POMBAL NO TEMPO DO SÃO CRISTOVÃO E DO MARACATU
Ignácio Tavares |
Da segunda metade dos anos cinquenta até o começo dos anos sessenta, o São Cristóvão, o mais querido time de futebol de todos os tempos, fazia parte da elite futebolística do sertão paraibano. Era um timaço. Chegou a vencer os melhores times dos vizinhos municípios de Patos, Sousa e Cajazeiras e de quebra ainda desafiava o pesado Esporte Clube de Caicó, formado por jovens, fortes, corredores, que serviam ao Exército Brasileiro, naquele município.
Craques da qualidade de Agnelo, Zé de
Dozinho, Edílson(goleiro) Valdemar Pereira, Eron Leite, Carin, Zaqueu,
Agamenon, Arioaldo, João de Aristides, Zé Queiroga, Natal Queiroga, Ruy
Alcântara, Mixuruca, Dilau, sem dúvida, foram os responsáveis pela época de
ouro do nosso futebol. Este plantel proporcionou, por muito tempo, excelentes
espetáculos, nas tardes dos domingos, no Estádio Vicente de Paula Leite, para o
deleite de todos torcedores que apreciavam o bom futebol.
A partir da segunda metade dos anos
sessenta, despontou outra geração de craques, como Chico Sales, Zé de Duca,
Alfredo, Carlos César, Xixico, Luiz Camilo, Magro Zequinha, Carrinho, Curinha,
João Rapadura entre outros. Essa nova geração contribuiu para outra formação -
do São Cristóvão - mesclada com alguns remanescentes da geração passada, sem
desvirtuar a caminhada vitoriosa do velho clube. Os treinos iniciavam nas
terças feiras. De um lado os titulares do São Cristóvão e de outro o Maracatu.
A defesa do São Cristóvão sempre treinava ao lado do Maracatu, vice versa.
O que havia de mais atrativo nos
treinos, era as gozações quando o Maracatu vencia o São Cristóvão, o que
acontecia algumas vezes. Figuras de destaques do Maracatu como Valderi, Zé
Gago, Tuzinho, Tonho, Nêgo Sabino, faziam a alegria da pequena torcida que
habitualmente assistia aos treinos. Sabino levava muita sorte para marcar gol e
toda vez que isso acontecia, aproximava-se de Natal e gritava: ilumina-me
senhor ! Gostou Natanael ? Era só alegria e muita disputa em busca de mais um
gol. O Maracatu funcionava como uma escolinha que formava os futuros craques
que iriam reforçar o elenco do São Cristóvão. Dessa forma, bons jogadores foram
revelados, tais como: Nenzinho, Werneck, Bosco Alencar, Klebe, Esdras, Ridney,
entre outros.
Aconteceu que um dia o Maracatu passou a
receber a denominação de Pombal Sport Clube, dirigido por Antônio Gomes,
acirrando assim a disputa entre os dois clubes, na busca de conquistar adeptos
junto ao público assistente. Algumas vezes o Sport venceu o São Cristóvão, mas
teve vida curta, porque o velho time, além de possuir o melhor elenco, estava
cravado, verdadeiramente, no coração dos torcedores da terrinha.
Na rotina dos treinos do São Cristóvão,
era comum ouvirem-se discussões sobre a atuação do juiz, que quase sempre
prejudicava o Maracatu. Havia também alguns lances hilários. Certa vez, logo
após o treino, Agnelo chamou Valtécio Alencar, que caminhava um pouco mais à
frente e ao se aproximar caiu de propósito. Valtécio não entendeu o lance.
Perguntou: o que é que está acontecendo Agnelo? Agnelo falou: você esqueceu de
me derrubar. Isto porque em todos os treinos, Valtécio derrubava Agnelo e neste
dia passou em branco.
Zé Gago, desportista doente, teve a ideia
de organizar o Maracatu B, para fazer exibições na zona rural. Certa feita
ajustou a ser realizado em Várzea Comprida e levou um chocolate de 3 x 0. Zé
Gago ficou bastante chateado, pois pela primeira vez havia sido derrotado nas
exibições rurais. Perguntamos: ora Zé, qual o porquê dessa chateação? Respondeu
o Gago: vocês sabem quem fez os três gols? Pensou um pouco e respondeu: foi um
velho de 72 anos.
O danado do velho ficava plantado dentro
da área e toda vez que bola que vinha em sua direção, dava de bico que exigia,
de Nêgo Adelson, defesas espetaculares. Aconteceu que o velho acertou três
chutes indefensáveis, sacramentando assim a primeira derrota do Maracatu na
zona Rural.
Essas são as boas lembranças que guardo
na memória e que poderão incentivar a narração de novos fatos engraçados
ocorridos no nosso cenário esportivo em tempos passados. Ademais, podemos ainda
enriquecer o nosso folclore futebolístico ao não deixar que essas ocorrências bem
humoradas caíam no esquecimento. Faço deste texto um tributo ao nosso maior
goleador de todos os tempos, um dos fundadores do São Cristóvão, Agnelo Pereira
de Mendonça. Como craque, possuía técnica bastante apurada e domínio de bola,
que lhe davam condições de jogar em qualquer clube do sul do país. Com, todos
esses atributos preferiu ficar em Pombal defendendo as cores do São Cristóvão.
Fala-se muito que Maradona sempre foi
habilidoso na condução da bola com a mão, na hora de enfiá-la no fundo da rede.
Ora, antes de Maradona existir, Agnelo já fazia seus golzinhos usando a mão
boba. Disfarçadamente, como bom cabeceador que era, punha a mão na proximidade
da orelha e se o salto não fosse suficiente para alcançar a bola,
discretamente, a mão boba entrava em ação e a bola ia para o fundo da rede.
Graças a Deus, Agnelo ainda vive no nosso meio.
Com efeito, é oportuno que façamos uma
justa homenagem a esse craque que levava ao delírio todos os torcedores que
gostavam do bom futebol e acorriam ao Estádio Vicente de Paula Leite, aos
domingos à tarde. Abraços e até breve...
João
Pessoa(PB), 20 de Novembro de 2007.
*Ignácio Tavares
de Araújo é graduado em Economia com especialização em Planejamento e Pesquisa
Sócio-Econômica. Professor da disciplina "Micro Economia" do
Departamento de Economia da UFPB e Economista aposentado da Secretaria Estadual
de Planejamento do Estado da Paraíba.
POMBAL NO TEMPO DO SÃO CRISTOVÃO E DO MARACATU
Reviewed by Clemildo Brunet
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6/15/2018 11:14:00 AM
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