UM APÊNDICE INDISPENSÁVEL SOBRE O HISTORIADOR POMBALENSE WILSON NÓBREGA SEIXAS
Wilson Nóbrega Seixas
O APAGADO DEGAS AQUI
AGRADECE AO AMIGO E JORNALISTA E RADIALISTA E HISTORIADOR E ANIMADOR CULTURAL
Clemildo Brunet de Sá A LEMBRANÇA DE QUE PUBLICAMOS, E-XA-TA-MEN-TE HÁ UM ANO,
EM 17 DE JULHO DE 2017, O SEGUINTE MATERIAL. Trata-se de um dos três capítulos
de nossa autoria publicados no livro "A Paraíba por si mesma", saído
pela editora da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), com sede em Campina
Grande. Nosso modesto escrito aborda a vida, obra, personalidade e influência
de nosso querido e saudoso primo Wilson Nóbrega Seixas, notável historiador
paraibano nascido em Pombal. Em tempo: o veeeelho Druzz de guerra é também, com
muita honra, alegria e entusiasmo, Cidadão Pombalense, graças a título
concedido e entregue pela Câmara de Vereadores dessa brava urbe.
UM APÊNDICE
INDISPENSÁVEL SOBRE O HISTORIADOR POMBALENSE WILSON NÓBREGA SEIXAS - por
Evandro da Nóbrega, escritor, jornalista, historiador, editor e membro do IHGP
(Instituto Histórico e Geográfico Paraibano), a mais antiga instituição
cultural em contínua atuação no Estado da Paraíba - [druzzevandro@gmail.com].
- Introito
— O Velho Arraial de
Piranhas
— Dois Lançamentos
Póstumos
— Cumprindo a
Promessa
— “Fui Induzido a
Erros”
— Uma Reedição
Abortada
— A “Saga” da Edição
Definitiva
— Zélia, Raphael e
Carneiro Arnaud
— Introduções a
Wilson
— Uma História por
Escrever
— Trabalho
Paleográfico
— Encantando a
Plateia
— Julgado de Piancó
&... Piancó
— Para Ler Wilson
Introito —
Solicita-nos o historiador José Octávio de Arruda Mello, um dos dois ilustres organizadores
desta coletânea que, depois de tratarmos de Celso Mariz, devemos acrescentar
algumas informações sobre outro grande historiador dos Sertões, Wilson Nóbrega
Seixas — sabendo-se, porém, que Wilson mereceria por si só um capítulo à parte.
Especialista na
História dos Sertões paraibanos, chegou a ser comparado a Capistrano de Abreu,
autor de Capítulos de História colonial e de Os caminhos antigos e o povoamento
do Brasil, entre outras imperdíveis obras. Com isto não concorda o historiador
Guilherme Gomes da Silveira d’Avila Lins, para quem “Wilson é Wilson”, em sua
originalidade e em suas criações próprias, não podendo, conseguintemente, ser
comparado a qualquer outro historiador.
Entre outros
historiadores que também contribuíram para um melhor entendimento do povoamento
interiorano da Paraíba (e dos Sertões nordestinos em geral), encontram-se
Horácio de Almeida, com sua História da Paraíba (dois volumes, Editora
Universitária da UFPB, 1978) e Brejo de Areia (cuja segunda edição saiu também
pela mesma Editora Universitária, em 1980); Elpídio de Almeida (especialmente
com sua História de Campina Grande, segunda edição pela Editora Universitária
da UFPB, João Pessoa, 1978); et alii.
Ainda sobre o
Interior da Paraíba, Horácio de Almeida publicou, nas Edições Históricas do
jornal O Norte editadas por Evandro da Nóbrega em 1984 e 1985, e depois
inseridas por José Octávio de Arruda Mello (organizador) no livro Capítulos de
História da Paraíba (Editora Grafset, Campina Grande, 1987), o artigo “O
elemento humano - Indígenas paraibanos: potiguaras, tabajaras e cariris”.
Embora reconhecendo a
grandeza de seus trabalhos, Wilson corrigiu algumas escorregadelas de Horácio e
de outros historiadores, paraibanos ou não — e, como se verá adiante, corrigiu
SEUS próprios enganos historiográficos, vez que temia mais que tudo induzir a
erros os especialistas mais jovens.
O Velho Arraial de
Piranhas — A contribuição de Wilson Nóbrega Seixas provém especialmente (mas
não exclusivamente) da segunda edição de seu livro O velho arraial de Piranhas
(Pombal), lançado originalmente em 1961, pela gráfica do jornal A Imprensa, de João
Pessoa — mas completamente reformulado pelo próprio Autor, numa reedição que, a
seu pedido, tivemos a honra de coordenar e editar.
Essa segunda edição é
a que se deve levar em conta, pelo que a seguir se esclarece. Nos últimos anos
de vida, Wilson afligiu-se enormemente por constatar erros factuais e de
interpretação em sua principal obra. Chegou a entrar em depressão e, por
intermédio do desembargador Raphael Carneiro Arnaud, convidou-nos para um
entendimento sobre como publicar uma edição aumentada, corrigida e definitiva
de O velho arraial de Piranhas.
Colocamo-nos à sua
inteira disposição — e, juntamente com ele, em seu computador, fomos
pacientemente revisando toda a obra, até chegarmos a um texto final
satisfatório. Mas Wilson faleceu sem poder lançar seu livro, cuja edição já
estava totalmente pronta e acabada. Seu falecimento ocorreu a 11 de março de
2002, em João Pessoa, aos 86 anos de idade e com 37 anos de atividades no IHGP,
onde ocupava a Cadeira nº. 15, cujo patrono é Fernando Delgado Freire de
Castilho.
Dois Lançamentos
Póstumos — Sua viúva, Dona Zélia Carneiro Arnaud Seixas, seus filhos e outros
familiares, enfrentaram todas as dificuldades para que se cumprisse a promessa
de que o livro seria lançado, mesmo postumamente.
Assim é que ela e o
editor da segunda edição da obra (o autor das presentes linhas) promoveram um
pré-lançamento na terra natal de Wilson, Pombal, a 9 de outubro de 2004,
durante a Festa do Rosário daquela cidade sertaneja.
E, em 25 de novembro
seguinte, o então presidente do IHGP, historiador Luiz Hugo Guimarães,
coordenou o lançamento da edição corrigida de O velho Arraial de Piranhas na
sede do Instituto. Atualizada e grandemente ampliada, a nova edição tem 466
páginas (ao contrário das 200 e poucas páginas originais) e saiu pela Editora
Grafset.
Quem falou em nome da
família, durante a solenidade no IHGP, foi o advogado, poeta e escritor
Everaldo Dantas da Nóbrega. Presentes, entre outras personalidades, o
desembargador Raphael Carneiro Arnaud e o médico Antônio Carneiro Arnaud
(irmãos de Zélia); os presidente e diretor da Grafset, José Neiva Freire e
Vladimir Neiva; o cronista Gonzaga Rodrigues; o designer Chico Pereira, autor
da capa; o historiador José Octávio de Arruda Mello (autor de um dos estudos
introdutórios do livro); os pesquisadores Jerdivan Nóbrega de Araújo e Verneck
Abrantes de Sousa (que auxiliaram o editor na atualização completa do texto do
livro).
Por se tratar de obra
importante, comparável, em relação a Pombal e ao Interior da Paraíba, às obras
Brejo de Areia, de Horácio de Almeida, e História de Campina Grande, de Elpídio
de Almeida, a Presidência do IHGP decidiu lançar essa segunda edição em grande
estilo — e encarregou um de seus sócios mais atuantes, o Dr. Joacil de Britto
Pereira, para falar em nome da instituição.
Cumprindo a Promessa
— Com a publicação desse volume, Dona Zélia e todos nós cumprimos solene
promessa feita ao “primo” Wilson Nóbrega Seixas pouco antes de seu falecimento
— a de publicar post mortem um de seus mais importantes livros, O velho Arraial
de Piranhas (Pombal) numa “edição crítica e definitiva” que escoimasse os erros
encontrados pelo próprio Autor, ao longo dos anos, à medida que avançava seu
conhecimento em torno História dos Sertões paraibanos.
Como sempre atuamos
juntos, ele e eu, a partir dos anos 1960, e como Wilson sempre me procurasse
para anunciar suas repetidas descobertas sobre a História do Interior da
Paraíba, inclusive para efeito de publicação de seus artigos ou entrevistas em
O Norte, ele nos depositava muita confiança. Tanto que certa vez, já presa do
mal que o ceifaria, comigo abriu o coração sobre o livro que muitos consideram
sua maior obra, O velho Arraial.
Falou mais ou menos
nestes termos:
— Vou morrer com uma
mágoa: sem publicar uma edição corrigida deste meu livro. Receio que os erros
nele contidos, erros que sou o primeiro a proclamar, levarão a novos equívocos
pesquisadores do futuro e marcarão negativamente o valor de minha já
essencialmente modesta contribuição historiográfica.
Deteve-se, pensativo,
por alguns instantes, para completar: “— A não ser... A não ser que você se
comprometa comigo a publicar uma edição definitiva da obra, sem tais erros.
Mesmo que eu venha a falecer, e acho que isto não está muito distante...”
Protestamos veementemente
contra tal vaticínio. Mas Wilson pensava mais em sua obra do que na vida que
lhe restava: “ — Pois bem, mesmo que venha eu a falecer logo e, portanto, não
possa ver essa nova edição desejada, deixarei todas as indicações para que você
ajude minha família a lançar um volume corrigido. Quer dizer, sem aqueles erros
historiográficos a que me refiro”.
“Fui Induzido a
Erros” — Fizemos ver a Wilson que estava exagerando em muito a extensão de tais
erros — ainda mais porque ele mesmo já publicara, na Revista do Instituto
Histórico e Geográfico Paraibano, muitos artigos que complementavam esse e
outros livros seus. Nada o demoveria, porém, do legítimo desejo de ter
publicada a “edição crítica e definitiva” de O velho Arraial.
Disse também Wilson
que se vira induzido a alguns de seus erros por se haver baseado em demasia
“naqueles padres que escreveram sobre História, padres que sempre foram
teimosamente contrários ao Marquês de Pombal e que puxavam a sardinha para a
brasa da Religião”...
Prova maior disso,
reclamava, é que um desses padres escritores julgava ser a expressão “bom
sucesso” (na designação da antiga Povoação de Nossa Senhora do Bom Sucesso,
futura Vila de Pombal) alusão a um milagre de cunho religioso — quando ele,
Wilson, tinha finalmente em mãos os documentos, a prova irrespondível, a
evidência paleográfica de que se tratava apenas do “bom sucesso” das armas
luso-brasileiras contra os índios bravios da região do Piranhas-Piancó...
Uma Reedição Abortada
— Tais sentimentos antieclesiásticos amainaram um pouco no espírito de Wilson
na medida em que avançava nossa conversa — até porque lhe fiz ver que os sacerdotes
historiadores não podiam fugir ao estado-da-arte do conhecimento de seu tempo.
A determinação de Wilson de deixar uma edição atualizada de seu livro aumentou
quando soube haver sido lançada em Mossoró uma reedição ipsis litteris da obra,
“ajudando a eternizar os erros”...
Os editores dessa
nova cópia mossoroense tiveram a melhor das intenções, ao reeditarem um dos
mais importantes textos sobre os Sertões nordestinos. Ainda assim, Wilson
agradeceu comovido pela homenagem, mas discretamente solicitou-lhes que não
distribuíssem os exemplares, sendo cumprida sua vontade.
Não reclamou
publicamente, não armou escândalo, embora se mantivesse firme na decisão.
Continuava preocupado, no entanto, e exagerava na queixa: “Não posso deixar
este meu livro do jeito que está, eivado de erros!”...
A “Saga” da Edição
Definitiva — Mas, enfim, firmamos com ele o “compromisso de sangue, amizade e
honra” de editar o volume corrigido d’O velho Arraial de Piranhas, cuja
primeira edição, como se viu, era de 1961.
Uma das primeiras
coisas que neste sentido ele devia fazer era mandar digitar o livro inteiro (do
jeito que estava, incluindo os erros alegados) no formato texto em qualquer
outro processador eletrônico.
Por outro lado, no
volume original e também em folhas ou laudas separadas, ele devia indicar os
textos a serem corrigidos, os cortes e/ou acréscimos a fazer — enfim, todas as
modificações necessárias para a montagem da “edição crítica e definitiva”.
Ainda chegamos a
trabalhar nisto, com ele, usando o computador de sua filha Lígia Maria, no
então apartamento 505 da família (quinto andar, Edifício Eduardo Henriques,
Avenida BeiraRio/José Américo de Almeida).
Duas razões nos
fizeram mudar de método: o crescente agravamento do estado de saúde de Wilson e
nossa crônica falta de tempo. Teve ele então a idéia de recorrer a dois outros
amigos e admiradores de sua obra, os pesquisadores Jerdivan Nóbrega de Araújo
(também nosso comum parente) e Verneck Abrantes de Sousa.
Verneck e Jerdivan
nasceram em Pombal e, mesmo residindo em Campina Grande, já eram então
conhecidos estudiosos da História da cidade, sobre a qual haviam publicado
artigos e outros trabalhos de peso.
Zélia, Raphael e
Carneiro Arnaud — Uma das principais tarefas de Jerdivan e de Verneck
consistiu, primeiramente, no escaneamento e na digitação de todo o livro
original e, depois, na introdução das correções desejadas pelo Autor.
Sabe-se, no entanto,
que dificilmente um texto de tal dimensão, uma vez submetido à (re)digitação,
sai incólume de novos erros de datilografia. Para além disto, mesmo os
softwares mais avançados com a tecnologia OCR (optical character recognition ou
reconhecimento ótico de caracteres), utilizados pelos scanners da modernidade,
não são capazes de reproduzir com 100% de acurácia os textos escaneados. De
modo que a primeira versão do trabalho teve que ser devida e exaustivamente
revisada, até se obter resultado confiável — um mínimo de “erros de revisão”,
que livros sem eles não os há ou são raríssimos na História da Imprensa, desde
Gutenberg...
Todas essas etapas —
inclusive as que se seguiriam, já a nosso cargo, de revisão crítica do texto,
correções adicionais, conformação do texto à norma cultura moderna, formatação,
editoração eletrônica, notas etc etc etc — demandaram, como sempre demandam,
grande dispêndio de tempo e, sobretudo, de atenção, até que se conseguisse
trabalho razoavelmente apresentável, pois continua valendo a antiga tese de
que, como no caso dos edifícios, é mais fácil construir um livro novo que
reformar um antigo...
Mas, enfim, estava
pronta a segunda edição — o livro correto, escoimado dos erros. Para a tal
resultado chegarmos, sempre contamos com todo o apoio e estímulo da viúva de
Wilson, Dona Zélia, e dos irmãos dela (cunhados e igualmente admiradores de
Wilson), como o médico Antônio Carneiro Arnaud e o desembargador Raphael
Carneiro Arnaud, da mesma forma que Dona Zélia empenhados no resgate desta já
antiga dívida para com o espírito do notável historiador de Pombal.
Introduções a Wilson
— Para que se valorizasse ainda mais essa “edição definitiva”, houve por bem o
editor e coordenador Geral dos trabalhos não apenas reproduzir o Prefácio da
obra original, a cargo do historiador Celso Mariz, mas igualmente anteceder o
texto atualizado e corrigido de Wilson com alguns estudos críticos a cargo de
outros reconhecidos scholars paraibanos.
Assim é que o leitor
tem a oportunidade de ampliar seu conhecimento em torno do historiador Wilson
Nóbrega Seixas e de sua indispensável obra lendo artigos especiais de Luiz Hugo
Guimarães, José Octávio de Arruda Mello, Humberto Cavalcanti de Mello,
Guilherme Gomes da Silveira d’Avila Lins, Verneck Abrantes de Sousa e Jerdivan
Nóbrega de Araújo.
Uma das mais longas e
substanciais contribuições, no volume em referência, foi aquela justamente
escrita pelo então presidente do IHGP, historiador Luiz Hugo Guimarães — mesmo
porque foi publicada sob a forma de plaquette, constituindo o volume 14 da
excelente Coleção Historiadores Paraibanos, do mesmo IHGP. Os demais artigos
introdutórios são também imperdíveis e indispensáveis à compreensão do livro de
Wilson — e da própria figura do historiador Wilson Nóbrega Seixas.
Tenha o leitor sempre
em mente que, apesar das atualizações recém-procedidas no texto, Wilson Seixas
escreveu esta obra em inícios da década de 1960. Assim, muitas coisas que eram
“atuais” em Pombal à época em que o livro se viu lançado cederam lugar a novas
realidades.
De todo modo, esta
segunda edição constitui livro sob muitos aspectos totalmente novo, inclusive
com o acréscimo de capítulos inteiros, sendo portanto em grande parte muito
diferente, em estrutura e conteúdo, da edição original.
Ao cumprirmos a
solene promessa feita a Wilson, já podíamos dizer: “Resquiescat, Vilsone
Anofrica Saxum, in pace!”... [“Repouse em paz, Wilson Nóbrega Seixas].
Uma História por
Escrever — Como Rosa Godoy e muita gente boa da Historiografia, Wilson também
pensava que a real, autêntica, verdadeira História da Paraíba está quase toda
por escrever. Para ele, “enquanto não contarmos com todo o acervo documental
referente à Paraíba e que se encontra ainda espalhado por vários pontos do
Brasil e do Exterior, não será possível qualquer tentativa para se escrever a
História da Paraíba, de forma a sintetizar sua realidade profunda, objetiva e
institucional”.
E prosseguia, com
carradas de razão:
— Muitos fatos
importantes de nossa História estão ainda nos arquivos, onde jaz muita luz
escondida, aguardando a mão libertadora.
Se antes era tarefa
difícil a realização de qualquer pesquisa, tanto em nosso país, como no
Estrangeiro, hoje, entretanto, isso já não é mais verdade, principalmente se
levarmos em conta o progresso técnico, científico e cultural de nossos dias.
Não procede o
argumento do ilustre historiador Horácio de Almeida, ao afirmar que não era
preciso ir a Portugal para obter informações acerca da História da Paraíba.
Trabalho Paleográfico
— Especializado em História dos Sertões paraibanos, Wilson também se
especializou na leitura de documentos antigos, especialmente os dos séculos
XVI, XVII e XVIII, num trabalho de decifração paleográfica autodidaticamente
assimilado. Sempre baseava suas conclusões em documentos primários. Era expert
em Historia do Sertão, tornandose um dos maiores pesquisadores nessa área.
Seus estudos
aprofundados baseados em prova primária insuspeitável, corrigiram vários
enganos cometidos por sucessivos historiadores que se dedicaram à conquista e
formação do interior paraibano.
Wilson foi, em suas
próprias palavras, “um dos primeiros a divulgar o acervo documental existente
no arquivo da antiga FAFI/UFPB”, onde esteve pesquisando por anos. Ali
encontrou “uma infinidade de documentos e cópias xerográficas”, cedidos pelo
ilustre professor pernambucano José Antônio Gonsalves de Melo.
Tratou de “ler toda
aquela documentação extraída do Arquivo Histórico Ultramarino, em Lisboa, cuja
divulgação permitiu conhecimento de determinados fatos e coisas do nosso
passado, além de oferecer perspectivas para novas interpretações da História
paraibana”.
Tinha elementos,
portanto, para refutar algumas hipóteses e teorias de colegas historiadores,
dentre os quais Horácio de Almeida, sem por eles perder a admiração e o
respeito.
É o que se sabe desde
sempre: a História está o tempo todo sendo reescrita, reformulada. Nos
cartórios do Interior, que pesquisava, especialmente em Pombal, salvou muitos
documentos importantes de serem simplesmente incinerados ou “jogados no mato”
pela ignorância e insensibilidade de uns.
Encantando a Plateia
— Quando das comemorações pelos 500 anos do descobrimento do Brasil, o IHGP
promoveu importante Ciclo de Debates sobre a História da Paraíba. Um dos
palestrantes convidados foi Wilson Seixas, para apresentar painel num seminário
sobre a conquista do Interior paraibano.
Tal conferência está
disponível, juntamente com os debates, no site do IHGP. Sobre ela,
manifestou-se o historiador Guilherme Gomes da Silveira d’Avila Lins,
confessando-se “embevecido” com o que acabara de testemunhar: “O que ouvi aqui
hoje foi uma belíssima, rara e completa história da conquista do sertão,
partindo de quem tem plena autoridade para fazê-lo, porque fundamentou o que
disse em fontes
primárias. Wilson Nóbrega Seixas é uma pessoa por quem tenho o mais profundo respeito e amizade, e quero dizer de público que foi em Wilson Nóbrega Seixas que eu me inspirei para tentar fazer um estudo autodidata de Paleografia, já que ele é um dos grandes paleografistas deste Estado. Essa é a grande vantagem metodológica que ele tem, pois escreve a partir das fontes que ele lê. Vi aqui uma belíssima lição do linguajar do século XVI, nas transcrições documentais que ele fez, falando da ffé, com dois F, de Piancó, com NH e de trechos de frases inusitadas. Uma lição de linguagem do final do século XVII e do início do século XVIII”.
primárias. Wilson Nóbrega Seixas é uma pessoa por quem tenho o mais profundo respeito e amizade, e quero dizer de público que foi em Wilson Nóbrega Seixas que eu me inspirei para tentar fazer um estudo autodidata de Paleografia, já que ele é um dos grandes paleografistas deste Estado. Essa é a grande vantagem metodológica que ele tem, pois escreve a partir das fontes que ele lê. Vi aqui uma belíssima lição do linguajar do século XVI, nas transcrições documentais que ele fez, falando da ffé, com dois F, de Piancó, com NH e de trechos de frases inusitadas. Uma lição de linguagem do final do século XVII e do início do século XVIII”.
E acrescentou o Dr.
Guilherme: — Foi realmente maravilhoso; fiquei transportado para essa época ao
ouvir aquelas transcrições seguras, em que Wilson fala do sistema sesmarial e
remete implicitamente à necessidade do conhecimento da história administrativa
deste país, tão pouco ressaltado e tão necessário para se fazer história.
Wilson Seixas passeia com uma intimidade em cima da História que causa à gente
uma sensação de estar vendo um belíssimo filme com imagens muito nítidas. Fala
de Garcia d’Avila, aquele antigo feitor da Alfândega do Governador Tomé de
Souza, que veio a construir um império e, através dos séculos, estendeu terras
desde Tatuapara, a 14 léguas de Salvador, até o Maranhão, e que tem uma enorme
importância nessa conquista do nosso sertão. Fala no clã dos Oliveira Ledo.
Enfim, não deixa
escapar nem Martim de Nantes com sua Rélation succinte, que, se não fora uma
tradução feita pela Brasiliana em pequeno formato, restaria apenas a raríssima
edição primeira, da qual poucas pessoas viram o texto. Contesta Capistrano,
Horácio de Almeida, Coriolano de Medeiros, o Barão de Studart; não escapa nem
frei Vicente do Salvador, com caranguejos que roçavam a beira da praia.
Julgado de Piancó
&... Piancó — De fato, corrigindo alguns senões de Horácio e Elpídio de
Almeida, Capistrano de Abreu e Coriolano de Medeiros, entre outros; indo além
das noções que antes tínhamos do povoamento e dos caminhos antigos; e
voltando-se para sua própria obra, a fim de também fazer autocorreções, Wilson
nos deu melhor visão de como ocorreu a consolidação da conquista interiorana,
na Paraíba e Estados vizinhos.
Lançou novas luzes
sobre a família dos Oliveira Ledo, avançou no conhecimento das sesmarias e
fazendas de gado, o papel dos paulistas e da Casa da Torre no desbravamento dos
sertões, a continuidade da civilização do couro e o way of life dos antigos
vaqueiros, a formação dos arraiais, das povoações, das cidades...
O historiador
Humberto Cavalcanti de Mello também considerou “brilhante” essa palestra de
Wilson, mesmo para quem já conhecia de perto suas qualidades de pesquisador.
Ele esclareceu os
espíritos, mais uma vez, e de maneira definitiva, sobre a real extensão
jurisdicional do Julgado de Piancó, cuja sede era na atual Pombal (PB), mas que
se estendia por vasto território, abrangendo inclusive Patos, Sousa, Piancó e
até larga área do Rio Grande do Norte, até o Apodi — não se devendo supor,
assim, que tal jurisdição se restringisse ao Vale do Piancó. De modo que o
historiador Rocha Pita estava correto ao afirmar que os desbravadores
paulistas, como Domingos Jorge Velho, estiveram “em Piancó”.
Para Ler Wilson — Uma
boa maneira de iniciar-se no estudo da obra de Wilson Seixas é ler,
primeiramente a plaquette sobre ele produzida pelo falecido presidente do IHGP,
Luiz Hugo Guimarães, na Coleção “Historiadores Paraibanos”.
Depois, é preciso
fazer uma leitura em regra de O velho Arraial de Piranhas, onde há indicações
para o prosseguimento do estudo, tendo em mente que, a bem dizer, a
Historiografia colonial do Interior paraibano repousava nas contribuições de
Celso Mariz, Horácio de Almeida e Wilson Seixas. Nas últimas décadas, recebeu
também o influxo do trabalho impecável do historiador e médico Guilherme Gomes
da Silveira d’Avila Lins.
Há também que compulsar
seu capítulo “A Casa da Torre e o bandeirantismo na conquista do sertão”, entre
as páginas 58-67 do livro Paraíba: Conquista, patrimônio e povo, organizado por
José Octávio de Arruda Mello e Gonzaga Rodrigues [Edições Grafset, João Pessoa,
1993].
Diferente da
contribuição de Celso Mariz, mas com igual importância, ficou-nos o legado de
Wilson, falecido depois de quase 40 anos de bons serviços prestados ao IHGP,
onde foi substituído na Cadeira 15 pelo historiador Luiz de Barros Guimarães.
[A foto de busto de
Wilson Nóbrega Seixas, nesta postagem, foi obtida no perfil do jornalista,
escritor e emérito pesquisador sertanejo Clemildo Brunet de Sá].
* Evandro da Nóbrega, escritor, jornalista, historiador, editor e membro do IHGP (Instituto Histórico e Geográfico Paraibano), a mais antiga instituição cultural em contínua atuação no Estado da Paraíba - [druzzevandro@gmail.com].
Extraído do Facebook.
Extraído do Facebook.
UM APÊNDICE INDISPENSÁVEL SOBRE O HISTORIADOR POMBALENSE WILSON NÓBREGA SEIXAS
Reviewed by Clemildo Brunet
on
7/22/2020 10:09:00 AM
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