Caos se instaura: crise política aprofunda com ameaça de intervenção militar
João Costa |
João Costa*
A
instabilidade política no País se arrasta desde 2013 – é fato. Inicialmente, com
um movimento “aparentemente” ingênuo pelo passe livre nas catracas do
transporte público, que arrastou milhões. O ano de 2014 foi na base de Dilma
não pode ganhar; se vencer não toma posse, se assumir não governa. Vingou a
última chamada; Dilma não governou, veio o golpe e os políticos corruptos de
fato assumiram o Planalto; outro pedido de investigação criminal contra Temer
chega à Câmara, na semana em que militares mandam recado de intervenção.
Recado
é para a Câmara. Os deputados seguem blindando Temer, denunciado como chefe de
organização criminosa?
O
Brasil tem hoje um ocupante da presidência da República ilegítimo, denunciado
por três crimes – corrupção, obstrução judicial e comando de organização
criminosa – e rejeitado por praticamente todos os brasileiros, mas segue
inabalável com apoio do Congresso Nacional o mais escrachado abraço de
afogados; ou como sentenciava Friedrich Nietzsche: “quando você olha muito
tempo para um abismo, o abismo olha para você”. Traduzindo em miúdos: o
Congresso olha para o abismo há décadas – desde a Constituinte de 1988.
Esse
caldo de cultura de instabilidade com a população em profundo estado de
letargia (ainda está) agora engrossa com ameaças reais de aprofundamento do
golpe de 2016, diante das declarações do general da ativa Hamilton Mourão
sinalizando com intervenção militar. É a primeira vez, desde 1985, que um
general da ativa ameaça à democracia. As declarações do general Mourão logo foram
ratificadas pelo chefe do Exército, general Villas Bôas. À crise política se
soma agora uma crise militar.
O
general Hamilton Mourão defendeu uma intervenção militar para banir políticos e
autoridades corruptas da vida nacional, sem mencionar nomes de todos já
conhecidos. A Crise assume contorno/coturno militares porque a hierarquia
institucional foi e segue quebrada.
O
fato é que a República sempre foi tutelada pelos militares – o próprio
surgimento dela decorreu de um uma quartelada. Desde 1985 que este mandato de
tutela que se acreditava na democracia por conta de eleições sucessivas e, que
agora, se sabe a Casa Grande não respeita resultados adversos e a ameaça de um
novo Regime Militar tornou-se real.
As
vivandeiras de quartel se multiplicam e turbinam a possibilidade real do velho
fantasma do Regime Militar tornar-se real. Não apenas néscios fascistas pedem
intervenção militar. Também, por outros motivos, “aparentemente justos” setores
nacionalistas endossam pedidos de intervenção, porque perceberam que o governo
que se instalou em 2016 é de lesa-pátria, trabalha abertamente para a destruição
da soberania nacional, inclusive com apoio de militares entreguistas.
O
respeitado intelectual e professor da Universidade de Brasília, Moniz Bandeira,
nacionalista de esquerda e de muita influência, defende uma intervenção militar para derrubar o governo
representado por Michel Temer e o que se chamou de “quadrilhão”.
- "O importante é impedir que o patrimônio nacional -
Eletrobrás, Eletronuclear, Petrobrás e pré-sal, bancos estatais - seja
dilapidado, entregue aos gringos: é evitar que o desenvolvimento do Brasil, com
a inclusão, não seja interrompido; é impedir a entrega aos gringos de uma parte
da Amazônia maior que a Dinamarca", diz ele, enfatizando que não deseja um
regime de exceção, mas pede a derrubada do governo Temer e a devolução do poder
aos civis através do voto popular. Ingenuidade, só pode ser.
Mas voltemos ao comandante do Exército, general Eduardo
Villas Bôas, o que disse ele?
Que a possibilidade de intervenção "ocorre
permanentemente" e que e "as Forças Armadas têm mandato para fazer
[uma intervenção militar] na iminência de um caos". No mesmo do mote defendido
por Mourão, que disse que o Exército tem "planejamentos muito bem
feitos" sobre o assunto. Sabemos agora que planejada, a intervenção
militar já está.
Durante uma entrevista, Villas Bôas acrescentou: "se
você recorrer ao que está na Constituição, no artigo 142, como atribuição das
Forças Armadas, diz que as Forças podem ser empregadas na garantia da lei e da
ordem por iniciativa de um dos poderes" e adiantou "o texto diz que o
Exército se destina à defesa da pátria e das instituições. Essa defesa poderá
ocorrer por iniciativa de um dos poderes, ou na iminência de um caos. As Forças
Armadas têm mandato para fazer", completou.
Como assim, por iniciativa de um dos poderes, se o governo
é denunciado por corrupção; o Legislativo idem e o Judiciário também está
contaminado e aparenta ser mais que os demais?
O caos já se instaurou!
*João Costa é
radialista, jornalista e diretor de teatro, além de estudioso de assuntos
ligados à Geopolítica. Atualmente, é repórter de Política do Paraíba.com.br
Caos se instaura: crise política aprofunda com ameaça de intervenção militar
Reviewed by Clemildo Brunet
on
9/22/2017 06:23:00 AM
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