UM APÊNDICE INDISPENSÁVEL SOBRE O HISTORIADOR POMBALENSE WILSON NÓBREGA SEIXAS -
Evandro Nóbrega |
ESPECIALMENTE PARA A
ESCRITORA, TRADUTORA, JORNALISTA & PESQUISADORA Rosa Freire d'Aguiar: por - Introito
— O Velho Arraial de Piranhas
— Dois Lançamentos Póstumos
— Cumprindo a Promessa
— “Fui Induzido a Erros”
— Uma Reedição Abortada
— A “Saga” da Edição Definitiva
— Zélia, Raphael e Carneiro Arnaud
— Introduções a Wilson
— Uma História por Escrever
— Trabalho Paleográfico
— Encantando a Plateia
— Julgado de Piancó &... Piancó
— Para Ler Wilson
Introito — Solicita-nos o historiador
José Octávio de Arruda Mello, um dos dois ilustres organizadores desta
coletânea que, depois de tratarmos de Celso Mariz, devemos acrescentar algumas
informações sobre outro grande historiador dos Sertões, Wilson Nóbrega Seixas —
sabendo-se, porém, que Wilson mereceria por si só um capítulo à parte.
Especialista na História dos Sertões
paraibanos, chegou a ser comparado a Capistrano de Abreu, autor de Capítulos de
História colonial e de Os caminhos antigos e o povoamento do Brasil, entre
outras imperdíveis obras. Com isto não concorda o historiador Guilherme Gomes
da Silveira d’Avila Lins, para quem “Wilson é Wilson”, em sua originalidade e
em suas criações próprias, não podendo, conseguintemente, ser comparado a qualquer
outro historiador.
Entre outros historiadores que também
contribuíram para um melhor entendimento do povoamento interiorano da Paraíba
(e dos Sertões nordestinos em geral), encontram-se Horácio de Almeida, com sua
História da Paraíba (dois volumes, Editora Universitária da UFPB, 1978) e Brejo
de Areia (cuja segunda edição saiu também pela mesma Editora Universitária, em
1980); Elpídio de Almeida (especialmente com sua História de Campina Grande,
segunda edição pela Editora Universitária da UFPB, João Pessoa, 1978); et alii.
Ainda sobre o Interior da Paraíba,
Horácio de Almeida publicou, nas Edições Históricas do jornal O Norte editadas
por Evandro da Nóbrega em 1984 e 1985, e depois inseridas por José Octávio de
Arruda Mello (organizador) no livro Capítulos de História da Paraíba (Editora
Grafset, Campina Grande, 1987), o artigo “O elemento humano - Indígenas
paraibanos: potiguaras, tabajaras e cariris”.
Embora reconhecendo a grandeza de seus
trabalhos, Wilson corrigiu algumas escorregadelas de Horácio e de outros
historiadores, paraibanos ou não — e, como se verá adiante, corrigiu SEUS
próprios enganos historiográficos, vez que temia mais que tudo induzir a erros
os especialistas mais jovens.
O Velho Arraial de Piranhas — A
contribuição de Wilson Nóbrega Seixas provém especialmente (mas não
exclusivamente) da segunda edição de seu livro O velho arraial de Piranhas
(Pombal), lançado originalmente em 1961, pela gráfica do jornal A Imprensa, de
João Pessoa — mas completamente reformulado pelo próprio Autor, numa reedição
que, a seu pedido, tivemos a honra de coordenar e editar.
Essa segunda edição é a que se deve
levar em conta, pelo que a seguir se esclarece. Nos últimos anos de vida,
Wilson afligiu-se enormemente por constatar erros factuais e de interpretação
em sua principal obra. Chegou a entrar em depressão e, por intermédio do
desembargador Raphael Carneiro Arnaud, convidou-nos para um entendimento sobre
como publicar uma edição aumentada, corrigida e definitiva de O velho arraial
de Piranhas.
Colocamo-nos à sua inteira disposição —
e, juntamente com ele, em seu computador, fomos pacientemente revisando toda a
obra, até chegarmos a um texto final satisfatório. Mas Wilson faleceu sem poder
lançar seu livro, cuja edição já estava totalmente pronta e acabada. Seu
falecimento ocorreu a 11 de março de 2002, em João Pessoa, aos 86 anos de idade
e com 37 anos de atividades no IHGP, onde ocupava a Cadeira nº. 15, cujo
patrono é Fernando Delgado Freire de Castilho.
Dois Lançamentos Póstumos — Sua viúva,
Dona Zélia Carneiro Arnaud Seixas, seus filhos e outros familiares, enfrentaram
todas as dificuldades para que se cumprisse a promessa de que o livro seria
lançado, mesmo postumamente.
Assim é que ela e o editor da segunda
edição da obra (o autor das presentes linhas) promoveram um pré-lançamento na
terra natal de Wilson, Pombal, a 9 de outubro de 2004, durante a Festa do
Rosário daquela cidade sertaneja.
E, em 25 de novembro seguinte, o então
presidente do IHGP, historiador Luiz Hugo Guimarães, coordenou o lançamento da
edição corrigida de O velho Arraial de Piranhas na sede do Instituto.
Atualizada e grandemente ampliada, a nova edição tem 466 páginas (ao contrário
das 200 e poucas páginas originais) e saiu pela Editora Grafset.
Quem falou em nome da família, durante a
solenidade no IHGP, foi o advogado, poeta e escritor Everaldo Dantas da
Nóbrega. Presentes, entre outras personalidades, o desembargador Raphael
Carneiro Arnaud e o médico Antônio Carneiro Arnaud (irmãos de Zélia); os
presidente e diretor da Grafset, José Neiva Freire e Vladimir Neiva; o cronista
Gonzaga Rodrigues; o designer Chico Pereira, autor da capa; o historiador José
Octávio de Arruda Mello (autor de um dos estudos introdutórios do livro); os
pesquisadores Jerdivan Nóbrega de Araújo e Verneck Abrantes de Sousa (que
auxiliaram o editor na atualização completa do texto do livro).
Por se tratar de obra importante,
comparável, em relação a Pombal e ao Interior da Paraíba, às obras Brejo de
Areia, de Horácio de Almeida, e História de Campina Grande, de Elpídio de
Almeida, a Presidência do IHGP decidiu lançar essa segunda edição em grande
estilo — e encarregou um de seus sócios mais atuantes, o Dr. Joacil de Britto
Pereira, para falar em nome da instituição.
Cumprindo a Promessa — Com a publicação
desse volume, Dona Zélia e todos nós cumprimos solene promessa feita ao “primo”
Wilson Nóbrega Seixas pouco antes de seu falecimento — a de publicar post
mortem um de seus mais importantes livros, O velho Arraial de Piranhas (Pombal)
numa “edição crítica e definitiva” que escoimasse os erros encontrados pelo
próprio Autor, ao longo dos anos, à medida que avançava seu conhecimento em
torno História dos Sertões paraibanos.
Como sempre atuamos juntos, ele e eu, a
partir dos anos 1960, e como Wilson sempre me procurasse para anunciar suas
repetidas descobertas sobre a História do Interior da Paraíba, inclusive para
efeito de publicação de seus artigos ou entrevistas em O Norte, ele nos
depositava muita confiança. Tanto que certa vez, já presa do mal que o
ceifaria, comigo abriu o coração sobre o livro que muitos consideram sua maior
obra, O velho Arraial.
Falou mais ou menos nestes termos:
— Vou morrer com uma mágoa: sem publicar
uma edição corrigida deste meu livro. Receio que os erros nele contidos, erros
que sou o primeiro a proclamar, levarão a novos equívocos pesquisadores do
futuro e marcarão negativamente o valor de minha já essencialmente modesta
contribuição historiográfica.
Deteve-se, pensativo, por alguns
instantes, para completar: “— A não ser... A não ser que você se comprometa
comigo a publicar uma edição definitiva da obra, sem tais erros. Mesmo que eu
venha a falecer, e acho que isto não está muito distante...”
Protestamos veementemente contra tal
vaticínio. Mas Wilson pensava mais em sua obra do que na vida que lhe restava:
“ — Pois bem, mesmo que venha eu a falecer logo e, portanto, não possa ver essa
nova edição desejada, deixarei todas as indicações para que você ajude minha
família a lançar um volume corrigido. Quer dizer, sem aqueles erros historiográficos
a que me refiro”.
“Fui Induzido a Erros” — Fizemos ver a
Wilson que estava exagerando em muito a extensão de tais erros — ainda mais
porque ele mesmo já publicara, na Revista do Instituto Histórico e Geográfico
Paraibano, muitos artigos que complementavam esse e outros livros seus. Nada o
demoveria, porém, do legítimo desejo de ter publicada a “edição crítica e
definitiva” de O velho Arraial.
Disse também Wilson que se vira induzido
a alguns de seus erros por se haver baseado em demasia “naqueles padres que
escreveram sobre História, padres que sempre foram teimosamente contrários ao
Marquês de Pombal e que puxavam a sardinha para a brasa da Religião”...
Prova maior disso, reclamava, é que um
desses padres escritores julgava ser a expressão “bom sucesso” (na designação
da antiga Povoação de Nossa Senhora do Bom Sucesso, futura Vila de Pombal)
alusão a um milagre de cunho religioso — quando ele, Wilson, tinha finalmente
em mãos os documentos, a prova irrespondível, a evidência paleográfica de que
se tratava apenas do “bom sucesso” das armas luso-brasileiras contra os índios
bravios da região do Piranhas-Piancó...
Uma Reedição Abortada — Tais sentimentos
antieclesiásticos amainaram um pouco no espírito de Wilson na medida em que
avançava nossa conversa — até porque lhe fiz ver que os
sacerdotes historiadores não podiam fugir ao estado-da-arte do conhecimento de seu tempo. A determinação de Wilson de deixar uma edição atualizada de seu livro aumentou quando soube haver sido lançada em Mossoró uma reedição ipsis litteris da obra, “ajudando a eternizar os erros”...
sacerdotes historiadores não podiam fugir ao estado-da-arte do conhecimento de seu tempo. A determinação de Wilson de deixar uma edição atualizada de seu livro aumentou quando soube haver sido lançada em Mossoró uma reedição ipsis litteris da obra, “ajudando a eternizar os erros”...
Os editores dessa nova cópia mossoroense
tiveram a melhor das intenções, ao reeditarem um dos mais importantes textos
sobre os Sertões nordestinos. Ainda assim, Wilson agradeceu comovido pela
homenagem, mas discretamente solicitou-lhes que não distribuíssem os
exemplares, sendo cumprida sua vontade.
Não reclamou publicamente, não armou
escândalo, embora se mantivesse firme na decisão. Continuava preocupado, no
entanto, e exagerava na queixa: “Não posso deixar este meu livro do jeito que
está, eivado de erros!”...
A “Saga” da Edição Definitiva — Mas,
enfim, firmamos com ele o “compromisso de sangue, amizade e honra” de editar o
volume corrigido d’O velho Arraial de Piranhas, cuja primeira edição, como se
viu, era de 1961.
Uma das primeiras coisas que neste sentido
ele devia fazer era mandar digitar o livro inteiro (do jeito que estava,
incluindo os erros alegados) no formato texto em qualquer outro processador
eletrônico.
Por outro lado, no volume original e
também em folhas ou laudas separadas, ele devia indicar os textos a serem
corrigidos, os cortes e/ou acréscimos a fazer — enfim, todas as modificações
necessárias para a montagem da “edição crítica e definitiva”.
Ainda chegamos a trabalhar nisto, com
ele, usando o computador de sua filha Lígia Maria, no então apartamento 505 da
família (quinto andar, Edifício Eduardo Henriques, Avenida BeiraRio/José
Américo de Almeida).
Duas razões nos fizeram mudar de método:
o crescente agravamento do estado de saúde de Wilson e nossa crônica falta de
tempo. Teve ele então a idéia de recorrer a dois outros amigos e admiradores de
sua obra, os pesquisadores Jerdivan Nóbrega de Araújo (também nosso comum
parente) e Verneck Abrantes de Sousa.
Verneck e Jerdivan nasceram em Pombal e,
mesmo residindo em Campina Grande, já eram então conhecidos estudiosos da
História da cidade, sobre a qual haviam publicado artigos e outros trabalhos de
peso.
Zélia, Raphael e Carneiro Arnaud — Uma
das principais tarefas de Jerdivan e de Verneck consistiu, primeiramente, no
escaneamento e na digitação de todo o livro original e, depois, na introdução
das correções desejadas pelo Autor.
Sabe-se, no entanto, que dificilmente um
texto de tal dimensão, uma vez submetido à (re)digitação, sai incólume de novos
erros de datilografia. Para além disto, mesmo os softwares mais avançados com a
tecnologia OCR (optical character recognition ou reconhecimento ótico de
caracteres), utilizados pelos scanners da modernidade, não são capazes de
reproduzir com 100% de acurácia os textos escaneados. De modo que a primeira
versão do trabalho teve que ser devida e exaustivamente revisada, até se obter
resultado confiável — um mínimo de “erros de revisão”, que livros sem eles não
os há ou são raríssimos na História da Imprensa, desde Gutenberg...
Todas essas etapas — inclusive as que se
seguiriam, já a nosso cargo, de revisão crítica do texto, correções adicionais,
conformação do texto à norma cultura moderna, formatação, editoração
eletrônica, notas etc etc etc — demandaram, como sempre demandam, grande
dispêndio de tempo e, sobretudo, de atenção, até que se conseguisse trabalho
razoavelmente apresentável, pois continua valendo a antiga tese de que, como no
caso dos edifícios, é mais fácil construir um livro novo que reformar um
antigo...
Mas, enfim, estava pronta a segunda edição
— o livro correto, escoimado dos erros. Para a tal resultado chegarmos, sempre
contamos com todo o apoio e estímulo da viúva de Wilson, Dona Zélia, e dos
irmãos dela (cunhados e igualmente admiradores de Wilson), como o médico
Antônio Carneiro Arnaud e o desembargador Raphael Carneiro Arnaud, da mesma
forma que Dona Zélia empenhados no resgate desta já antiga dívida para com o
espírito do notável historiador de Pombal.
Introduções a Wilson — Para que se
valorizasse ainda mais essa “edição definitiva”, houve por bem o editor e
coordenador Geral dos trabalhos não apenas reproduzir o Prefácio da obra
original, a cargo do historiador Celso Mariz, mas igualmente anteceder o texto
atualizado e corrigido de Wilson com alguns estudos críticos a cargo de outros
reconhecidos scholars paraibanos.
Assim é que o leitor tem a oportunidade
de ampliar seu conhecimento em torno do historiador Wilson Nóbrega Seixas e de
sua indispensável obra lendo artigos especiais de Luiz Hugo Guimarães, José
Octávio de Arruda Mello, Humberto Cavalcanti de Mello, Guilherme Gomes da
Silveira d’Avila Lins, Verneck Abrantes de Sousa e Jerdivan Nóbrega de Araújo.
Uma das mais longas e substanciais
contribuições, no volume em referência, foi aquela justamente escrita pelo
então presidente do IHGP, historiador Luiz Hugo Guimarães — mesmo porque foi
publicada sob a forma de plaquette, constituindo o volume 14 da excelente
Coleção Historiadores Paraibanos, do mesmo IHGP. Os demais artigos
introdutórios são também imperdíveis e indispensáveis à compreensão do livro de
Wilson — e da própria figura do historiador Wilson Nóbrega Seixas.
Tenha o leitor sempre em mente que,
apesar das atualizações recém-procedidas no texto, Wilson Seixas escreveu esta
obra em inícios da década de 1960. Assim, muitas coisas que eram “atuais” em
Pombal à época em que o livro se viu lançado cederam lugar a novas realidades.
De todo modo, esta segunda edição
constitui livro sob muitos aspectos totalmente novo, inclusive com o acréscimo
de capítulos inteiros, sendo portanto em grande parte muito diferente, em
estrutura e conteúdo, da edição original.
Ao cumprirmos a solene promessa feita a
Wilson, já podíamos dizer: “Resquiescat, Vilsone Anofrica Saxum, in pace!”...
[“Repouse em paz, Wilson Nóbrega Seixas].
Uma História por Escrever — Como Rosa
Godoy e muita gente boa da Historiografia, Wilson também pensava que a real,
autêntica, verdadeira História da Paraíba está quase toda por escrever. Para
ele, “enquanto não contarmos com todo o acervo documental referente à Paraíba e
que se encontra ainda espalhado por vários pontos do Brasil e do Exterior, não
será possível qualquer tentativa para se escrever a História da Paraíba, de
forma a sintetizar sua realidade profunda, objetiva e institucional”.
E prosseguia, com carradas de razão:
— Muitos fatos importantes de nossa
História estão ainda nos arquivos, onde jaz muita luz escondida, aguardando a
mão libertadora.
Se antes era tarefa difícil a realização
de qualquer pesquisa, tanto em nosso país, como no Estrangeiro, hoje, entretanto,
isso já não é mais verdade, principalmente se levarmos em conta o progresso
técnico, científico e cultural de nossos dias.
Não procede o argumento do ilustre
historiador Horácio de Almeida, ao afirmar que não era preciso ir a Portugal
para obter informações acerca da História da Paraíba.
Trabalho Paleográfico — Especializado em
História dos Sertões paraibanos, Wilson também se especializou na leitura de
documentos antigos, especialmente os dos séculos XVI, XVII e XVIII, num
trabalho de decifração paleográfica autodidaticamente assimilado. Sempre
baseava suas conclusões em documentos primários. Era expert em Historia do
Sertão, tornandose um dos maiores pesquisadores nessa área.
Seus estudos aprofundados baseados em
prova primária insuspeitável, corrigiram vários enganos cometidos por
sucessivos historiadores que se dedicaram à conquista e formação do interior
paraibano.
Wilson foi, em suas próprias palavras,
“um dos primeiros a divulgar o acervo documental existente no arquivo da antiga
FAFI/UFPB”, onde esteve pesquisando por anos. Ali encontrou “uma infinidade de
documentos e cópias xerográficas”, cedidos pelo ilustre professor pernambucano
José Antônio Gonsalves de Melo.
Tratou de “ler toda aquela documentação
extraída do Arquivo Histórico Ultramarino, em Lisboa, cuja divulgação permitiu
conhecimento de determinados fatos e coisas do nosso passado, além de oferecer
perspectivas para novas interpretações da História paraibana”.
Tinha elementos, portanto, para refutar
algumas hipóteses e teorias de colegas historiadores, dentre os quais Horácio
de Almeida, sem por eles perder a admiração e o respeito.
É o que se sabe desde sempre: a História
está o tempo todo sendo reescrita, reformulada. Nos cartórios do Interior, que
pesquisava, especialmente em Pombal, salvou muitos documentos importantes de
serem simplesmente incinerados ou “jogados no mato” pela ignorância e
insensibilidade de uns.
Encantando a Plateia — Quando das
comemorações pelos 500 anos do descobrimento do Brasil, o IHGP promoveu
importante Ciclo de Debates sobre a História da Paraíba. Um dos palestrantes
convidados foi Wilson Seixas, para apresentar painel num seminário sobre a
conquista do Interior paraibano.
Tal conferência está disponível,
juntamente com os debates, no site do IHGP. Sobre ela, manifestou-se o
historiador Guilherme Gomes da Silveira d’Avila Lins, confessando-se
“embevecido” com o que acabara de testemunhar: “O que ouvi aqui hoje foi uma
belíssima, rara e completa história da conquista do sertão, partindo de quem
tem plena autoridade para fazê-lo, porque fundamentou o que disse em fontes
primárias. Wilson Nóbrega Seixas é uma pessoa por quem tenho o mais profundo respeito e amizade, e quero dizer de público que foi em Wilson Nóbrega Seixas que eu me inspirei para tentar fazer um estudo autodidata de Paleografia, já que ele é um dos grandes paleografistas deste Estado. Essa é a grande vantagem metodológica que ele tem, pois escreve a partir das fontes que ele lê. Vi aqui uma belíssima lição do linguajar do século XVI, nas transcrições documentais que ele fez, falando da ffé, com dois F, de Piancó, com NH e de trechos de frases inusitadas. Uma lição de linguagem do final do século XVII e do início do século XVIII”.
primárias. Wilson Nóbrega Seixas é uma pessoa por quem tenho o mais profundo respeito e amizade, e quero dizer de público que foi em Wilson Nóbrega Seixas que eu me inspirei para tentar fazer um estudo autodidata de Paleografia, já que ele é um dos grandes paleografistas deste Estado. Essa é a grande vantagem metodológica que ele tem, pois escreve a partir das fontes que ele lê. Vi aqui uma belíssima lição do linguajar do século XVI, nas transcrições documentais que ele fez, falando da ffé, com dois F, de Piancó, com NH e de trechos de frases inusitadas. Uma lição de linguagem do final do século XVII e do início do século XVIII”.
E acrescentou o Dr. Guilherme: — Foi
realmente maravilhoso; fiquei transportado para essa época ao ouvir aquelas
transcrições seguras, em que Wilson fala do sistema sesmarial e remete
implicitamente à necessidade do conhecimento da história administrativa deste
país, tão pouco ressaltado e tão necessário para se fazer história. Wilson
Seixas passeia com uma intimidade em cima da História que causa à gente uma
sensação de estar vendo um belíssimo filme com imagens muito nítidas. Fala de
Garcia d’Avila, aquele antigo feitor da Alfândega do Governador Tomé de Souza,
que veio a construir um império e, através dos séculos, estendeu terras desde
Tatuapara, a 14 léguas de Salvador, até o Maranhão, e que tem uma enorme
importância nessa conquista do nosso sertão. Fala no clã dos Oliveira Ledo.
Enfim, não deixa escapar nem Martim de
Nantes com sua Rélation succinte, que, se não fora uma tradução feita pela
Brasiliana em pequeno formato, restaria apenas a raríssima edição primeira, da
qual poucas pessoas viram o texto. Contesta Capistrano, Horácio de Almeida,
Coriolano de Medeiros, o Barão de Studart; não escapa nem frei Vicente do
Salvador, com caranguejos que roçavam a beira da praia.
Julgado de Piancó &... Piancó — De
fato, corrigindo alguns senões de Horácio e Elpídio de Almeida, Capistrano de
Abreu e Coriolano de Medeiros, entre outros; indo além das noções que antes
tínhamos do povoamento e dos caminhos antigos; e voltando-se para sua própria
obra, a fim de também fazer autocorreções, Wilson nos deu melhor visão de como
ocorreu a consolidação da conquista interiorana, na Paraíba e Estados vizinhos.
Lançou novas luzes sobre a família dos
Oliveira Ledo, avançou no conhecimento das sesmarias e fazendas de gado, o papel
dos paulistas e da Casa da Torre no desbravamento dos sertões, a continuidade
da civilização do couro e o way of life dos antigos vaqueiros, a formação dos
arraiais, das povoações, das cidades...
O historiador Humberto Cavalcanti de
Mello também considerou “brilhante” essa palestra de Wilson, mesmo para quem já
conhecia de perto suas qualidades de pesquisador.
Ele esclareceu os espíritos, mais uma
vez, e de maneira definitiva, sobre a real extensão jurisdicional do Julgado de
Piancó, cuja sede era na atual Pombal (PB), mas que se estendia por vasto
território, abrangendo inclusive Patos, Sousa, Piancó e até larga área do Rio
Grande do Norte, até o Apodi — não se devendo supor, assim, que tal jurisdição
se restringisse ao Vale do Piancó. De modo que o historiador Rocha Pita estava
correto ao afirmar que os desbravadores paulistas, como Domingos Jorge Velho,
estiveram “em Piancó”.
Para Ler Wilson — Uma boa maneira de
iniciar-se no estudo da obra de Wilson Seixas é ler, primeiramente a plaquette
sobre ele produzida pelo falecido presidente do IHGP, Luiz Hugo Guimarães, na
Coleção “Historiadores Paraibanos”.
Depois, é preciso fazer uma leitura em
regra de O velho Arraial de Piranhas, onde há indicações para o prosseguimento
do estudo, tendo em mente que, a bem dizer, a Historiografia colonial do
Interior paraibano repousava nas contribuições de Celso Mariz, Horácio de
Almeida e Wilson Seixas. Nas últimas décadas, recebeu também o influxo do
trabalho impecável do historiador e médico Guilherme Gomes da Silveira d’Avila
Lins.
Há também que compulsar seu capítulo “A
Casa da Torre e o bandeirantismo na conquista do sertão”, entre as páginas
58-67 do livro Paraíba: Conquista, patrimônio e povo, organizado por José
Octávio de Arruda Mello e Gonzaga Rodrigues [Edições Grafset, João Pessoa,
1993].
Diferente da contribuição de Celso
Mariz, mas com igual importância, ficou-nos o legado de Wilson, falecido depois
de quase 40 anos de bons serviços prestados ao IHGP, onde foi substituído na
Cadeira 15 pelo historiador Luiz de Barros Guimarães. *Evandro da Nóbrega, escritor, jornalista, historiador, editor e membro
do IHGP (Instituto Histórico e Geográfico Paraibano) - [druzzevandro@gmail.com]
[A
foto de busto de Wilson Nóbrega Seixas, nesta postagem foi obtida no perfil do
jornalista, escritor e emérito pesquisador sertanejo Clemildo Brunet de Sá].
UM APÊNDICE INDISPENSÁVEL SOBRE O HISTORIADOR POMBALENSE WILSON NÓBREGA SEIXAS -
Reviewed by Clemildo Brunet
on
7/22/2017 06:24:00 AM
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