ÉTICA PÚBLICA
Severino Coelho Viana |
Por
Severino Coelho Viana*
A palavra ética é derivada do grego e
significa aquilo que pertence ao caráter constante dos valores históricos e
culturais de um povo e de uma época. Tem uma diversidade de sentidos na área da
filosofia que estuda os valores morais e os princípios ideais da conduta
humana. No campo profissional é o dever moral de uma carreira profissional
pontuada na virtude da honestidade.
Atualmente a frase “falta de ética” é
como se fosse uma dosagem de um medicamento posta nos nossos ouvidos que
acontece na esquina de qualquer avenida quando se tem início um simples diálogo
e o assunto for política. É verdade, hoje, se fala tanto em ética que nós
acabamos sem saber o seu significado e sem levar em consideração o seu real
conteúdo e às vezes nos parece até conflitantes.
Devemos lembrar que a ética e a moral
são temas relacionados, mas diferentes, porque moral se fundamenta na
obediência a normas, costumes ou mandamentos culturais, hierárquicos ou
religiosos, enquanto que a ética busca fundamentar o modo de viver pelo pensamento
humano. Isto implica dizer que o errado para uma pessoa poderá ser certo para
outra e vice-versa. Abrangendo diversas áreas, por exemplo, antropologia,
direito, ciência-médica, psicologia, sociologia, economia, pedagogia, política,
etc.
A ética pública se confunde com a
conduta profissional quando sabemos o desvio de conduta praticado por médico,
advogado, jornalista, professor, político, empresário, dentre outros tanto de
mau caráter.
Uma boa parcela de servidor público, por
falta de amor ao trabalho e sem respeito à cidadania, vemos diariamente no
âmbito administrativo, funcionários mal capacitados e sem princípios éticos que
convivem todos os dias com mandos e desmandos, atos desonestos, corrupção e
falta de ética tendem a assimilar por este mal cultural do mau atendimento,
aproveitando-se dos benefícios em causa própria. De outro ângulo, a ética no
serviço público exige valores morais como a boa fé, civilidade, urbanidade,
assiduidade, transparência e outros valores necessários para uma vida saudável
no seio da sociedade.
O mandato eletivo é uma outorga
conferida pelo grupo eleitoral que o representante está obrigado a corresponder
às expectativas da sociedade, mas, hoje, infelizmente, o que prevalece é a
vontade pessoal daquele que se diz representante do povo. Quando uma pessoa é
eleita para um cargo público, a sociedade deposita nela confiança e espera que
ela cumpra um padrão ético mínimo. Assim, essa pessoa deve estar ao nível dessa
confiança e exercer a sua função seguindo determinados valores, princípios,
ideais, a Constituição e as leis, regras estas que todos nós somos submissos e
devemos respeitá-las. De igual forma, o agente político deve assumir o
compromisso de promover a igualdade social, de lutar para a criação de
empregos, de desenvolver a cidadania e de robustecer a democracia. Para isso
ele deve estar preparado para pôr em prática políticas que beneficiem o país e
a comunidade no âmbito social, econômico e político. O dinheiro é o deus vivo
da nossa triste realidade. Há pessoas que não podem ver uma cédula de cem
reais, logo começa suar frio, o coração palpita e as mãos ficam trêmulas! Será
que todos os políticos sofrem de cleptomania? Ou é o mal da safadeza?
Quando do exercício da função pública a
primeira orientação recebida é no sentido de proibição de receber propina,
comissão extra, presentes ou vantagens de qualquer espécie, em razão das
atribuições. Se agir dessa maneira fica caracterizada a conduta de improbidade
administrativa, além da responsabilidade criminal, civil e administrativa,
valendo esta norma funcional no escalonamento do menor servidor ao mais
graduado na linha hierárquica da administração pública. Ressaltando-se que a
norma disciplinadora permite somente brindes que não tenham valor comercial,
tais como: caneta, agenda, boné, chaveiro, etc.
A imprensa e as mídias sociais divulgam
de segundo a segundo o crime de apropriação indébita de bens públicos ou
lavagem de dinheiro, quer sejam imóveis ou móveis, com tanta banalidade que a
cada instante temos conhecimento de mais um novato enquadrado no grau de alta
periculosidade pelo uso de desvio do dinheiro público. Estas condutas
criminosas, de acordo com a lei brasileira, disciplina a matéria de forma
cristalina, por exemplo, RECEBER, para si ou para outrem, dinheiro, bem móvel
ou imóvel, ou qualquer outra vantagem econômica, direta ou indireta, a título
de comissão, percentagem, gratificação ou presente de quem tenha interesse,
direto ou indireto, que possa ser atingido ou amparado por ação ou omissão
decorrente das atribuições do agente público; PERCEBER vantagem econômica,
direta ou indireta, para facilitar a aquisição, permuta ou locação de bem móvel
ou imóvel, ou pelo superfaturamento, ou seja, por preço superior ao valor de
mercado; PERCEBER vantagem econômica, direta ou indireta, para facilitar a
alienação, permuta ou locação de bem público ou o fornecimento de serviço por
ente estatal por preço inferior ao valor de mercado;
O pior de tudo isso é ver as caras
deslavadas criando artifícios mentirosos para enganar o povo, a justiça e a
sociedade. O descaramento chega ao ponto do ridículo. Não carregam consigo o
mínimo de espírito público. Contratam advogados por uma cifra incalculável
pelos honorários com a finalidade de criar artifícios mentirosos e safarem do
crime. Saqueiam o dinheiro da nação e ficam festejando o assalto na beira da
piscina tomando uma taça de champanhe.
O nepotismo é a mácula corruptível no
serviço público onde os atos se procedem através do jeitinho brasileiro e o
esconderijo é grande causa da malversação do dinheiro público onde o grande
vilipendiado é o povo. Somente no meio familiar existem pessoas capacitadas e
altamente competentes? Ou outros competentes só servem para votar? Não! Os de
casa são mais fáceis de fazer o arrumadinho e calar a boca! As estatísticas
mostram quanto é grande o número de ações de improbidade administrativa contra
agentes políticos.
A síntese deste nosso artigo seria ter
zelo para com a coisa pública e respeito à dignidade da pessoa humana.
A ética pública é um meio para um fim,
e, fazendo uso da filosofia kantiana, devemos dizer que tal fim é o
desenvolvimento integral de cada pessoa e sua dignidade.
João
Pessoa PB, 26 de fevereiro de 2018.
*Escritor
pombalense e Promotor de Justiça em João Pessoa-PB
scoelho@globo.com
ÉTICA PÚBLICA
Reviewed by Clemildo Brunet
on
2/26/2018 08:26:00 AM
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