O ESTADO NOVO EM POMBAL: A ASCENSÃO DE RUI CARNEIRO E A DESTRUIÇÃO DA ESTÁTUA DE ARGEMIRO DE FIGUEIREDO
José Tavares de Araújo Neto |
Por José Tavares de Araújo Neto*
Em 10 de
novembro de 1937, às vésperas da eleição presidencial, prevista para o dia 03
de janeiro de 1938, o Presidente Getúlio Vargas instituiu o golpe denominado
Estado Novo. O Congresso Nacional, as Câmaras Municipais e as Assembleias
Legislativas foram fechadas e os partidos políticos extintos. Os governadores
dos Estados foram substituídos pelos Interventores, nomeados pelo Presidente da
República, e os Prefeitos, por sua vez, passaram a ser nomeados pelos
Interventores Estaduais.
Na Paraíba,
a política conciliatória implementada pelo governador Argemiro de Figueiredo
havia reunidos as forças políticas em um único bloco. A candidatura de José
Américo de Almeida a Presidente da República, que teoricamente deveria ter o
apoio do Presidente Vargas, já se encontrava em processo de consolidação. O
imediato apoio de Argemiro ao Estado Novo suscitou no rompimento entre José
Américo e o Governador paraibano. Assim, neste contexto, Argemiro de
Figueiredo, que havia sido eleito pela Assembleia Legislativa em 1935, foi
escolhido por Vargas para assumir a Interventoria do Estado, e este por sua
vez, manteve Sá Cavalcante como Prefeito de Pombal, cargo conquistado por via
direta também em 1935.
Com a
instituição do Estado Novo aumenta o prestígio de Epitácio Pessoa Cavalcante de
Albuquerque (Epitacinho), filho do ex-presidente João Pessoa e amigo pessoal do
Presidente Getúlio Vargas. Em 1938, o governo Argemiro começa a dar sinais de
desgaste, motivado principalmente pela disputa inter-oligárquicas envolvendo os
grupos políticos liderados por Argemiro e os alijados do Poder, representados
principalmente pela família Pessoa. Para
acalmar os ânimos, Argemiro de Figueiredo cria a Secretaria de Educação e
convida Epitacinho para ocupar a pasta.
Empossado,
o Secretário Epitacinho inicia uma campanha conspiratória, visando
desestabilizar o governo do Interventor Argemiro, a fim de tomar o seu lugar.
Em março de 1939, Argemiro extingue a Secretaria de Educação, deixando
Epitacinho sem cargo. Em respostas, o ex-secretário de Educação entra com uma
representação junto ao Ministério da Justiça, na qual relaciona uma série de
desmandos administrativos supostamente praticados pelo Interventor. A partir de
então, a administração de Argemiro Figueiredo entra em um profundo desgaste,
que culminou com pedido de exoneração do cargo, prontamente aceito por Vargas.
Entretanto,
quando todos imaginavam que Epitacinho seria o substituto natural de Argemiro,
principalmente por sua estreita relação com o Presidente Vargas, na manhã de 16
de agosto de 1940, a Paraíba despertou com a notícia de que o Presidente Vargas
havia nomeado para o cargo o pombalense Rui Carneiro, que se encontrava alheio
aos conflitos políticos da Paraíba, assumindo cargo de Secretário da
Presidência do Banco do Brasil, na Capital Federal. O que mais causou
estranhamento nas hostes paraibanas foi o fato do novo interventor nomeado ser
um reconhecido adversário político de Argemiro e inimigo pessoal de Epitacinho.
Rui Carneiro, ético, honesto e leal, não fazia segredo que abominava as
atitudes nada republicanas do filho de João Pessoa. É oportuno registrar que no
ano seguinte, 1941, Epitacinho também foi um dos responsáveis pela derrubada do
Interventor de São Paulo Adhemar de Barros, ocorrida após a publicação do livro
“A administração calamitosa do sr. Ademar de Barros em São Paulo”, o qual
assinou sob o pseudônimo de João Ramalho.
Enquanto
isso em Pombal, o Prefeito Sá Cavalcante, lutando contra o tempo, intensifica,
a toque de caixa, a conclusão das obras
referentes a implantação de audacioso conjunto arquitetônico no centro da
cidade, que deveria marcar como o maior legado de sua administração. O Projeto
era composto de duas praças, um imponente coreto inspirado no Pavilhão do Chá
da Praça Venâncio Neiva, em Joao Pessoa, e uma réplica perfeita da coluna da
hora da Praça do Ferreira, em Fortaleza. As praças deveriam receber o nome de
Getúlio Vargas e Argemiro de Figueiredo, Presidente da República e Interventor
da Paraíba, respectivamente. O Prefeito já até havia recebido a estátua do
Interventor Argemiro de Figueiredo e o busto do Presidente Getúlio Vargas, que
havia encomendadas para serem instaladas nas respectivas praças. Sob a
coordenação do secretário Antonio José de Sousa, os serviços foram agilizados,
faltando apenas a conclusão do Pedestal, para colocação do busto, e da base,
destinada a estátua.
Rui
Carneiro já tinha assumido a Interventoria da Paraíba. O Prefeito Sá Cavalcante
permanecia no cargo, aguardando a nomeação do seu substituto, que poderia sair
a qualquer momento. Já havia sido instalado o busto de Getúlio Vargas, enquanto
que na outra praça os trabalhadores davam os últimos retoques para na aposição
da Estátua de Argemiro Figueiredo, quando Antonio de Sousa foi surpreendido por
um emissário que trazia um recado de Janduhy Carneiro, irmão do novo
interventor, recomendando que os serviços fossem suspensos imediatamente, pois
tinha outro plano para a referida obra. Indiferente, Antonio de Sousa continuou
com os serviços, recebendo pela segunda vez o mesmo emissário, com o mesmo
recado. No dia seguinte, 05 de setembro, Rui Carneiro destituiu o Sá
Cavalcante, nomeando para substituí-lo o Agrônomo Paulo Alfeu de Miranda
Henrique. O novo gestor municipal tomou posse no dia seguinte, 6 de setembro, quinta-feira,
sem a presença de Sá Cavalcante, que incumbiu Antonio José de Sousa, seu fiel
escudeiro, para repassar o cargo.
Na
madrugado do sábado, dia da feira-livre, pessoas não identificadas, mas
certamente ligadas politicamente aos Carneiro e com o consentimento do grupo,
quebraram a estátua de Argemiro de Figueiredo, sendo seus fragmentos jogados no
leito do Rio Piancó. A praça deveria ter nome de Argemiro de Figueiredo, foi
batizada Praça José Américo de Almeida, seu adversário político. Em 1951, com a
eleição do prefeito José Ferreira de Queiroga (Dr. Queiroga) recebe o nome de
Praça Rio Branco, sendo renomeada Praça José Ferreira de Queiroga, em 1953,
após a morte de Dr. Queiroga, em pleno exercício do cargo. Em 1962, ano das
comemorações de aniversário de um centenário que Pombal ganhou o status de
cidade, ela passou a ser conhecida também como Praça do Centenário, sem
prejuízo para o nome oficial.
Indiferente
a polarização das disputas eleitorais e as consequentes alternâncias do Poder,
o nome da Praça Getúlio Vargas e seu busto se mantiveram preservados desde o
Estado Novo até os dias de hoje.
*Engenheiro Agrônomo e Escritor Pombalense
O ESTADO NOVO EM POMBAL: A ASCENSÃO DE RUI CARNEIRO E A DESTRUIÇÃO DA ESTÁTUA DE ARGEMIRO DE FIGUEIREDO
Reviewed by Clemildo Brunet
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7/18/2018 04:24:00 PM
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