POLITIZAÇÃO
Severino Coelho Viana |
Por
Severino Coelho Viana*
O nível de politização constitui uma
linha de ação, uma parte do programa dos movimentos engajados numa
transformação radical das estruturas políticas, econômicas, educacionais e
sociais visando à melhoria das condições de vida de uma nação, principalmente
quando o debate em voga procura educar o povo, mobilizando grande massa da
população completamente alienada e chegando-se a um bom nível de
conscientização.
O cidadão não pode ficar à margem do
processo de politização e viver a mercê do domínio da minoria radical que a
todo custo quer levar a melhor no grito e por trás defendendo interesses
escusos. O espaço democrático cabe todas as ideias contrárias.
Os partidos políticos, como entes
representativos de segmentos sociais na defesa dos interesses coletivos, porque
são formados de homens e mulheres com um fim comum na melhoria dos diversos
setores na sociedade, perderam o sentido de defesa social, uma vez que caíram
na malha das falcatruas, dos conchavos escandalosos e no desvio do dinheiro
público.
A dificuldade do momento atual é
encontrar o candidato perfeito e o governante ideal, que seria aquele líder por
natureza e o administrador que não amasse tanto o poder e desprezasse o ideal.
Tivesse como foco a organização política do Estado e a coletividade fosse
socialmente bem servida nos seus diversos ramos operacionais. Não serve o uso
do discurso demagogo que já respalda um ato de atitude barata, desmedida e
anacrônica.
Podem até nos chamarem de sonhador, mas
nós não somos o único a pensar numa sociedade igualitária, justa e solidária
que conviva harmoniosamente no bem-estar coletivo. Reconhecedora que o ser
humano não deve ser usado como qualquer objeto de bagatela encontrado na
feira-livre.
A nossa assertiva encontra sustentação
na literatura universal. Nós sabemos que Platão (427 a. C.), com apoio nos
ensinamentos de Sócrates, descreveu os atos, ações e atitudes do governante
ideal, assim, deixando um livro de doutrinação política, compêndio literário
intitulado de “A República”, que a posteridade ainda não colocou em prática os
seus ensinamentos políticos, conserva apenas como um livro exposto na estante
sem fazer o devido uso.
Realmente, é muito difícil por este
exercício de atividade a prática do bem comum, afugentando a ideia do
individualismo e exorcizando o defeito do egoísmo.
A visão política de Platão projetou um
Estado Ideal, que o bom governante deveria buscar subsídios na arte do bem
governar, entretanto, por incrível que pareça, ainda, hoje, nós não temos
conhecimento do governante que tenha apresentado esta capacidade de retirar os
governados que vivem na escuridão da caverna como tentativa que executasse e
levasse à prática os atos governamentais no sentido de alcançar o justo, o bem,
o belo e a justiça.
Na nossa era contemporânea, já que não
podemos escolher o governante idealizado por Platão, gostaria que, pelo menos,
o governante cumprisse a Constituição e as leis que regem o país, cuja gestão
política fosse pautada pelos princípios norteadores da administração pública:
impessoalidade, legalidade, moralidade, publicidade e eficiência, afastando a
mácula da corrupção, que atua em forma de organização criminosa, com o fim
único de dilapidar o patrimônio público, uma vez que a corrupção não comunga
com probidade administrativa.
A maior exigência de nossa sociedade
sofrida e vilipendiada no seu direito à cidadania, pagadora de exorbitantes
tributos, sem a devida retribuição social, é que o governante tivesse o
propósito de implantar e realizar políticas públicas voltadas unicamente para o
bem comum, e, sobretudo, respeitando à dignidade da pessoa humana. Que tivesse
um nível de consciência política no sentido de cuidar da coisa pública sabendo
que não é propriedade privada, mas zelando com mais cuidado como se fossem seus
próprios bens materiais. Aflorar na consciência de que o mandato eletivo tem
caráter temporário e que a alternância do poder é a mola-mestra do regime
democrático. Ter na mente que foi eleito por um partido político por uma
questão de exigência legal, no entanto, é o governante de todos, porque a
minoria se curva ante a decisão tomada pela maioria, nos termos do processo
democrático.
Além disso, trazer consigo a virtude da
honestidade, e que a honestidade seja guardiã de todas as ações públicas. Que
os seus subordinados cumpram fielmente as diretrizes traçadas no programa de
governo e que qualquer desvio deste delineamento não seja mais merecedor de
participar do gabinete.
Há de convir que, mesmo seguindo esse
direcionamento acima exposto, na nossa humilde concepção, o moderno governante
não chegaria a ser aquele projetado por Platão porque nós não temos um
governante capaz de entregar a própria vida em defesa dos governados. E isto
somente ocorrerá se for um autêntico idealista. Por outra banda, quando um
governante comete um crime, a pena imposta seria maior do que o governado ou o
cidadão comum que tenha praticado o mesmo crime.
A miopia partidária está paulatinamente
cegando o ideal de bem servir e a visão dos fatos só é vista pela imagem
truncada da cor partidária, cria fatos mirabolantes, esquecendo que a
democracia é uma forma de governo do povo, para o povo e pelo povo.
Isto posto, o governante de boa índole
teria plena consciência que o Estado foi criado para servir, e não para
servir-se.
A política como dizia Platão é um lugar
para homens públicos e honestos que devem abdicar dos prazeres humanos para
vivenciar a coletividade e trabalhar para o bem comum.
Podem me chamar de sonhador ou utópico,
mas não estou sozinho sentindo este sonho nem alimentando esta utopia, assim
plagiando o líder The Beathes – John Lennon.
João
Pessoa - PB, 16 de julho de 2018.
*Escritor pombalense
e Promotor de Justiça em João Pessoa PB
POLITIZAÇÃO
Reviewed by Clemildo Brunet
on
7/16/2018 09:13:00 AM
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