violet Grantham, interpretada por Maggie
Smith, me vem à cabeça a imagem de dona Nena Queiroga. Isso por que quem a
conheceu sabe que ela era uma legítima representante da aristocracia inglês do
início do século XIX, nas ruas quentes de Pombal”.
WJ Solha a descreveu como uma pessoa
“Viajada, amiga de uma boa leitura (ela me forneceu muitos, muitos livros) foi
uma das mais estranhas surpresas para mim ao chegar do sul a Pombal, pelo toque
de nobreza meio à Deborak Kerr, que sempre soube manter com enorme
naturalidade”.
Nena Queiroga nasceu no dia 16 de
fevereiro de 1922, era filha do casal João Ferreira de Queiroga e dona Maria
Querubina de Queiroga (dona Neca). Seus irmãos eram: Joquinha, Dr. Queiroga,
Maria das Neves, Epitácio Queiroga, Zé Pretinho, Ritinha e
Nena Queiroga foi responsável pelo
“financiamento” dos estudos de muitos jovens pobres de Pombal, ação essa que
ela fazia questão que não fosse divulgada, razão pela qual ainda hoje muita
gente ignora esse lado “mecenas” de dona Nena, o que mais uma vez a leva em
direção à aristocracia inglesa.
O acesso a Dona Nena, muito embora as
pessoas a tivessem como uma mulher arrogante por sua dificuldade de emir um
sorriso e por não medir as palavras na hora de uma repreenda, era feito da
mesma forma, fosse para um humilde agricultor fosse para um representante da
alta sociedade de Pombal: ela nunca negou uma ajuda a quem a procurava.
Dona Nena gostava de viajar. Seu destino
preferido era o velho mundo, em particular a Inglaterra. Foram mais de 75
viagens por 25 países diferentes. Para uma mulher nascida no interior da
Paraíba, em um tempo em que o deslocamento até dentro do Estado era difícil,
não deixa de ser uma façanha digna de registro.
Fez parte do seu roteiro de viagens
mundo: Rússia, Portugal, França, Alemanha, Jerusalém, Espanha e Itália. Ela
estava de viagem marcada para o Japão, quando adoeceu, ficando impossibilitada
de realizar sua excursão.
Sempre que regressava das viagens fazia
questão de compartilha suas aventuras e aprendizados com as alunas da escola
Normal Josué Bezerra, como uma forma de mostrar a elas, que acreditassem em si
mesmos que tudo seria possível.
Em 1982 eu estava em Pombal e recebi a
informação que dona Nena queria falar comigo. Achei muito estranho, já que
entre nos dois não havia nenhuma aproximação. Aliás, eu sabia que ela existia,
mas, tinha certeza que ao contrário não era verdadeiro. Apreensivo, dirigi-me
até o Cartório, após me apresentar iniciamos uma curta conversa. Ela falou que
estava contente em saber que eu havia me casado com sua “afilhada”, Thereza
Christina, mas, achava que casamento era para ser “abençoado por deus” e não
simplesmente duas pessoas resolverem morar sob o mesmo. Eu perguntei se era uma
reclamação da mãe de Thereza, ela riu e respondeu que sim e que havia prometido
a Maria Júlia ter essa conversar por amizade, mas que na verdade “ela não tem
nada a ver com a situação”. Em seguida pediu-me desculpas “pela intromissão”.
Thereza Christina foi uma das
“afilhadas” de “madrinha Nena”, que conseguiu para ela uma vaga no internato
Colégio Cristo Rei, em Patos, o que a época só era possível para as filhas da
alta sociedade da Paraíba a Rio Grande Norte.
Entre os afilhados de Nena Queiroga o
mais emblemáticos foi Manoel Freire. Manoelzinho, nasceu por volta de 1942, no
Sítio Serra Verde, do município de Piancó, e morreu em Moscou, em dezembro
1965, aos 23 anos. Patrocinado por Nena, foi seminarista em Cajazeiras, e fez
curta carreira na Petrobrás e Banco do Estado de São Paulo.
Em análise das cartas que ele escreveu
para “madrinha” Nena, e que foram publicadas por WJ Solha no Jornal Correio da
Paraíba em 1992, conclui-se que Manoel Freire era uma pessoa de inteligência
acima da média, inquieto e, envolvido com politica e movimento sindical. Ele
trabalhou como já citado, na Petrobrás onde militou no sindicato da categoria
escrevendo para o informativo. Envolvido com o PCB em plena a Ditadura Militar,
acabou viajando para Europa, e terminando os seus dias em Moscou, onde morreu
acometido de um tumor no cérebro, com apenas 23 anos.
Nena Queiroga nunca se casou. Ela
faleceu no dia 24 de fevereiro de 2008, quando faltavam oito dias para
completar 86 anos de idade.
*Jerdivan
Nóbrega de Araújo – Escritor e pesquisador de nossa história
NENA QUEIROGA OU “MADRINHA NENA” (FRANCISCA MARIA DE QUEIROGA)
Reviewed by Clemildo Brunet
on
8/18/2016 09:00:00 AM
Rating:
Nenhum comentário
Postar um comentário