DE VOLTA A RUA DO COMERCIO DE UMA POMBAL DA DÉCADA DE 1960
Jerdivan e Verneck |
Texto
de Jerdivan Nóbrega de Araújo e Verneck Abrantes de Sousa*
Quero de volta a Rua do Comércio: lugar
de muitas histórias, acontecimentos diários e de saudade que veem e vão em
nossas memórias..
Nos finais de tarde as pessoas
debulhavam feijão nas calçadas. A bodega de Maria Noca, Severino Pedro, Josafá
e de Toinho de Alice. Rua que lembra os pastéis da velha Petronila, os
sequilhos e cavalinhos de goma de Ana Benigno, Nanzinha e dona Lourdes. A
calçada de tio Cândido e dona Chiquinha, onde à noite o velho Manssonilo vinha
se juntar ás demais pessoas para contar histórias antigas e fantasiosas da sua
vida.
Os frondosos pés de fícus-benjamim, onde
sob suas sombras os meninos jogavam peão e futebol com bola de meia, ao som
gostoso dos cantos dos canários amarelos que procuravam migalhas nas soleiras
das janelas entre abertas.
No meio da rua, sob à luz vigilante do
luar, as vozes das meninas suavizavam a penumbra. De mãos dadas elas cantavam
cantigas de rodas enquanto que os meninos, brincavam de “Pega Ladrão” a vista
dos mais velhos, que em suas cadeiras preguiçosas trocavam ideias e
cumprimentavam os que passavam, vindo da lida para o repouso do lar.
E quanta gente boa para cumprimentar: –
Boa noite, dona Ana! – Boa noite, Seu João Lindolfo!
Seu Mizim a se balançar em sua cadeira
de ferro, mestre Álvaro ouvindo rádio, Ciço de Nini, Pindó Gouveia, Joana
Teresa na lorota e o Cego Rosendo que passa vendendo pão de ló, alfenim e broa
preta. Otarcilio de dona Guiomar, Deoclécio Maniçoba, Dr. Lourival, Zulima, Pirrita,
Licô, Jovem Formiga, Bernadino Bandeira, Odílio, Tambaqui e Cora de Onofre,
dona Benigna na risada gostosa e Maria Antonieta vigiando suas filhas.
Era Adamastor ensaiando seu trombone
para a apresentação da Banda Municipal, Maria de Deca sempre com uma história
nova pra contar e Leó Formiga entregando uma chapa fotográfica que fizera na
tarde anterior.
– Quantos ainda circulam pelas ruas de
Pombal, quanto já se foram?
Nas chuvas de inverno, as águas rolam
formando riacho no meio da rua descalçada e vão desembocar na enlameada Rua de
Baixo, para finalmente desaguar no Rio Piancó.
Alí os moleques espertos, viviam cada
momento das suas vidas, gritando em meio aos clarões de relâmpagos e o som
estridente dos trovões, procurando uma e outra biqueira para tomar banho na
chuva. As meninas adolescentes com seus vestidos colados ao corpo: quantas
fantasias a despertar em nossas mentes inocentes.
Rua do Comércio! Das casas antigas e de
muitas botijas de ouro enterrada e desenterradas por Cicero de Bembem e Filemon,
dois bons contadores de lorotas e por onde as mulheres passavam com sua “reca”
de filhos para receber o leite redentor no Posto de Puericultura.
O passado sendo desmemoriado pelo tempo.
As imagens que distanciam e se apagam no tempo, mudando o antigo e dando lugar
ao novo. Resta-nos recompor estas lembranças, trazer à luz o nome de saudosas
pessoas à quem muito devemos as lições de vidas do que hoje somos.
A modernidade é cruel e não respeita as
mais elementares lembranças e segue fazendo o seu papel. São as transformações
que vão demolindo o nosso passado, transformando-o num imenso quebra-cabeça, o
qual nos cabe remontá-lo, nem que seja faltando partes, pois há estilhaços que
se negam a se juntar: são os remendos irremediáveis: o nome das ruas, por exemplo,
que era dado pelo povo e não por leis como hoje acontece.
Quem há de saber quem primeiro denominou
aquela artéria, uma das mais antigas da cidade de Pombal, de Rua dos Prazeres
depois Rua do Comércio e hoje João Leite?
Mas, se essa rua centenária é, por força
de lei municipal, denominada de Cel João Leite, por força da memória
indemolivel do povo de Pombal é a eterna Rua do Comércio; do feijão debulhado
as calçadas; das lorotas e vantagens contadas pelos nossos avós, onde seus
fantasmas ainda hão de circular por muitas gerações.
E quanta gente boa para cumprimentar: –
Boa noite, Seu Lelé! – Boa noite, seu
Onofre! Eu ainda escuto o eco da Rua do Comércio!
*Jerdivan
Nobrega de Araújo e Verneck Abrantes
DE VOLTA A RUA DO COMERCIO DE UMA POMBAL DA DÉCADA DE 1960
Reviewed by Clemildo Brunet
on
7/05/2017 02:22:00 PM
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