AMIZADE, HOJE UM SENTIMENTO RARO
Francisco Vieira |
Francisco
Vieira*
Partindo do princípio de ser a amizade
um sentimento sagrado, confirmado nas palavras de Cristo:” nenhum amor pode ser
maior do que sacrificar a vida por seus irmãos”, daí a certeza, quando tudo
parece sem solução, eis que Deus nos envia um anjo em forma de amigo para nos
socorrer.
Convivemos com pessoas que divergem na
cor, raça, beleza, caráter, etc, estabelecendo uma ligação de interdependência.
Muita gente passa por nossas vidas
deixando lembranças, ora boas, às vezes ruins. Algumas marcam presença com
apoio, ouvindo nossas histórias, medos, angústias e lamentações ou
confidenciando seus problemas numa demonstração de amizade. Aí está a figura do
amigo, aquele que ouve com o coração, confia sem receio e ama acima de
tudo.
A amizade, é um sentimento de apreço,
ternura e sobretudo amor que aproxima os semelhantes numa relação de lealdade e
respeito. No sentido amplo da palavra, podemos incluir no contexto a
convivência familiar, a partir da relação marido e mulher, pais e filhos,
irmãos, colegas de trabalho, de estudo, enfim, pessoas do nosso cotidiano.
Quer no seio da família, no trabalho, na
escola, num gesto de solidariedade, num abraço, até mesmo num simples aperto de
mão as amizades chegam de mansinho, imprimindo confiança mútua e transparente.
Muitos passam indiferentes enquanto alguns permanecem na memória, por isso são
tidos como amigos. Outros, são conhecidos e apenas convivem sem criar qualquer
vínculo.
Num paralelo entre o lema dos Três
Mosqueteiros, “um por todos e todos por um,” comparado as amizades de hoje, me
vem a lamentável conclusão: já não se faz bons amigos como antigamente.
A propósito, já sorri por várias razões
e por outras tantas derramei lágrimas. Contudo, aprendi que nem toda amizade é
verdadeira e que as relações são susceptíveis a momentos de crise. Descobri que
existem bons e maus amigos, sinceros e dissimulados e que a felicidade somente
aflora quando fundamentada no amor.
Decepcionado, constatei que algumas
relações são falsas. É que o homem prioriza os interesses em detrimento dos
valores morais, religiosos e legais. A verdadeira amizade consiste num
sentimento desinteressado onde o bem-estar do outro prevalece sobre qualquer
pretexto. Portanto, nada mais confortável do que a certeza de poder confiar em
alguém. Se pelo fogo provamos o ouro e a prata, na angústia e na aflição
conhecemos os verdadeiros amigos.
Amigo é aquele que oferece o ombro nas
dificuldades, que repreende com carinho falando o que precisamos ouvir e não o
que queremos escutar. Que soma conosco os prazeres, divide as tristezas, guarda
os segredos e respeita o espaço do outro. Ainda sorri e chora nossas alegrias e
dores, a tudo suporta, perdoa e protege, porque sente o amor de amigo,
portanto, um Anjo de Deus.
O amigo aceita o outro como ele é,
protegendo de seus defeitos sem exacerbação. São mais que colegas, pois há
entre ambos forte ligação, portanto, irmãos de pais diferentes. São raros e
preciosos, tal qual peças de museu.
Teoricamente existem relacionamentos
entre colegas, companheiros, conhecidos, etc, que não podemos considerar
amizades. Na prática não contamos com eles, portanto, nem todos são amigos.
Vez por outra, manifesto minha veneração
aos amigos da meninice. Sem demérito, nenhum relacionamento sensibiliza tanto
quanto as amizades de infância. Certamente são as melhores, pois crescem e se
fortalecem no tempo durando a vida inteira.
Quão prazeroso é na velhice, ao recordar
o passado, orgulhar-se de velhos amigos. Gosto, deveras, não apenas por serem
sessentões, mas, como um deles, por entender que cada ancião é um celeiro de
sabedoria, remanescente de uma sincera amizade, construída ao longo da
vida.
Resgatando o passado exalto os amigos de
outrora, com os quais construímos uma história. Juntos vivemos aventuras,
acalentamos sonhos impossíveis, sorrimos, choramos e até brigamos, mas,
superamos as crises. É que as diferenças e as distâncias não separam grandes
amizades, apenas selecionam os bons e maus amigos. A propósito, adverte-nos a
Palavra de Deus: “amigo ama em todos os momentos; é um irmão na adversidade.”
Prov. 17; 17. Entretanto, me constrange a ousadia com que se joga com as
amizades, transformando-as em contendas.
No momento em que a Campanha da
Fraternidade se lança no combate a violência, tempo nenhum é mais oportuno para
valorizar as amizades do que o período quaresmal.
Se somos amigos, como tal devemos viver.
Portanto, plante, cultive e mantenha as amizades. Faça novas amizades, mas,
lembre-se, para ter amigos é preciso antes ser um.
Pombal, 03 de março de 2018.
*Professor e
Escritor pombalense
AMIZADE, HOJE UM SENTIMENTO RARO
Reviewed by Clemildo Brunet
on
3/05/2018 06:01:00 AM
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