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CASTIGO DE TÂNTALO


Por Severino Coelho Viana

A mitologia, em si, não se trata apenas da temática de deuses e deusas, no campo sagrado e da crença de um povo em determinado período histórico, mas apresenta uma simbologia das relações humanas do mundo exterior e interior do ser racional na perspectiva de alertar para as virtudes, os defeitos, a prudência e exagero nos atos, os extremismos de ganância pelo poder, a arrogância pelo saber e humildade de reconhecer-se pequeno para tornar-se grande.
O campo sagrado deu origem aos mitos. A nossa análise de compreensão, os mitos são narrativas heroicas, com o uso de todo um simbolismo, que explicam como o mundo e a humanidade sugiram fundamentados nas tradições e lendas para deslindar os mistérios do universo, a criação do mundo e fenômenos naturais.
Os mitos nos ajudam a entender as relações humanas e guardam em si a chave da porta do mundo e da nossa mente analítica, por exemplo, a mitologia grega está repleta de lendas históricas, contos de deuses e deusas, batalhas heroicas e jornadas no mundo subterrâneo.
Assim, esses mitos deixados pelos antigos retratam aquele passado e também a genialidade humana em suas expressões heroicas.

Resumidamente, vamos contar um pouco sobre a vida de Tântalo:
Segundo a mitologia grega: Tântalo era o Rei da Frígia, também denominada Lídia ou próspero e abençoado Rei de Corinto. Ele era filho de Zeus com a princesa Plota, casado com Dione, que por sua vez, era filha de Atlas. Desta união matrimonial de Tântalo e Dione nasceram três filhos: Níobe, Pélope e Dascilo.
Por ser filho de Zeus, Tântalo, um mortal, tornou-se muito respeitado pelos submissos e querido pelos deuses.
Vestindo-se no manto desse prestígio, certo dia os deuses convidaram para partilhar das suas refeições no Olimpo. Durante o banquete, usando de esperteza e do excesso de confiança, Tântalo roubou o néctar e a ambrosia, alimentos que davam a imortalidade, que era um privilégio somente dos deuses. Ao degustar néctar e ambrosia, Tântalo, o megalomaníaco e abençoado rei de Corinto, justo e bem quisto, torna-se o único mortal admitido à mesa dos olímpicos. A consciência dessa distintiva predileção acaba por enredá-lo numa vaidosa e desvairada grandiosidade imaginativa.
E foi justamente assim: “Tântalo, julgando-se muito poderoso, inflou o seu ego, nascido na ousadia da vaidade e da inveja, convidou os deuses para um jantar em sua casa e teve uma ideia audaciosa de oferecer aos deuses como refeição seu próprio filho Pélope, esquartejando o corpo do filho, com o fim de testar a divindade dos deuses. Os convidados perceberam o crime praticado por Tântalo. Os deuses desconfiaram da tramoia de Tântalo. A deusa Deméter, na mitologia grega, Deméter era a deusa da agricultura e da colheita, quem nutria a terra com a vegetação verde. Considerada também como a deusa protetora do casamento e da lei sagrada. Era venerada como a responsável pelas estações do ano.  No momento que o banquete estava servido, Deméter distraidamente comeu o ombro de Pélope. O poderoso Zeus remediou a situação de Deméter, fez com que o corpo do filho de Tântalo fosse atirado num caldeirão mágico, onde a deusa Cloto (Cloto era na uma personagem da mitologia grega, uma das três Moiras (as outras eram Láquesis e Átropos), que eram três irmãs que determinavam o destino, tanto dos deuses como dos seres humanos. Eram responsáveis por fabricar, tecer e cortar aquilo que seria o fio da vida de todos os indivíduos) devolveu a vida e substituiu o ombro saciado por Deméter por um de marfim”.
“O castigo de Tântalo recebeu o suplício da fome e da sede eternas. Assim mergulhado em água até o pescoço, quando Tântalo se debruçava para beber água, esta desaparecia. Por cima de sua cabeça pendiam ramos de árvores com frutos saborosos, mas o vento lhe tirava do alcance sempre que tentava pegá-los”.
“A família de Tântalo e seus descendentes foram amaldiçoados. Sua filha Níobe, que tivera sete pares gêmeos, perdeu todos os filhos em virtude de doença terríveis. De tanto chorar ela se transformou numa gruta de pedras de onde descia uma cachoeira de água salgada. Depois de ressuscitado Pélope foi entregue a Poseidon que o criou até tornar-se um grande herói. Naquele tempo, a profecia dizia que ele se tornaria um rei, e, na realidade, jamais se livraria da maldição lançada sobre todos os descendentes de Tântalo”.
“Os netos Atreus e Tiestes lutaram um contra o outro pelo poder. Atreu atentou contra a vida dos filhos de Tiestes. O bisneto Agamenon foi assassinado por outro bisneto, Egisto, que, por sua vez, foi morto pelo trineto, Orestes, filho de Agamenon”.
A partir de então, o aviso dos deuses ficou na memória de todos: “o ser humano que provar da ambrósia sem ter sido convidado será condenado ao suplício de Tântalo".

Esse mito, indubitavelmente, simboliza o desejo incessante e incontido; aliás, muitas vezes insaciável, quando o ser humano sempre deseja mais porque nunca atinge a medida máxima. Quanto mais tentamos avançar em direção àquilo que desejamos, mais ficamos longe.
De outro modo, nós podemos tirar algumas lições da vida prática comparada a esta narrativa mitológica:

01 – A ganância pelo poder leva ao cúmulo da loucura, puxando o tapete dos outros mais competentes, tudo isto por que ama demais o poder e despreza o ideal. O desatino pelo poder é um caminho perigoso, é uma droga pesada que não encontra nenhuma terapia, que se torna dependente no dia que não recebe um afago, se não receber um elogio, se não for cogitado para determinado cargo e se não perpetuar nele.

02 – O sentimento de inveja desmedido torna-se tão pecaminoso que não leva ao sucesso, mas ao início do fracasso, à dor corroída da mágoa e ao desprezo social. O invejoso sente raiva ou frustração com a felicidade e o sucesso alheio.

03 – A arrogância exacerbada leva o sujeito esquecer o prato que come e sente pelos olhos o sabor do prato da mesa do vizinho. O ganancioso possui uma ambição sem limite e utiliza todos os meios ilícitos para conseguir as coisas.

04 – A frustração pela falta de conhecimento pleno torna-o um falastrão que sabe tudo, mas não sabe nada! O importante é aparecer e deixar aquela impressão que sabe e depois desaparece do terreiro.

05 – O estado de megalomania mental faz menor porque imaginava ser uma árvore frondosa e não passou de uma relva rasteira.

Não é de hoje que o homem aspira a mais perfeita e elevada purificação. Como outrora, religiosos ferrenhamente devotados empreendem uma luta interior buscando alcançar o olimpo, atingir o nirvana ou vivenciar o paraíso na terra.

João Pessoa, 07 de janeiro de 2020.

SEVERINO COELHO VIANA
scoelho@globo.com
CASTIGO DE TÂNTALO CASTIGO DE TÂNTALO Reviewed by Clemildo Brunet on 1/07/2020 04:11:00 PM Rating: 5

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