Descaso, Negligência, indiferença e uma cidade ilhada
Genival Torres Dantas*
A
similitude desse texto, o que fiz e coloquei na internet em 29/01, passado,
está apenas no seu tema, conquanto eu tratasse dos prejuízos decorrentes na
região Sudeste agora vou me referir basicamente ao Estado de São Paulo,
primordialmente a Capital e o motivo gerador dessas tragédias anunciadas pelo
índice pluviométrico ocorrido nos últimos dias. Na minha análise as informações
que surgem nas explicações das autoridades competentes e envolvidas no assunto
servem apenas para ratificar a ideia que temos sobre uma questão tão relevante
para os habitantes da cidade de São Paulo, seu entorno e tão relevada por quem
devia cuidar com mais atenção da sua segurança ambiental.
Tudo
começa na noite/madrugada de domingo para segunda feira, 09/02, em um avião que
vinha do Nordeste, eu estava a bordo, a aeronave sobrevoou a cidade de São
Paulo por mais de 30 minutos esperando autorização da torre de comando para que
aterrissássemos, o movimento naquele horário noturno era muito grande e já
chovia, era 20h30m. Depois da escala, seguimos para Ribeirão Preto, o horário
de decolagem estava previsto para 23h30min, entretanto como havia enorme
congestionamento de aeronaves aliado ao mau tempo pela água que caia e novo
atraso foi suscitado, chegamos ao destino cansado e preocupado com as
consequências que poderia vir da chuva que persistia.
Segunda-feira,
10/02, tinha compromissos e como tenho escritório no meu apartamento, comecei a
fazer meus textos logo cedo, ao mesmo tempo, acompanhava pela televisão os
resultados da chuva insistente e contínua, o município de São Paulo estava
completamente alagado, Rios Pinheiros e Tietê transbordavam e mais de 80 pontos
de interdições já eram anunciados, além das marginais dos rios, claro. Comecei
a rememorar uma época já um pouco distante, há 50 anos, eu era vendedor e
trabalhava externamente, ainda não possuía veículo e tinha que enfrentar as
dificuldades de mobilidade utilizando ônibus, depois o próprio metrô já
ajudava, mesmo tendo apenas um único ramal: Santana/Jabaquara.
A
realidade paulistana se apresentava à minha frente na tela da televisão, a
situação era bem pior do que eu pudera imaginar pessoas ilhadas por entre
carros, ruas e água suja que não conseguia seguir seu percurso nas galerias
pluviais, muita gente que não seguia ao destino desejado, carros, caminhões e
ônibus parados e seus ocupantes indefesos e inertes como quem esperando até
mesmo a morte chegar nesses momentos, nada de bom nos vem à mente, naquela
situação de perplexidade não podia ser diferente.
Imaginar
que o município e o Estado de São Paulo deixaram de aplicar mais de R$ 1 bi na
recuperação dos dois Rios, principalmente no Rio Tietê que apresenta falência
no seu uso, o trecho que banha a Capital paulistana, simplesmente, se fora um
corpo humano, com toda certeza, estaria sofrendo de insuficiência respiratória,
pelo seu alto grau de poluição a quantidade de oxigênio ali encontrado é
insuficiente para manter vivo qualquer animal que dele se utilize. O
desassoreamento é uma realidade que não se pode fugir dela. O volume de terra e
esgotos urbanos que é trazido em todo caminho das águas do Rio Tietê é enorme,
juntas a esse fator o fato que muito lixo é jogado ao Rio na área urbana de São
Paulo, portanto as consequências não podiam ser outras.
As
autoridades paulistanas precisam agir com mais responsabilidade, prestigiando
as pessoas que ali vivem e empreender obras que não sejam apenas de caráter
eleitoreira, mas de cunho social, objetivando não só a segurança como a
tranquilidade nas idas e vindas dos transeuntes e motoristas que convivem com o
medo cotidianamente, se o céu escurece, durante o dia, por alguma nuvem
passageira, isso é motivo de alarde e nervosismo da população. Há verdadeiro
descaso para com o que a natureza possa provocar e não adiante imputar as
desgraças ocorridas ao tempo, chuva, raios e outras ações naturais.
O
homem é o próprio responsável pelo seu destino, só ele, somente ele, pode
evitar problemas ao seu habitat com obras de contenções e prevenções, além
disso, somente as graças pedidas pelas pessoas de muita fé, caso contrário o
paulistano vai viver eternamente convivendo com o desamparo e a humilhante
situação de ter de ser amparado pela solidariedade humana e a piedade cristã,
convenhamos, é muito triste para quem quer apenas dignidade e respeito ao seu
trabalho, nada mais que isso, será muito pedir tão pouco!
Genival Torres Dantas
*Poeta, Escritor e Jornalista
Descaso, Negligência, indiferença e uma cidade ilhada
Reviewed by Clemildo Brunet
on
2/13/2020 06:49:00 AM
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