TRIBUTO A GARRINHA, O ANJO DAS PERNAS TORTAS
Francisco Vieira |
Francisco
Vieira*
Após
quase uma quarentena de anos de seu falecimento, Garrincha, literalmente ainda
vive.
Suas jogadas irreverentes e dribles
desconcertantes permanecem na memória dos brasileiros, principalmente do
torcedor do Botafogo, clube onde se projetou e jogou maior parte de sua vida. O
botafoguense ainda ostenta com orgulho o seu nome, como o melhor entre seus
grandes jogadores e o maior gênio do futebol mundial ao lado de Pelé.
Simples, ingênuo e inexperiente, Manoel
Francisco dos Santos ou simplesmente Garrincha, chegou ao Rio vindo da cidade
de Pau Grande – RJ, onde nasceu, em 28/10/33. Levado por Araty, jogador do
clube, chegou despertando atenção pelo defeito anatômico nos membros
inferiores. Contudo, aos vinte anos, depois de rejeitado pelo Vasco, Fluminense
e São Cristovão, submeteu-se ao teste no Botafogo, ignorando seu marcador, nada
menos do que Nilton Santos, a Enciclopédia do futebol. Sua participação foi o
suficiente para convencer o clube de sua contratação, tomando conta da camisa
sete e fazendo dela uma referência.
Devido suas pernas tortas, Garrincha foi
alvo de críticas e gracejos. Não foi poupado sequer pelo técnico Gentil Cardoso
que ironicamente argumentou: “no Botafogo, aparece de tudo, até aleijado”,
comentário que deve ter-lhe custado arrependimento crucial. Jamais imaginaria
que aquele moleque, torto e desengonçado, encantaria o mundo e seria aclamado
de pé por todas as torcidas. Que formaria com Didi, Amarildo, Quarentinha,
Zagalo, Nilton Santos – seu compadre e maior amigo – o melhor time da história
do Botafogo e Seleção Brasileira, responsável por importantes conquistas e
grandes alegrias a sua fiel e apaixonada torcida.
Garrincha, foi um jogador nato e
excepcional na arte de driblar. Habilidoso e genial. Indomável com a bola nos
pés envolvia seus marcadores facilmente tornando-os tolos em campo, perdidos,
por isso chamados de “João Bobo”. Suas qualidades futebolísticas foram
desenvolvidas nos campos de terra batida da periferia e peladas de rua.
Sua trajetória começou de forma
brilhante no jogo Botafogo 6 x 3 Bonsucesso e marcando gol. No clube de Gen.
Severiano, onde atuou por doze anos, jogou 614 partidas marcando 245 gols,
sendo o último na vitória de 1 x 0 contra o Flamengo. No período, participando
de um time quase imbatível, Garrincha proporcionou muitas alegrias a torcida
botafoguense conquistando em níveis estadual e regional títulos como Torneios
Início e Rio- São Paulo, Taça dos Campeões e Campeonato Carioca. No âmbito
internacional conquistou torneios no México, Costa Rica, La Paz, etc.
Na Seleção brasileira também teve
atuação vitoriosa. Num time formado basicamente por jogadores do Botafogo e
Santos, como: Zito, Didi, Vavá, Zagalo, Gilmar, Nilton Santos, Djalma Santos e
Pelé, o Brasil ganhou principalmente as Copas do Mundo de 58 e 62, tendo
Garrincha jogado 60 partidas e marcado 17 gols, perdendo apenas uma vez com ele
em campo. Vestindo a camisa da seleção ao lado de Pelé, o escrete brasileiro
nunca foi derrotado.
Individualmente, Mané Garrincha foi
agraciado no Botafogo, como o melhor jogador da Copa Interestadual de Clubes em
1962 e melhor do Campeonato Carioca nos anos de 1957, 61 e 62. Já pela seleção
recebeu vários prêmios como: Bola de Ouro da Copa do Mundo da FIFA – 1962 e Seleção
de Futebol do Século XX, Integrante da Equipe das Estrelas da Copa do Mundo da
FIFA: 1958 e 62. Enfim, em 1998, numa eleição com jornalistas de todo o mundo,
Garrincha foi incluído na seleção de todos os tempos da FIFA.
Ainda recebeu importantes homenagens
como o documentário Garrincha, Alegria do Povo. No campo literário foi
agraciado no poema “O Anjo das Pernas Tortas” de Vinicius de Morais e na obra
Estrela Solitária: Um brasileiro chamado Garrincha, onde o autor e jornalista
Ruy Castro que relata a verdade sobre o jogador, desde a ascensão até a
decadência.
Se não fora o alcoolismo, seu implacável
marcador, o jogador, o gênio, estaria hoje completando 85 anos. Ele, que
questionou a medicina com uma distrofia física e duvidou de seus adversários,
faleceu em 20/01/1983, vítima de alcoolismo. Seus dribles foram incapazes de
vencer seu maior inimigo - o álcool.
Com sua morte aos cinquenta anos, deixou
órfã uma família de quinze irmãos, Nair, primeira esposa, com nove filhas, além
de Elza, seu grande amor e alguns filhos de outros relacionamentos. Enlutou
toda torcida brasileira independente de clubismo. Afinal, Garrincha é de todos,
é patrimônio do Brasil, como fora homenageado no carnaval de 1980, pela
Mangueira com o enredo Coisas Nossas.
Lamentavelmente o jogador não recebeu da
CBF, nem mesmo do Botafogo as devidas honrarias, salvo as manifestações
populares, apoio da imprensa e jogadores como Nilton Santos, seu grande amigo.
Desagradável relatar o fim melancólico
do lendário craque. Bom mesmo é relembrar seus tempos áureos e tê-lo disponível
na memória, garantia de que Garrincha, A Alegria do Povo, O Gênio de Pernas
Tortas, ainda vive e viverá.
Pombal,
20 de janeiro de 2018.
*Professor e
Escritor pombalense
TRIBUTO A GARRINHA, O ANJO DAS PERNAS TORTAS
Reviewed by Clemildo Brunet
on
1/20/2018 06:55:00 AM
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