ESPIGA DE MILHO
Por Severino Coelho Viana
Recentemente,
nós publicamos um pensamento nas redes sociais vazado nos seguintes termos: “limpe o terreno, plante um pé de milho,
colha o fruto e guarde uma espiga como símbolo da paz dentro de si mesmo”.
Dentre tantas
mensagens, um amigo virtual identificado por Geraldo Pereira gostou da mensagem
e gostaria de saber mais sobre a história do milho, logo dizendo que sabia que
“a espiga de milho era simbólica, mas presente como uma experiência de sorte e
gratidão”.
Por este
motivo, resolvemos fazer um estudo aprofundado na tentativa de mostrar o
significado histórico do milho, colheita do fruto - ESPIGA.
O milho pertence ao grupo das angiospermas, ou seja, produz as sementes no fruto. A planta do milho
chega a uma altura de 2,5 metros, embora haja variedades bem mais baixas. O
caule tem aparência de bambu e as juntas estão geralmente a cinquenta centímetros de
distância umas das outras. A fixação da raiz é
relativamente fraca. A espiga
é cilíndrica e costuma nascer na metade da altura
da planta.
Os grãos
são do tamanho de ervilhas e estão dispostos em fileiras regulares presas no sabugo
que formam a espiga. Eles têm dimensões, peso e textura variáveis. Cada espiga
contém de duzentos a quatrocentos grãos. Dependendo da espécie, os grãos têm
cores variadas, podendo ser amarelos, brancos, vermelhos, pretos, azuis ou marrons. O núcleo da
semente tem um pericarpo
que é utilizado como revestimento.
É um conhecido cereal cultivado em grande parte do mundo. O milho é extensivamente
utilizado como alimento humano (farinha, maisena, canjica, pipoca, etc) ou para ração animal (forragem para animais), devido às suas qualidades nutricionais,
e, ainda, na indústria (amido, glicose, álcool).
Além
de suas propriedades em ferro, potássio, vitamina C e fibras, o milho é
utilizado em diversos ramos. Como integrante de antibióticos, plásticos,
alimentos como pudins e farináceos, adesivos, tintas, inseticidas, óleos e
xaropes. O cabelo de milho é utilizado na medicina popular como diurético. E os
povos andinos fazem uma bebida à base de milho chamada chicha.
Doravante, nós
passamos à análise sobre o milho nos aspectos: histórico, mitológico e
folclórico.
O
milho já era de fundamental importância desde a antiguidade dos povos indígenas,
originando, assim, várias lendas.
Conta uma lenda guarani que num tempo muito longínquo, cada
família procurava na agricultura e na caça, os meios para subsistir. Dois caçadores
sempre andavam juntos e o que eles conseguiam, dividiam para eles e para as
outras famílias. Houve um tempo que todos os alimentos ficaram escassos. Os
dois amigos conversavam sobre isso quando se aproximou deles um homem dizendo
ser o enviado de Nhandeyara (o grande espírito), e que ele haveria de enviar a
planta que acabaria com a fome. Para isso, cada um dos dois amigos teria que
lutar com este homem para ver qual era o mais forte. E o mais fraco teria que se
sacrificar e ser enterrado junto à cabana. Quem perdeu foi um dos amigos
chamado Avaty, que foi enterrado por seu amigo, apesar do grande desgosto, como
o combinado. Em um dos primeiros dias de primavera a aldeia foi surpreendida
com uma bonita planta de muitas folhas verdes e espigas douradas. Viu, então, o
caçador, a promessa cumprida e compreendeu a sabedoria de Nhandeyara que foi
necessário sacrificar um para a salvação de vários. Desde então os guaranis
chamam esta planta de avaty, em homenagem ao índio enterrado.
Os índios do leste da América do Norte acreditavam que o espírito
do milho tinha se originado do sangue da mulher dos grãos. Nas fórmulas
sagradas dos cheroke, o cereal às vezes é invocado como “mulher velha” e um dos
seus mitos contam como um caçador viu uma bela mulher sair de um pé de milho.
Essa mulher dos grãos vinha da crença que o espírito do milho, o espírito das
vagens e o espírito das abóboras eram três irmãs vestidas de folhas que se
amavam muito e gostavam de viver juntas. Essa trindade divina era chamada de
"De-o-há-ko" que quer dizer nossa vida. E dizem que o milho vem do
sangue de uma dessas irmãs.
"... é a dádiva dos Deuses que trago, que vocês devem chamar de milho. Quem comer deste milho terá ouvidos para a voz do Espírito; aprenderá a voar nos sonhos para lugares distantes e a cuidar de toda vida na Terra. O milho amarelo contém a benção da luz." Mito Hopi (tribo nativa norte-americana).
"... é a dádiva dos Deuses que trago, que vocês devem chamar de milho. Quem comer deste milho terá ouvidos para a voz do Espírito; aprenderá a voar nos sonhos para lugares distantes e a cuidar de toda vida na Terra. O milho amarelo contém a benção da luz." Mito Hopi (tribo nativa norte-americana).
A
origem do milho se dá há 7 (sete) mil anos na América Central. Provavelmente,
nos planaltos do México. Os Incas, Maias e Astecas, não só se alimentavam dele,
mas tinham também uma relação de cunho religioso.
Os
Maias possuíam um deus do milho. O único em seu panteão que possuía feições
humanas, juvenis e amáveis. Ele se apresentava com os traços de um jovem. Sua
cabeça servia também de símbolo do algarismo 8, de cabelos longos sugerindo os
cabelos da espiga de milho. Seu nome era Yuin Kax, "o senhor dos
bosques". Deus da prosperidade e da abundância, também era associado com
símbolos da morte. Para eles não há como criar vida senão com a morte. Para que
o grão germine, é necessário enterrá-lo e deixá-lo agir como um cadáver. Sendo
assim, representam-no em sua forma decapitada ou trazendo a cabeça cortada com
uma medalha no peito, para lembrar que o grão morre para que nasça a jovem
planta. Os Maias acreditavam ser originados do milho.
O
Popol Vuh é um dos poucos livros que sobreviveram da civilização Maia. É
composto por um conjunto de lendas provenientes de diversos grupos étnicos.
Revela a cultura maia pelo aspecto religioso, explicando as origens dos povos
maias e os fenômenos naturais que os cercavam.
Inicialmente estabelecidas durante o período pré-clássico (1000 a.C. a 250
d.C.), muitas cidades maias atingiram
o seu mais elevado estado de desenvolvimento durante o período clássico (250 d.C. a 900 d.C.), continuando a se
desenvolver durante todo o período pós-clássico,
até a chegada dos espanhóis.
A civilização maia foi uma cultura mesoamericana pré-colombiana, notável por sua língua escrita (único sistema de escrita do novo mundo pré-colombiano que podia representar completamente o idioma falado no mesmo grau de eficiência que o idioma escrito no velho mundo), pela sua arte, arquitetura, matemática e sistemas astronômicos. No seu auge era uma das
mais densamente povoadas e culturalmente dinâmicas sociedades do mundo.
Existe
uma lenda maia contada no Popol Vuh que relata que o Grande Pai e a Grande Mãe
geraram os homens com a intenção de serem adorados por suas criaturas e essas
tentativas ocorreram até que a criação se consumasse. Primeiramente os deuses
criaram a Terra, depois os animais e depois os homens. A primeira tentativa de
criar os homens foi utilizando o barro, mas o homem não vingou. A segunda
tentativa ocorreu utilizando a madeira como matéria prima. Dessa vez, os homens
sobreviveram, mas se tornaram altivos, vaidosos e frívolos e por essa razão, o
Grande Pai os destruiu com um dilúvio. O Grande Pai, então, resolveu criar
quatro homens utilizando grãos de milho moídos e a partir dos corpos desses
quatro homens, foram criadas quatro mulheres. Os homens e as mulheres, então,
se multiplicaram e geraram várias outras famílias. Temendo essa multiplicação,
os deuses ficaram temerosos que suas criaturas pudessem ter a ideia de superá-los
em sua sabedoria e, portanto, resolveram diminuir a inteligência dos oito.
A
semente do milho é o símbolo da prosperidade.
Até
o descobrimento da América, em 1492, os europeus desconheciam a existência do
milho. Foi Cristovam Colombo que o levou à Europa, em 1493, causando grande
sensação entre os botânicos.
Nas culturas
mexicanas o milho representa o Sol, o Mundo, o Homem.
Na mitologia dos índios mexicanos, o cereal surgiu das unhas dessa
divindade. Conhecido pelo epíteto de “O Senhor Amado”, por causa do enorme
valor da sua dádiva, ele é um dos principais deuses do panteão mexicano.
Quando os europeus chegaram ao continente americano, o milho era
cultivado do leste do Canadá até as proximidades da Terra do Fogo, na América
do Sul. Os marinheiros de Cristóvão Colombo o conheceram em 1492, de acordo com
o relato de um deles. Esse navegante descreve a planta em seu diário como um
“trigo gigante”, com um caule elegante e grãos dourados. Depois da conquista,
espigas de algumas espécies foram levadas para a Espanha. Em 1494, pela
primeira vez, o milho foi semeado em Sevilha. A partir daí, ele se propagou por
todo o continente europeu, embora durante muitos anos tenha sido utilizado
unicamente como alimento para animais.
O
Dia da Espiga em Portugal.
Dia da espiga ou
Quinta-feira da espiga é uma celebração portuguesa que ocorre no dia da Quinta-feira da Ascensão com um
passeio matinal, em que se colhem espigas de vários cereais, flores campestres e raminhos de oliveira para formar um ramo, a que se chama de espiga. Segundo a
tradição o ramo deve ser colocado por detrás da porta de entrada e só deve ser
substituído por um novo no dia da espiga do ano seguinte.
O dia da espiga era também o "dia da hora"
e considerado "o dia mais santo do ano", um dia em que não se
devia trabalhar. Era chamado o dia da hora porque havia uma hora, o
meio-dia, em que tudo parava, "as águas dos ribeiros não correm, o leite
não coalha, o pão não leveda e as folhas se cruzam". Era nessa hora que se
colhiam as plantas para fazer o ramo da espiga e também se colhiam as ervas medicinais. Em dias de trovoadas queimava-se um pouco da espiga no fogo da lareira para afastar os raios.
Como
se pode ver, a origem do milho tem uma interligação cósmica, convertendo a
agricultura em sinônimo de sociedade desenvolvida, além de significar fartura e
prosperidade. Aliado a isso, os vegetais são os primeiros elos de todas as
cadeias alimentares, pois são chamados “os produtores”. Isto porque para
obterem a energia que necessitam os vegetais não se alimentam de nenhum outro
ser vivo, somente do solo, água e luz solar. Todos esses aspectos transformam o
milho em alimento primordial na alimentação do homem. Seja ele presente do
grande espírito ou presente da Mãe Terra que nos sustenta como mais um filho
seu
O MILHO E AS FESTAS
JUNINAS N O BRASIL.
Há uma lenda
que se chama “Lenda do Milho Gigante".
Conta-se uma história, de que um
fazendeiro bem sucedido, ano após ano, ganhava o troféu “Milho Gigante”, na
feira de agricultura do município. Não dava outra: ele chegava à exposição com
seu milho e saia com a faixa premiada no peito, por seu produto cada vez
melhor.
Em uma dessas
ocasiões, um repórter ao entrevistá-lo após um prêmio, ficou intrigado com a
confissão do fazendeiro, de que partilhava a semente de seu milho – de melhor
qualidade – com seus vizinhos.
Por que o senhor
compartilha a sua semente de superior qualidade com seus vizinhos, quando todos
os anos eles estão competindo com seu produto? – indagou o repórter.
O fazendeiro
respondeu: Você não sabe, mas o vento apanha o pólen do milho maduro e o leva
de campo em campo. Se meus vizinhos cultivarem milho inferior, a polinização
atingirá seguidamente a qualidade do meu milho. Por isso, se eu quiser cultivar
milho bom, de qualidade, eu tenho que ajudar meus vizinhos a cultivarem milho
bom e de qualidade também.
O fazendeiro estava
atento à conexão da vida: o milho cultivado só poderia melhorar se o produto do
vizinho também tivesse a qualidade melhorada.
Esse exemplo vale para
todos, e em diversas dimensões da vida. Quem escolhe estar em paz, deve fazer
com que seus vizinhos também estejam em paz.
Quem quer viver bem,
deve ajudar os outros para que também vivam bem. E quem quer ser feliz, deve
ajudar os outros a encontrar a felicidade. O bem-estar de cada um está ligado
no bem-estar de todos. E que todos consigam ajudar seus vizinhos a cultivarem
um milho cada vez melhor!
Os
símbolos das
festas juninas representam a prosperidade, a vida, a fartura, a
saúde e o agradecimento pela colheita. A simbologia é própria das comemorações
rurais que lhe deram origem.
As
festas juninas têm
sua origem com os imigrantes portugueses que trouxeram a devoção a Santo
Antônio, São João e São Pedro para o Brasil.
Comemorada
na zona rural, as festas dos santos
juninos eram motivo para as pessoas se encontrarem, namorarem
e, claro, se divertirem!
Com
o êxodo rural, quem veio para a cidade trouxe consigo seus costumes e os
festejos aos santos continuaram. Assim se tratava de reproduzir na cidade o arraial do
interior.
Por
isso, temos a decoração típica com bandeirinhas de papel, bambus, comidas do campo
e danças.
A
fogueira representa
a vida e a transformação. Antigamente, acreditava-se que a luz do fogo espantaria
os maus espíritos que poderiam prejudicar a colheita.
Desta
maneira, é costume acender uma fogueira em frente a casa, na véspera do dia de
São João, a fim de afugentar seres sobrenaturais que podem prejudicar a
família. Durante a festa, a fogueira é acesa no centro e vários aproveitam para
saltar suas
chamas. Essa tradição é para mostrar a bravura dos que estão
sozinhos ou acompanhados, representando a união frente aos perigos.
A
fogueira também está associada a São João porque uma lenda conta
que Santa Isabel teria avisado Maria que precisava de ajuda no parto acendendo uma fogueira.
As
bandeiras simbolizam
a espiritualidade e a proteção. Sua origem está nas bandeiras onde eram
impressas as imagens
dos santos e com o tempo, elas foram ganhando novos materiais e
cores.
No
budismo, que os portugueses entraram em contato durante as grandes navegações,
é costume imprimir orações em pequenos tecidos coloridos
para que o vento leve as palavras das preces. Feitas de papel de seda e coladas
em barbante, elas são colocadas de forma a fazer um "teto" onde se
desenrola a festa ou então, de maneira a delimitar o espaço de maneira simples
e alegre.
A
simbologia do balão tem um caráter
prático, pois é possível que o costume de soltar balões fosse um meio de comunicação
entre as aldeias para avisar que o festejo havia começado.
No
entanto, seu significado espiritual, remete à comunicação com o divino, pois o
balão vai da terra ao céu. Algumas pessoas, inclusive, costumam tocar os balões
e fazer pedidos para que eles os levem aos céus.
Dançar
a quadrilha é
o momento alto da festa, pois o baile representa
a alegria e a vontade de viver. Também era a única oportunidade
que os casais tinham de se aproximar e, por isso, a constante troca de pares, a
fim de conhecer um possível parceiro(a) para o matrimônio.
O
costume de dançar quadrilha vem da corte
francesa e das festas populares, onde era comum dançar em pares
e em grandes rodas.
No
Nordeste brasileiro, estes ritmos se fundiram com instrumentos como a zabumba,
a rebeca e o triângulo e deram origem ao baião, ao xote e as danças juninas.
Outro
costume é a realização do "casamento
de brincadeira" onde a "noiva", geralmente
grávida, está desesperada para se casar. O "noivo", que não deseja o
casamento, tenta fugir. No entanto, ele é capturado pelo "pai da
noiva" e diante do "padre". No final, tudo acaba bem e todos
dançam a quadrilha em honra dos "recém-casados”.
As
comidas simbolizam
a fartura,
o fim do trabalho no campo, a vida em si mesma. O milho é o grão
mais comum de ser encontrado na festa junina coincide com a colheita da espiga.
O
próprio cereal é símbolo de abundância por sua
capacidade de frutificar e fornecer centos de grãos de apenas um que foi
plantado.
Como
seria muito difícil escolher apenas uma comida típica na festa junina, é melhor
optar como símbolo aquelas que são feitas de milho que é servido cozido ou
assado, e também em forma de bolo, canjica, mungunzá ou pamonha.
Acreditamos
que com a publicação deste artigo tenhamos esclarecido as dúvidas de alguns
leitores e trazido à baila um pequeno estudo sobre acultura sertaneja do milho.
João Pessoa -
PB, 20 de novembro de 2019.
SEVERINO
COELHO VIANA
ESPIGA DE MILHO
Reviewed by Clemildo Brunet
on
11/20/2019 04:09:00 PM
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