Vaqueiro: Senhor do gado e dos cavalos
Onaldo Queiroga |
Onaldo
Queiroga*
Quem é esse homem que trabalha com o
boi, vive diuturnamente em função dele. Sua roupa, o puro couro do boi, para
resistir aos espinhos da caatinga. Sim, sua couraça é uma armadura denominado de gibão.
Esse elemento humano embrionariamente
semeado no sertão nordestino com ingredientes étnicos da raça branca, da
vermelha e com uma pitada do negro resultou uma figura das mais expressivas do
nosso sertão – o vaqueiro.
Euclides da Cunha, disse: “O sertanejo
antes de tudo, é um forte”. Realmente é verdade. E quando esse sertanejo é
personificado nesse homem destemido e lendário chamado vaqueiro, sua fortaleza
torna-se ainda maior. Em seus escritos Euclides, ainda, pontificou: "O
vaqueiro criou-se em uma intermitência, raro perturbada, de horas felizes e
horas cruéis, de abastança e misérias – tendo sobre a cabeça, como ameaça
perene, o sol, arrastando de envolto no volver das estações, períodos
sucessivos de devastações e desgraças. Fez-se forte, esperto, resignado e
prático".
Na visão de Câmara Cascudo, esse
solitário sertanejo nos carrascais de outrora era uma espécie de escravo, pois
a ele incumbia a tarefa de ser o senhor do gado e dos cavalos. Embrenhado na caatinga
ou nos tabuleiros. Corria, corria solto driblando os garranchos ressequidos em
busca de recuperar as reses perdidas, quase sempre ariscas.
Mesmo sendo visto como escravo, os
antigos relatam que o vaqueiro já teve vida melhor. Sim, ele trabalhava numa
tradição que reinava em todo o sertão, onde o sistema de meia era cumprido
eficazmente.
Essa assertiva coincide com um
depoimento dado por Luiz Gonzaga ao programa Conexão Nacional, exibido pela
antiga Rede Manchete, à época apresentado pelo repórter Roberto Faith. Na
ocasião, o reporte indagou do Lua: “Seu Luiz, o vaqueiro como símbolo do homem
sertanejo e modo de vida, isso ainda existe, ainda está preservado ou é pura
nostalgia?” Luiz, então respondeu: “Só na imagem. O vaqueiro caiu muito. Antigamente
o vaqueiro andava em cavalo gordo, participava do lucro da fazenda. De quatro
bezerros, um era do vaqueiro e, mesmo que ele não criasse, mas, negociava com o
patrão. Mas, começou só entrar aqui o direito do trabalhador, e pro vaqueiro
não sobrou nada, pois só sabe mesmo lidar com o gado. Então, ele passou a usar
burro. Não dão mais a partilha pra ele. Hoje ele não usa nem burro, ele anda de
pé dando uma de tangerino ou mesmo montado em jegue. É o mais pobre dos
nordestinos. É o pobre do vaqueiro. Anda de fazenda em fazenda pedindo
trabalho, e nada.”
Luiz já demonstrava sua preocupação com
o vaqueiro. Sua obra reserva espaço para a defesa desse esquecido e injustiçado
sertanejo. Gravou a música A Morte do Vaqueiro e criou a Missa do Vaqueiro,
celebrada desde o terceiro domingo de 1971. E hoje, o que fazer? Devemos Lutar
para manter vivo esse símbolo.
*Escritor
pombalense e Juiz de Direito
Vaqueiro: Senhor do gado e dos cavalos
Reviewed by Clemildo Brunet
on
6/30/2017 08:44:00 AM
Rating:
Nenhum comentário
Postar um comentário