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UM CONTO REAL SOBRE PAPAI NOEL


Genival Torres Dantas*

Gostaria de falar sobre as atitudes de relevantes gestos humanitários dentre eles os do Papai Noel que fizeram parte da minha infância, principalmente um fato que me marcou por muito tempo. Lembro-me perfeitamente, final dos anos 50, século passado, inicio dos anos 60, do mesmo século. Começo da Aliança para o Progresso, colaboração técnica e
financeira dos EUA para a América Latina, ação do governo americano John Fitzgerald Kennedy, 1961/1963. Distribuição de leite em pó, roupa do vuco-vuco.  Brasília sendo construída, a indústria automobilística se implantando no país, era o presidente Juscelino Kubitschek de Oliveira, 1956/1961, com seu espírito empreendedor mudando a cara do Brasil e o destino dos brasileiros na conjuntura global.

A infância vivida no sertão paraibano não era nada fácil, uma mistura de estiagens com sol escaldante, escassez de alimentos, sonhos contidos, esperanças distantes, uma realidade vivida com momentos de angústia, desespero e o compasso da espera por dias melhores, rotina de um povo que não tinha outra saída, a não ser esperar. Final de ano era sempre cheio de incertezas, Papai Noel viria ou não nos visitar, sua passagem era uma das mais festejadas, para quem Papai Noel visitava, eu era um desses privilegiados. Muitas vezes os pedidos não eram completos, sempre faltava algo que era objeto de desejo para uma criança como eu com carências efetivas de tantas coisas. Recordo-me, pedi um velocípede, daqueles de três rodas, e recebi um carrinho cujas rodas eram fixas, hoje eu sei (injetado numa mula manca, injetora semi-automática) tornando o brinquedo mais barato e accessível a todos. Indiferente as suas origens de produção, à época não sabia nada disso, foi um verdadeiro Presente de Natal, tinha um sentido muito especial, Papai Noel tinha atendido meu pedido, não dentro da minha expectativa, mas tinha recebido pela primeira vez um presente que não fora confeccionado em lata ou madeira.

No ano seguinte a igreja católica inventou de desmistificar a figura lendária do nobre Papai Noel, prestando um enorme desserviço a imaginação criativa ao nosso mundo infantil, tão necessitado de fantasias. As crianças foram convidadas, com seus respectivos pais, para reunidos na igreja da cidade a receberem seus presentes diretamente daqueles que eram responsáveis pela realização dos nossos sonhos, eliminando, tristemente, com a lenda infantil tão viva em nossas vidas.

Foi uma decepção enorme, Papai Noel não viria mais, mesmo sabendo que não devia esperar continuava alimentando aquela espera anualmente. Agora sabedor da triste realidade, com o terrível fim de uma mitologia idealizada por pessoas distantes do nosso mundo, mas que fazia parte dos nossos anseios passei a ser mais modesto nos meus pedidos, pedindo presentes voltados para o meu singelo mundo e com valores condizentes as condições dos meus esforçados pais, que tudo faziam para substituir o bondoso velhinho naquela época do ano.

O tempo foi passando, já casado e morando numa cidade grande, São Paulo, a maior do país, no coração da metrópole dos sonhos. Tinha deixado para trás minha cidade natal levando a tiracolo o desejo de vencer e um dia voltar, mesmo com toda seca e a desventura que é viver no sertão nordestino. De repente me vi no papel de pai, passei a imitar o meu pai, possuído pelo espírito de Papai Noel e pelo clima da época natalina (nunca saiu da minha cabeça a figura fantástica do velho Noel). Meu filho não tinha idade ainda de pedir nada, mas eu queria me proporcionar o recebimento daquele presente que nunca veio, comprei um velocípede, gora com outra terminologia, motoca de uma marca famosa, de plástico, e presenteei meu filho no seu segundo natal, para desespero dos moradores do andar do prédio em que morávamos, pois, no dia subsequente ao natal fiquei a brincar no corredor do prédio, com o garoto, até ele se cansar de ouvir aquele barulho infernal de uma peça acoplada a uma roda traseira do brinquedo, imitando o barulho de um motor, e os moradores furiosos com minha atitude mais do que infantil, mas simbólica para o meu ego, tinha eu ali realizado um desejo de infância.

Depois de muito tempo, realizei o meu sonho, lutei para conseguir o intento, busquei o meu objetivo por todos os caminhos  e descaminhos, quantos viram seus sonhos, ou mesmo um único sonho não realizado, por questões outras o plano de voo nunca foi executado, se foi não chegou ao destino desejado. Temos que nos contentar com o que obtemos nas nossas buscas, nem sempre é o que desejamos quando conseguimos, porém, se formos suficientemente humildes e aceitarmos o resultado, mesmo que seja inferior aos nossos planos, nos realizamos não completamente, entretanto, aquela realização é de singular importância, não ficamos frustrados nem tristes com o fato. O importante é continuarmos nas nossas buscas e realizarmos nossos sonhos dentro da nossa realidade, Papai Noel está dentro de nós, realize o sonho de alguém, nesse gesto você pode está realizando um sonho seu adormecido num canto do seu mundo de fantasia. O importante não é o quanto estamos gastando na realização de um desejo, mas o quanto de felicidade ele está proporcionado aos nossos e a nós mesmos, muitas vezes ficamos preocupados com o valor material de um presente quando na realidade devíamos nos preocupar com seu alcance sentimental. O maior sentido do presente é o gesto, nunca o seu custo.
 
*Genival Torres Dantas
Escritor e Poeta
UM CONTO REAL SOBRE PAPAI NOEL UM CONTO REAL SOBRE PAPAI NOEL Reviewed by Clemildo Brunet on 12/08/2012 11:57:00 AM Rating: 5

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